Passando pela paixão e a morte se chega à glória da ressurreição
Devido a nossa condição de criaturas compreendemos com dificuldade as coisas terrenas, mesmo com o avanço da ciência, há muitas inquietações para as quais ainda não temos respostas. Quanto mais difícil então é para nós compreender as coisas celestes, divinas, sobrenaturais. Por isso, Jesus Nosso Senhor vai se revelando aos seus discípulos aos poucos, iluminando as suas mentes e abrindo-lhes o caminho da fé. É a pedagogia de Jesus, que aos poucos vai introduzindo os seus no mistério de Deus, como fez com Pedro, Tiago e João na transfiguração.
Mas podemos nos perguntar: Que sentido tem o evangelho da transfiguração situado em pleno tempo quaresmal, tempo voltado para a penitência, o jejum e a oração? Tem todo sentido, uma vez que estas importantes práticas quaresmais nos ajudam a vencer as trevas e o fermento da maldade em nós e fora de nós. Jesus que se mostra transfigurado, ou podemos dizer, iluminado diante dos seus discípulos, antecipa aos olhos dos mesmos o seu triunfo, sua vitória sobre toda espécie de trevas, de pecado, de mal e de morte. Nosso Senhor se revela, pois, como a luz que vence todas as trevas.
Ou seja, Nosso Senhor ao se transfigurar diante dos seus discípulos quis lhes mostrar que passando pela paixão e a morte se chega à glória da ressurreição. E que o caminho do Mestre está reservado também para os seus discípulos também temos que passar pela paixão, pelo sofrimento pela morte, mas em Cristo chegaremos à glória da ressurreição.
De modo que o tempo quaresmal como tempo de renovação das promessas do batismo, vem nos recordar e nos convidar a reacender a chama da fé, da luz divina que um dia recebemos em nosso batismo que nos fez participantes da morte e ressurreição do Senhor. Pois não foi somente a Pedro, Tiago e João que o Senhor iluminou com a luz do seu rosto. Todos aqueles que já passaram pelas águas do batismo foram iluminados por Cristo, por sua luz salvadora.
Assim, a quaresma assume também o aspecto de ser um tempo de iluminação, que culminará na noite santa da Páscoa, na vigília da Luz, na qual renovaremos as promessas batismais e o compromisso de assumir a vida nova a qual o Senhor nos chama. Somente assumindo esta vida nova, ajudados pela graça de Deus, podemos ser qual o Senhor – Luz do mundo. Ser batizado é ser iluminado, é ser para o mundo portador da luz salvadora de Jesus Cristo.
Bem sabemos, por experiência própria, que tantas vezes ofuscamos esta luz com as trevas dos nossos pecados, que escolhemos muitas vezes caminhos de morte, enquanto o Senhor nos propõe o caminho da vida. Pois Ele veio para nos dar a vida, assim o confirma São Paulo: “Ele não só destruiu a morte, como também fez brilhar a vida e a imortalidade por meio do Evangelho” (IITm 1, 10).
Mas se Jesus já destruiu a morte porque temos ainda que passar pela morte? Esta permaneceu como salário do pecado, “Porque o salário do pecado é a morte” (Rm 6, 26). Enquanto que o salário da fidelidade e da pertença a Cristo é a vida, a ressurreição, a vida eterna: “e a graça de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6, 26).
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Gn 12, 1-4a/Sl 32 (33)/
Evangelho: Mt 17, 1-9