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sábado, 27 abril, 2024 - 16:21 PM

“SEDE SÓBRIOS E VIGILANTES!” (I Pd 5, 8)

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Uma das características marcantes do nosso tempo é o excesso. Excesso no comer, no divertir-se, no trabalhar, no falar, no barulho, no entretenimento, na internet, no esporte. O que vai na contramão do que nos recomenda a Palavra de Deus: “Sede sóbrios e vigilantes!” (IPd 5, 8). Esta ausência de sobriedade vem gerando um estado de vida marcado por um frenesi contínuo, ao ponto que não sobrar tempo para se pensar e se dedicar às coisas essenciais e importantes na vida: a fé, o apostolado, a comunidade, a família, a oração, a contemplação, o silêncio, o devido descanso. Além de conduzir as pessoas a uma vida dominada pelos vícios.

Não é por acaso que estamos vivendo num mundo de gente cansada, desiludida, em muitos casos consequência de uma mente que não para nunca, que está sempre ocupada, conectada, que está sempre acessa à espera de uma novidade, uma nova aventura, um zap, o campeonato, uma notícia…Mas no fim, o cansaço, um cansaço que vai muito além do físico é um cansaço que atinge a alma. Justo porque no meio de tantas demandas e ocupações falta tempo para dedicar-se a ela com qualidade. Falta tempo para dedicar-se a oração, à formação religiosa, à formação humana, ao estudo, ao convívio familiar, ao encontro com as pessoas, à meditação da Palavra de Deus.

Mesmo quando há a dedicação de algum tempo a estas atividades, elas tem que disputar a atenção, com o celular que ocupa a atenção das pessoas quase vinte quatro horas por dia. Até mesmo na missa, quando estamos conversando com alguma pessoa, já não se presta mais atenção em ninguém e em nada. Pois o importante não são os encontros reais, mas a conexão com o que está longe.

Fomos criados para descansar em Cristo, para viver em comunhão com Ele e com os outros. Não é por acaso que Ele nos convida: “Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei descanso” (Mt 11, 28). Podemos descansar realmente na medida em que entramos na comunhão com Cristo, sobretudo na Eucaristia. Não é por acaso que o Domingo, dia do Senhor, é dia também do descanso, porque é o dia da Eucaristia. Embora para muitos esteja reduzido ao dia do esporte ou da hibernação digital.

Não que o esporte seja algo ruim, muito pelo contrário é até necessário para se conservar em bom estado a saúde. O problema é quando ele se torna o único e principal centro da vida. Ao ponto de desviar o sujeito do devido empenho e comprometimento com sua fé, com a comunidade, com seus deveres religiosos e familiares. Por exemplo, quantas pessoas que há muito tempo abandonaram a prática religiosa, a missa dominical, a oração diária, a confissão, mas que não ficam um dia sequer sem sua academia, sem seu pedal, sem seu zap, sem seu futebol.

Tais ocupações tomaram uma proporção tal em suas vidas que é como se fosse a sua religião, que impõe um ritmo semanal, jejuns e exercícios severos, atenção, tempo, dedicação. Mas não podemos nos esquecer que o homem é composto de corpo e alma, portanto, não basta cuidar do corpo, se por outro lado, não se tem o cuidado de alimentar a alma com a graça de Deus vinda a nós nos sacramentos.

Já nos idos de 1929, quando começou a se propagar no mundo ocidental, este domínio da vida esportiva, sobre a vida religiosa e familiar, o Papa Pio XI, como pastor vigilante, dirigiu aos pregadores quaresmais de Roma o seguinte alerta:

 

Em segundo lugar, procurem promover, defender o cumprimento dos deveres religiosos, paroquiais, quero dizer todo o magnífico conjunto que é a vida paroquial, a frequência, a assiduidade, a diligência – ao menos na medida indispensável – a instrução religiosa, todas coisas verdadeiramente ameaçadas ou, pior, já mais ou menos danificadas pelo excesso daquele movimento que, com a palavra não italiana, se chama ‘sport’. Excessos que tornam não educativo, nem higiênico, enquanto põem um obstáculo, não digo somente ao prosperar, mas também ao mais necessário viver e desenvolver de outras atividades humanas essenciais[1].

Aqui vale ressaltar que esta advertência do Santo Padre foi feita num momento no qual as práticas esportivas não tinham ainda alcançado dimensões econômicas e ideológicas tão vastas como em nosso tempo. Basta pensar por exemplo a cifras astronômicas com as quais famosos jogadores de futebol são vendidos e comprados, um verdadeiro insulto aos pobres. Ou ainda, toda instrumentalização da copa do mundo deste ano de 2022 em vista de difundir a ideologia de gênero, ou mesmo impô-la àquelas nações que não se permitiram ainda dominar por este grave delírio.

 

[1] G. CONCENTTI, La predicazione nel magistero pontificio, Vita e Pensiero: Roma, 1966, p. 328.

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