Na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a ser celebrada no dia 28 de junho, a Igreja nos convida a rezar pela santificação do clero católico do mundo inteiro. Já é um costume entre nós realizar durante esta solenidade.

A realização desta jornada de Oração e seu estabelecimento para toda a Igreja, se deu por sugestão da Congregação para o Clero ao Papa São João Paulo II, que prontamente a acolheu e estendeu à Igreja Universal, desde a quinta-feira santa de 1995. Foi proposto que fosse realizada na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Uma oração que recorde aos Sacerdotes o desafio de tender para a Santidade, dizia o Santo Padre, “a fim de sermos ministros de santidade para os homens e mulheres confiados ao nosso serviço pastoral”, tendo em vista “conformarem-se cada vez mais, plenamente, com o coração do Bom Pastor”.

Neste ano o Clero de Formosa estará em reunião na cidade de Planaltina de Goiás nos dias 25, 26 e 27 de junho, e no dia 28 teremos uma manhã abençoada com nossos padres diante de Jesus Eucarístico na Igreja Matriz da Paróquia Santíssima Trindade, onde tem como Pároco o zeloso Pe. Jesus Joaquim de Souza. O evento é exclusivamente aos padres. Começando às 9h e concluindo com a santa missa às 11h.

O momento histórico é desafiador para todos os setores da vida humana e para a Igreja também. Os sacerdotes estão nesse contexto e advém do mesmo. Ideias estranhas, contra Deus e desconstrutora do humano, fenda cada vez mais o coração e estraga a compreensão da existência e a finalidade do homem neste mundo. Um perigo que ronda a vida de todos nós.

Ao lado das concepções do movimento da Nova Era (New Age) e da Ideologia de Gênero (Gender), tentam-se formatar uma concepção da existência humana fora dos padrões da visão judaico e cristã que marcou os últimos milênios da história ocidental. Tentam-se abortar Deus da vida das pessoas e relegam a prática religiosa ao panteísmo com o intuito de adorar a natureza (culto ecológico); ou seja, relega o Criador e exalta em seu lugar a criatura.

Ambas concepções são diametralmente contrárias ao que pensamos e realizamos como cristãos. A mentalidade desses dois movimentos está sendo implantada no conjunto da humanidade de forma subliminar (Merchandising), utilizando-se da arte nas suas mais variadas expressões, do ambiente universitário e escolar, além da grande mídia e das novelas e programas de auditórios para atingir a mente coletiva da sociedade. Falam em era pós cristã, era de aquarius, onde o homem será livre da moral, da religião e dos padrões culturais estabelecidos. Desta feita será garantido a todos viverem a real liberdade. A isso chamamos de relativismo, um mundo sem a verdade, sem a luz que liberta.

O efeito dessa ideologia que pretende adequar a humanidade a uma nova forma de vida, incluindo conceitos de pessoa, liberdade e finalidade da existência totalmente adverso do que absolvemos da cultura grega e da prática judaico e cristã. Esse projeto está em curso e já bem adiantado, causando um impacto medonho, assustador nos meios sociais. Tão grande é esta realidade que nos parece, do ponto de vista humano, quase impossível resistir a ela.

O certo é que tal contexto avassalador vem produzindo em larga escala a desconstrução da família e da pessoa humana como um todo. Um caos psíquico vai sendo operacionalizado levando a uma coletiva neurose do ontus, do ser (nuógenia – doença do espírito). Essa desconstrução está formatando o que se denomina de neo paganismo, ou seja, uma sociedade sem Deus com uma vida pautada no prazer pelo prazer. Nesse contexto, as relações são fragmentadas e os valores são derrubados, formando uma sociedade líquida, onde a solidez dos costumes estabelecidos se liquefaz em rapidez inimaginável.

O resultado de tudo isso é o que estamos assistindo: drogas, vícios, suicídios, falsa concepção do humano e uma sociedade vazia e superficial. O que fazer? O que a Igreja pode realizar para ajudar a humanidade a superar a enchente deste rio caudaloso que solapa nossas seguranças e põe em risco o sentido da existência humana? Precisamos acudir o que for possível.

Há três décadas o Papa Bento XVI, na época Cardeal Prefeito para a Congregação da Doutrina da Fé, no meeting de Roma, asseverava que a Igreja seria diminuída, seria relegada às pequenas comunidades. Estes pequenos núcleos, revigorados pela Graça Divina, aos poucos, virão a ser no futuro a proposta do paradigma de sempre, o único a libertar a pessoa humana e conferir-lhe o real sentido da existência: o Cristo Ressuscitado.

Assim, entendo que o sacerdócio ministerial católico, nunca foi tão necessário, como em nossos dias, para ajudar a humanidade a atravessar o deserto e as ruinas deixadas por esses movimentos que induzem ao vazio e à ausência de sentido. A formação dos futuros sacerdotes, e a ajuda aos que hoje atuam, é fundamental para que entendam a dura realidade de morte espiritual das pessoas e as ajudem a reerguerem de seus sofrimentos.

Neste contexto, a Jornada de Oração pela santificação do clero é importante para ajudarmos nossos padres a recuperarem a auto estima sacerdotal. Os referidos movimentos tentam inocular no clero, e na sociedade, o veneno de uma espiral do silêncio a dizer no inconsciente do sacerdote que ser padre não vale a pena, e ser cristão da mesma forma. Triste realidade a combatermos.

Um sacerdote que ama seu ministério não pode esconder esta sua condição, dado que é um homem que representa Deus entre os homens. O que a Sagrada Tradição da Igreja plasmou sobre o sacerdote ao longo do tempo, esta não está derrancado. Ela consagra o perfil do sacerdote no alicerce inamovível da verdade de Cristo. O sacerdote é o amor do Coração de Jesus (Cura d´Ars).

Nos dias atuais, o bom sacerdote não tem tempo para si, pois é solicitado diuturnamente pelos féis que necessitam do amparo do bom pastor. Precisamos de padres espiritual e moralmente sadios para dar vida ao povo que sofre. Para manter as comunidades de pé e cria-las para Deus. Há uma grande busca pelos serviços sacerdotais. O bom padre nunca vai estar fora de moda. Os fiéis querem, e tem necessidade, do padre que celebra piedosamente com fé os ofícios litúrgicos, que atendem as confissões e direção espiritual, que visita os doentes, que evangeliza e ministra catequese. Enfim, o povo tem necessidade do padre, Padre.

Rezemos pelos sacerdotes e pela santidade dos mesmos. Rezemos pelos sacerdotes doentes, idosos e os que sofrem com problemas existenciais e morais. Que todos eles possam descobrir a profundidade do Sagrado Coração de Jesus e esconderem-se nas suas profundidades para melhor testemunhar e propagar o fogo do amor e da justiça. Que a Santíssima Virgem Maria, Mãe do Sumo e Eterno Sacerdote, Mãe de todos os sacerdotes, interceda sempre pela nossa santificação.

Dom Adair José Guimarães
Bispo diocesano de Formosa (GO)