Nascida na cidade de Andradas, situada no Sul de Minas Gerais, Glaucia Garcia de Almeida era uma moça como as demais de sua época. Gostava de passear, viajar, festas e bailes. Tinha até um namorado.
Na juventude, pensou fazer medicina, seguindo os passos do pai, ou aprender piano, semelhante à mãe.
Mas Deus tinha lhe reservado um caminho diferente, que vem trilhando com fidelidade e generosidade. Em 2015, no dia 13 de maio, completará 60 anos de vida religiosa.
O chamado divino aconteceu quando cursava pedagogia, através de um padre que foi na sua escola falar sobre vocações.
“As palavras do padre tocaram meu coração. Cheguei em casa e ao abrir as janelas pude contemplar a lua e as estrelas, a criação de Deus. Pude perceber que tudo tinha sido criado por Ele e para Ele”, contou.
Ao sentir o amor e a ternura de Deus, decidiu consagrar-se a Deus.
A decisão foi tida como absurda por alguns conhecidos, pois seu pai havia falecido e teria que deixar mãe e mais cinco irmãos.
O absurdo foi maior quando anunciou que a opção era pela vida contemplativa, e não por uma vocação ativa, como por exemplo, na área da educação.
A vida de recolhimento foi motivada quando encontrou num livro, em francês, a célebre “História de uma alma”, sobre a vida de Santa Teresinha do Menino Jesus, um santinho de uma jovem clarissa, também de origem francesa, que havia falecido.
“Cada história é a história de uma alma. Já que vou me consagrar, quero dar o máximo para Jesus. Não se pode resistir ao seu chamado”, pontuou.
O pontapé de sua espiritualidade começou quando perguntou: “No Brasil, tem clarissas?”, ao amigo padre de quem tinha ganhado o livro.
Mais que um seguimento, foi o início de uma profunda amizade e partilha com os ideais do pai Francisco e da mãe Santa Clara.
CONSAGRAÇÃO
Com a firme convicção de sua vocação, a jovem Glaucia veio para o Rio de Janeiro em 1955, aos 20 anos, ingressando na Ordem de Santa Clara.
Quando chegou na Gávea, o Mosteiro de Nossa Senhora dos Anjos ainda era emoldurado pela mata Atlântica. O bairro, que na época tinha poucas casas, hoje é repleto de prédios residenciais, comerciais, sociais e educacionais. Em 60 anos, muita coisa mudou. O nome de Glaucia também mudou: passou a se chamar irmã Pacifica. Mas só mudou o nome, porque os votos de fidelidade permanecem, os mesmos que pronunciou no dia de sua profissão religiosa, quando se consagrou totalmente a Deus, pelas mãos do então arcebispo Dom Jaime de Barros Câmara.
“Mesmo indigna e repleta de fragilidade, agradeço a Jesus por ter me chamado. A exemplo da mãe Santa Clara, que deixou em testamento, agradeço os benefícios que recebo pela liberalidade do Pai de todas as misericórdias, o glorioso Pai de Cristo. A minha vocação é toda de Deus”, confessou.
Nos seus 80 anos completos, hoje madre Pacifica exerce a função de superiora, na comunidade composta por 31 religiosas. Entre o cotidiano da missão, de rezar nas intenções do Santo Padre, do cardeal arcebispo e por todas as necessidades da Igreja e do mundo, ainda encontra tempo para ensinar e testemunhar às coirmãs o amor de Deus.
“Jesus nos escolheu, nos ama, nos sustenta, por isso precisamos ser, como nos pediu a mãe Santa Clara e como queria o pai Francisco, de nos amar mutuamente e de ser instrumento de paz e bem para esse mundo tão necessitado, aflito e cheio de sofrimento”, completou.
Irmãs Clarissas
A Ordem de Santa Clara é uma família religiosa fundada por São Francisco e Santa Clara de Assis. Dentro da grande Família Franciscana as irmãs Clarissas são o ramo orante, contemplativo. Sua consagração a Deus está voltada para o silêncio, para a busca da intimidade com Deus! É o seu modo de servir à Igreja e aos irmãos.
LOUVANDO
Antes que o sol desponte, as Clarissas estão cantando os louvores de Deus: são as Laudes, a oração oficial da Igreja, após as Matinas. Depois, durante o dia muitas vezes se reúnem novamente para continuar esta oração tão bela dos Salmos e cantos, que têm o significativo nome de Ofício Divino. É o ofício-trabalho de Deus que as Clarissas empregam.
MEDITANDO
Na vocação contemplativa um espaço maior é dado à meditação. Cada irmã Clarissa é formada para buscar o encontro com Deus. Às vezes numa partilha com as outras: quase sempre sozinha, sempre centrada na Palavra de Deus ou nos escritos de Santa Clara e de São Francisco.
ADORANDO
Por vocação as Clarissas são adoradoras de Deus na Eucaristia. Jesus Eucarístico é como o sol na vida de uma irmã Clarissa.
Por assim dizer, as Clarissas, de manhã à noite giram em torno D’Ele! Iluminadas pela Eucaristia é que começam e terminam seu dia.
TRABALHANDO
Para uma irmã Clarissa trabalhar é uma graça de Deus. Fazem todos os trabalhos simples e humildes da casa, da horta e do jardim e além de outros: confecção de hóstias, paramentos, cartões, imagens, etc.
Se o trabalho se tornou um peso para a maioria das pessoas, não foi assim no plano de Deus.
Santa Clara pede que as Irmãs exerçam a graça do trabalho com fidelidade e devoção, sem perder o espírito de oração.
POBRES
“Como peregrinas e forasteiras neste mundo” as irmãs Clarissas seguem a Cristo pobre sem nada possuir, sem nada reter.
“Com passo ligeiro e pé seguro”, buscam o sentido último da existência: a experiência do novo céu e da nova terra onde tudo é de todos.
CLAUSURA
As Clarissas vivem na clausura. É o jardim fechado, onde escolheram viver a experiência de seu amor exclusivo, esponsal com Cristo. Clausura não é fechamento, mas abertura para o infinito. Não é separação, mas comunhão maior com Aquele e n’Aquele que está presente em tudo e em todos.
IRMÃS
Ser irmã é a mais bela experiência de ser Clarissa. Unidas no amor de Deus que Jesus nos ensinou a chamar de Pai. Na bela espiritualidade de São Francisco e Santa Clara que descobriram na Fraternidade o meio de estar em comunhão com todo o universo, em especial com aqueles e aquelas que são chamadas à mesma vocação.
ESTÃO
As Clarissas estão no mundo inteiro. São mais de 20 mil em quase mil mosteiros unidas pelo mesmo ideal, pela mesma Forma de Vida. Aqui no Brasil são 28 mosteiros.
Fonte : Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro