Queridos irmãos e irmãs, hoje nos reunimos para refletir sobre o profundo mistério e a sublime dignidade do Ministério Sacerdotal, ancorado no coração amoroso de Jesus Cristo. O sacerdócio é um chamado divino, uma vocação que transcende a mera função e penetra no cerne do coração humano. Para entender plenamente o papel do padre, devemos mergulhar nas águas profundas do amor de Cristo, um amor manifestado de forma mais eloquente no Seu lado traspassado, de onde jorraram sangue e água.
A origem do lado aberto de Jesus Cristo é um símbolo poderoso na nossa fé. Na tradição oriental, esta imagem é canonizada, estabelecendo um cânon específico para a iconografia desta passagem sagrada. “Mas tenhas fé,” (Cf. Jo 20,27-29) nos diz a Escritura, é um sinal de humanidade com um propósito teológico, referindo-se diretamente ao lado aberto de Jesus. Este ato revela o coração de Cristo, aberto e apaixonado por nós, um convite para que também nós abramos os nossos corações ao Seu amor misericordioso.
O desenvolvimento da devoção ao Sagrado Coração de Jesus encontra seu apogeu nas revelações da monja e mística cristã, Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690). No meio da heresia jansenista, que pregava uma visão rígida e distorcida da graça, o Coração de Jesus foi mostrado como uma fonte infinita de amor e misericórdia. “Meu coração está tão apaixonado de amor pelos homens”, revelou Jesus, mostrando seu coração ardente. Esta devoção nos chama a reconhecer no sacerdote a personificação do amor do Coração de Jesus, um amor que se entrega totalmente pela salvação das almas.
O sacerdote é, acima de tudo, um sacramento vivo do amor de Cristo. O sacramento da ordem não é apenas uma forma de vida, mas uma transformação ontológica que confere ao homem um caráter indelével, permitindo-lhe agir na pessoa de Jesus. Como dizia São João Maria Vianney (1786-1859), Padroeiro dos Padres e dos Párocos: “O sacerdócio é o amor do coração de Jesus”. Assim como o matrimônio é uma forma de vida que une homem e mulher, o sacerdócio é uma forma de vida que une o homem a Cristo, capacitando-o a celebrar os mistérios sagrados da fé, especialmente a Eucaristia.
O sacerdócio nasce na Última Ceia, onde Jesus instituiu a Eucaristia e o sacramento da ordem. Santo Tomás de Aquino nos ensina que o padre é aquele que tem a autoridade para confeccionar a Eucaristia, tornando presente o sacrifício de Cristo em cada Missa. O Concílio Vaticano II reafirma que o sacramento da ordem possui três graus: diácono, presbítero e bispo. Quando um homem é ordenado, ele deixa de ter uma vida privada; ele se torna um sinal sacramental permanente de Cristo. Mesmo quando celebra de forma velada, ele é uma presença pública de Jesus, agindo em nome d’Ele.
Queridos irmãos e irmãs, o sacerdócio é um dom inestimável para a Igreja e para cada um de nós. O padre é um sinal permanente de Jesus Cristo, continuando os gestos e palavras do Salvador. Ele é chamado a ser o amor do Coração de Jesus, derramando-se em serviço sacrificial. Que possamos sempre apoiar, respeitar e rezar pelos nossos sacerdotes, reconhecendo neles a presença viva de Cristo entre nós.
Que o Coração de Jesus, do qual jorra sangue e água, continue a inspirar e fortalecer nossos sacerdotes em sua missão divina. Concluímos esta reflexão com a Oração que Santa Teresinha rezou muitas vezes suplicando ao bom Deus pela santificação dos sacerdotes:
Ó Jesus, Sacerdote Eterno, guardai os vossos sacerdotes no vosso Sagrado Coração, onde nada de mal lhes possa acontecer, conservai imaculada as suas mãos ungidas, que tocam todos os dias o vosso Sagrado Corpo.
Conservai imaculado os seus lábios, diariamente, tingidos com o vosso Preciosíssimo Sangue.
Conservai os seus corações, que selastes com o sublime Sacramento da Ordem, puros e livres de todo o terreno.
Que o vosso amor os proteja e os preserve do contágio do mundo.
Abençoai os seus trabalhos apostólicos com abundantes frutos.
Fazei que as almas confiadas aos seus cuidados e direção sejam a sua alegria na terra e formem no céu a sua gloriosa e imperecível coroa.
Amém!
Artigo escrito por, Padre Joacir d’Abadia, Filósofo autor de 17 livros publicados, pároco da Paróquia São José Operário, Diocese de Formosa-GO.