“Toda vocação sacerdotal é um grande mistério, um dom que supera infinitamente o homem.”
(São João Paulo II)
A vida de todo ser humano é um dom de Deus. “Somos obra de Deus, criados em Cristo Jesus” (Ef 2,10). O ser humano não é uma existência lançada ao absurdo. É antes de tudo criatura amada de Deus. Não existe homem que não seja convidado ou chamado por Deus a uma vocação, mas aqui a atenção será voltada para a vocação ao sacerdócio. Tão sublime vocação! Ensina São João Maria Vianney: “O sacerdote é o amor do Coração de Cristo”.
A primeira reflexão a ser feita deve ser sobre o caráter estritamente sobrenatural do chamado de Deus: foi Ele quem tomou a iniciativa sobre o novo rumo que as vidas dos vocacionados tomarão. Porque não são os vocacionados que escolheram a Cristo, mas sim foi Cristo Quem, de uma maneira especial, escolheu-os para que vão por todo o mundo e levem frutos de santificação e de autêntica vivência cristã, e para que todos os frutos permaneçam como um sinal clarividente da intervenção divina (Cf. Jo 15,16).
A vocação sacerdotal se apresenta por isso como uma eleição providente de Deus, profundamente gratuita, imprevista e desproporcionada a nossos cálculos e probabilidades humanas.
Pode-se afirmar sem exagero que a vocação sacerdotal é o maior presente que Deus pode depositar nas almas. E daqui em diante desejo refletir sobre o papel dos pais diante de tão belo chamado que Deus faz aos vocacionados.
Antes apresentarei a história de um jovem que trago nas lembranças. Um jovem desejava ardentemente ser sacerdote, mas por muitos anos deixou este desejo abafado no coração, porque seus pais poderiam não concordar com tal desejo. Mas, depois de quase 14 anos com este desejo escondido, eis que chegou um certo momento em que não podia mais fugir do chamado de Deus. Decide então deixar tudo e partir para o seminário. Oh que sofrimento passou este jovem! Contar aos seus pais, não tinha forças suficientes, parecia que lhe faltava o ar quando se aproximava deles para contar a decisão. Mas, Deus se ocupou em revelar aos pais de outros modos, pois o pobre rapaz não conseguiu. Enfim, chegou o dia de como um passarinho quando cria penas nas asas, ter que alçar voo e buscar um novo horizonte. Despedir do pai foi quase que impossível. Dirigiu-lhe o pedido de bênção, porém o pai lhe respondeu entre lágrimas e com grande desespero: “Você está me matando meu filho! Não faça isso comigo!” A situação se tornava mais difícil para este jovem que tanto já sofria em seu íntimo. Mas sem nada responder o jovem partiu sem olhar para trás, pois ressoava em seu coração o mandato de Jesus: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus”. (Lc 9, 62). Em outro momento a despedida da mãe, e novamente uma espada é traspassada em seu coração quando escuta de sua mãe: “Eu não tenho mais motivos pra viver!”. Valha-me Deus! Quão fácil seria se os pais desse rapaz lhe concedessem a bênção e apoiassem tão singelo desejo de seguir inteiramente a Cristo.
É notória a dor da separação para os pais bem como para os filhos, mas diante de um chamado de Deus é preciso que ambos exclamem como Santa Teresinha do Menino Jesus: “Para agradar a Jesus, grande é a minha alegria em não sentir alegria!” Portanto, se o filho deseja ser sacerdote, o papel dos pais é acompanhar seu filho no processo vocacional, é conceder a ele a liberdade de Filho de Deus para seguir no caminho de Jesus. Os pais não podem ser uma “pedra de tropeço” na vida do vocacionado, ao contrário devem ser os primeiros a dar apoio e a rezar por ele. Mesmo que venha a dor com a separação, é preciso depositar em Deus todo confiança, pois “Fiel e rico em promessas, Deus não muda. Quem a Deus tem, mesmo que passe por momentos difíceis; sendo Deus o seu tesouro, Nada lhe falta. SÓ DEUS BASTA!” (Santa Teresa D’Ávila).
Oh pais amados de Deus! Olhem a figura de Maria Santíssima, não quis somente para si o Seu Filho Jesus, mas obedecendo aos desígnios de Deus entregou-O para salvação do mundo inteiro. Quanta dor sentiu diante da profecia de Simeão na apresentação do Menino Jesus no Templo: “… e a ti, uma espada traspassará tua alma!” (Lc 1, 35a). Mesmo sabendo das dores que iria passar com a vocação de Jesus como Sacerdote da humanidade, Maria não murmurou nem mesmo quis impedir os planos de Deus para Jesus. Pensem na dor de Maria em ver Seu Filho pregado na cruz, em recebê-Lo morto ensanguentado em seus braços. Suportou tudo com amor e paciência. Bem ensina Santa Teresa D’Ávila: “Antes de dar a dor, Deus dá a paciência”.
Ter um filho que deseja ser sacerdote deve ser motivo de muita alegria, nem mesmo os maiores tesouros da terra podem comprar tão grande alegria. Valha-me Deus! Pensem bem ter um filho “Alter Christus”. Deus me livre está sendo exagerado, mas deveria ser uma alegria tal qual a da Virgem Santíssima ao receber o anúncio do Anjo que seria a Mãe do Salvador, que é Cristo Senhor.
Cristo tem necessidade de cada um dos sacerdotes, como teve de Pedro, de São Tiago, de São João e de tantos outros sacerdotes santos que temos na história da Igreja, como o padroeiro dos sacerdotes São João Maria Vianney. Os sacerdotes são as mãos, os pés, os olhos, a mente, o coração de Jesus Cristo; são os canais e os meios pelos quais Ele vai comunicar-se à humanidade.
Aos pais cabe então a tarefa de ajudar seu filho vocacionado no caminho de discernimento. E qual a melhor forma para isso? Resposta simples e fácil, bem mais fácil do que qualquer cálculo matemático: “É necessário orar sempre, sem jamais esmorecer” (Lc 18, 1). “Orai sem cessar” (1 Ts 5, 17).
Pra encerrar recordo um fato da vida de Santa Teresinha do Menino Jesus, desde criança tinha um grande amor por Deus e logo aos 15 anos de idade quis ser Monja Carmelita. Dirigiu o pedido ao seu pai e este acolheu seu desejo, mesmo sendo ela tão jovem. Levou-a ao Carmelo, mas não teve a possibilidade ser aceita tão nova pelos superiores do Carmelo. Eis que o Sr. Luís Martin, juntamente com suas filhas partem para uma viagem à Itália, encerrando o itinerário por Roma, Teresa tem um grande plano: pedir ao Papa Leão XIII que a deixe ingressar no Carmelo com 15 anos. Seu pai como bom amigo e confidente lhe dá apoio e reza juntamente com as Monjas do Carmelo de Lisiex, onde poderá ser sua futura morada com Cristo. Teresa realiza seu plano e tempos depois recebe a carta dos superiores do Carmelo sendo aceita, mesmo tendo que esperar alguns meses mais para ingressar. Seu pai Martín poderia ter sido uma pedra de tropeço em sua vocação, mas mesmo sendo Teresa tão nova e sendo uma das duas filhas que ainda estavam com ele, visto que as outras já haviam se tornado religiosas, não hesitou em fazer a vontade de Deus que se acendia na vida de Teresa. Oxalá os pais tomassem esta mesma atitude de lutar até o fim pela vocação dos seus filhos que desejam ardentemente servir a Cristo e à Igreja de modo mais radical e total.
Que Jesus Bom Pastor ajude a todos os vocacionados, para que assim como Santa Teresinha possam lutar com a força do Espírito Santo para responder ao chamado de Deus e dizer com alegria: “A minha vida é vontade de Deus”. E que a Sagrada Família seja o grande modelo aos pais, para que estes sejam luzeiros de paz e esperança aos seus filhos que desejam o sacerdócio, pois “a messe é grande, mas os operários são poucos”. (Lc 10, 2)
Por: Seminarista Carlos Neves.