Dom Adair José Guimarães
Bispo de Formosa – Goiás
“Eis a luz de Cristo! Demos graças a Deus!”
Amada Família Diocesana, irmãos e irmãs que nos seguem virtualmente,
Ressuscitou verdadeiramente! Aleluia! Aleluia! Aleluia!
Com júbilo, saúdo com votos de santa Páscoa a todos da nossa amada família diocesana, sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas, pessoas de especial consagração, lideranças, seminaristas, servos dos diversos ministérios e serviços, colaboradores, famílias, idosos, doentes, pessoas em estado de viuvez ou solteiras, jovens, crianças e irmãos que nos seguem em nossas mídias sociais. Uma saudação especial aos que serão mergulhados em Cristo pelo batismo na noite da Vigília Pascal, a “mãe de todas as vigílias” (Santo Agostinho).
Após dois anos de incertezas, obscurantismos e demandas diversas, a vida começa a ganhar seu curso de normalidade no mundo todo, não obstante as guerras em diversos lugares que produzem dor, fome, migração, inflação, desolação e morte.
Após dez anos de perseguição e impossibilidade de render culto a Deus, no último domingo 03 de abril, mais de 25 mil católicos puderam iniciar a Semana Santa no Iraque, com a Missa de Ramos na Paróquia São João, distrito de Hamdaniya em Quaraqosh. Uma grande bênção depois de tantos anos sem a Santa Missa. Atualmente a Comunidade Católica no Iraque é de cerca de 300 mil fiéis. Na ocasião da segunda invasão dos Estados Unidos em 2004, os católicos somavam cerca de um milhão e meio. Com a ascensão do Estado Islâmico em 2014, os massacres aos milhares, destruição de igrejas e fugas em massa reduziram drasticamente nossos irmãos católicos naquelas terras. Inicia-se um esperançoso alvorecer pascal para aqueles católicos em diáspora.
A certeza da vida nova, inaugurada pela Ressurreição de Nosso Senhor, nos coloca em prontidão para continuarmos trilhando o caminho da esperança, que supera o medo e nos habilita com a coragem que vem do Divino Espírito, derramado em nossos corações. Diante dos obstáculos, a palavra de Jesus é sempre motivadora: “No mundo tereis tribulações, mas tendes coragem: eu venci o mundo” (João 16,13).
Somos chamados a renovar nossa coragem e nosso amor a Jesus Ressuscitado. Ele é real e podemos fazer a experiência pessoal d´Ele, através da nossa conversão, arrependimento e entrega. Esta experiência se dá no nível profundo da fé, na comunhão viva com Ele, nosso Esposo e Senhor. Desta experiência brota o mais autêntico desejo de evangelizar, de levar o Cristo que está em nós aos outros que ainda não se entregaram a Ele. Sem Ele as pessoas vivem às apalpadelas, pois as coisas do mundo não são capazes de preencher nossas vidas e, por isso não podem dar segurança a ninguém. A alma unida ao Ressuscitado supera todos os desafios e vive a alegria da esperança que vence os espectros de morte presentes nesses tempos opacos.
Neste Domingo da Ressurreição o refrão do Salmo de Meditação (117) expressa nossa alegria por celebrar a Santa Páscoa de Cristo: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos”. Os cristãos, desde o início, compreenderam que existe uma alegria diferente daquela oferecida pelo mundo. Trata-se da alegria pascal que dá sentido também aos sofrimentos e às dolorosas situações de cruzes que muitos experimentam nesta vida passageira. Essa alegria é perene e possui o condão da eternidade.
“A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos (Evangelii Gaudium, no. 01, Papa Francisco).
Isso mesmo, a atividade evangelizadora da Igreja precisa ser sempre redirecionada na esteira da alegria dos corações que experimentam Jesus. Quem se deixa tocar pelo Ressuscitado nunca mais será a mesma pessoa. Assim como em Deus há um movimento amoroso sempre para fora, em favor de, nunca ao contrário, o convertido passa a viver essa dinâmica do fluir amoroso de Deus, preocupando sempre com os que necessitam experimentar esse amor que vem de Deus. Deus é amor! Quem ama a Deus movimenta em direção dos outros para amá-los sem medida (1 João 4,7-21).
Necessitamos retomar nosso ardor missionário e evangelizador. Muitas pessoas estão sofridas e afastadas das comunidades, sem ouvirem a Palavra de Deus e sem receberem os sacramentos. Os grupos, pastorais, movimentos, serviços, ministérios e outros mais precisam retomar bravamente suas atividades. Precisamos desenvolver o que o Papa Francisco sempre tem chamado nossa atenção: a proximidade, a escuta, o sentir o outro e suas dificuldades. Nosso amor vem da Páscoa de Cristo Rei, vencedor e servidor, que nos impulsiona com amor à missão. O outro é um dom de Deus para cada um de nós.
No centro desta alegria pascal estão os que foram renascidos pelo batismo na noite santa. Rezamos por eles nas orações eucológicas durante a preparação quaresmal e o faremos neste tempo favorável até Pentecostes. O batismo é a pujança da vida nova que suplanta a morte e o pecado.
Santo Agostinho celebrou a Páscoa ao longo de toda a sua vida. Certamente nunca deixou de recordar a noite de 24 para 25 de abril do ano 387, na qual ele recebeu o batismo e se revestiu de Cristo para ser uma nova criatura em Deus, tornando realidade as palavras que ele havia lido no códice do Apóstolo Paulo no jardim de Milão, obedecendo à voz que dizia: “tolle, lege” (pegue e leia!), porque lá tinha recebido o convite para «despojar-se das obras das trevas e revestir-se com as armas da luz» (Rm 13,13).
O tempo pascal é um convite e chamado de Deus à santidade para cada um de nós; dom já recebido no batismo. Para santo Agostinho, a Páscoa é a festa da vida. O cristão é chamado para morrer para sua vida de pecado e ressuscitar para uma nova vida, uma vida plena com Cristo. Então, no dizer deste Santo, em um dos seus sermões de Páscoa, é necessário morrer para o homem velho e para o pecado, para viver em Cristo. Somente neste caminho, quando chegar a morte corporal, poderemos realmente viver com Deus: «Creia, você que já é batizado: a velha vida já morreu, a morte foi recebida na Cruz e sepultada no batismo. A vida antiga, na qual você experimentou o mal, foi enterrada. Ressuscite para a vida nova! Viva bem! Viva para viver! Viva de maneira que, quando você morrer, não morra» (Sermão 229).
Gratidão a todos desta nossa família diocesana. Sintam-se abraçados por este irmão mais velho que ama a todos e, juntos, possamos evangelizar, catequizar, pastorear, cuidar e zelar das pessoas, sobremaneira dos pobres e pequenos, que necessitam de nosso amor e de nossa solidariedade. Cristo continua a ser perseguido, crucificado e morto nos irmãos e irmãs que padecem injustiças, mal tratos, abandonos, fome, bem como nas crianças que são mortas no ventre materno através do aborto. “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Abracemos a vida nova, a vida que não passa, o Ressuscitado.
Que a Santíssima Virgem, a Imaculada, Rainha das Vitórias, nossa excelsa Padroeira, vele sempre por esse abençoado rebanho da Diocese de Formosa e acolha na porta do céu os que nos precederam na missão.