“E todos ficaram cheios do Espírito Santo…” (At 2, 4)
A solenidade que ora celebramos, Pentecostes, marca o tempo da Igreja, o tempo da misericórdia, o tempo da fé, o tempo da efusão do Espírito da verdade que “nos dá a conhecer o verdadeiro Deus, nos une numa só fé” e que enche os corações dos fiéis com a efusão dos seus dons e dos seus frutos. É este Espírito que tem conduzido a Igreja ao longo da história conservando nela e no coração dos fiéis a verdade salvadora do evangelho, afim de que não sejamos confundidos pelo erro e pela mentira.
O mesmo Espírito Santo que pousou sobre os apóstolos em Jerusalém, também foi nos concedido no dia do nosso batismo e fomos robustecidos com sua efusão no sacramento da Crisma. É Ele quem sustenta a vida moral do cristão, afim de que seja agradável a Deus (CCE, 1832). Sem o vigor do Espirito Santo não poderíamos ser fiéis aos mandamentos divinos.
Mas para estarmos cheios do Espírito Santo temos que nos esvaziar das vontades rebeldes, dos desejos impuros, da cobiça, do fermentado da maldade, da injustiça, da soberba, da mentira, do espírito mundano, do espírito do mal. Sem este esvaziamento impedimos que o Espírito Santo de Deus seja operante em nós. De modo que a vida de quem não está sob o domínio do Espírito Santos, mas sob o domínio do pecado é como terra devastada, sem vida, sem esperança, sem liberdade.
Nestes dias que precederam esta grande solenidade foi bonito ver nossas paróquias, casas e ruas, ornamentadas em tom de vermelho com suas bandeirolas, camisetas flâmulas, bandas e cortejos. Contudo, é preciso dizer, não podemos ficar apenas no aspecto exterior desta grande celebração. Devemos fazer sim os festejos, ornamentar nossas casas, paróquias e cidades, desde que esta manifestação exterior seja o reflexo de um laborioso trabalho espiritual e interior para ornar os nossos corações e nossas almas com os dons e os frutos do Espírito Santo.
Afinal, São Paulo nos diz que somos templos do Espírito Santo (Icor 6, 19). Este templo precisa ser ornado com os dons da sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus. Noutras palavras, a solenidade que celebramos é ocasião para deixarmo-nos converter pelo Espírito Santo, para abandonar os ídolos que nos escravizam de tantas maneiras, para seguirmos com sinceridade e na verdade o Deus único e Verdadeiro, em Jesus Cristo Nosso Senhor.
Será de fato pentecostes se, cheios do Espírito Santo, irmos superando as divisões entre os fiéis, entre os pastores, entre os que creem em Cristo, as divisões na família, na sociedade. Ou mesmo as divisões interiores que dilaceram o coração. Sobretudo, o coração daqueles que ainda não se decidiram por inteiro por Nosso Senhor.
Se estamos cheios do Espírito Santo, seus frutos precisam aparecer em nossa vida, palavras, atitudes, pensamentos, desejos, ações. E seus frutos são: caridade, alegria, paz, paciência, longanimidade, bondade, benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência e castidade (CCE, 1832). Como podemos ver, os frutos do Espírito Santo constituem um autêntico programa de vida cristã que contrapõem-se aos vícios que dilaceram a vida do homem e sua comunhão com os irmãos e com Deus.
Ao crescente desamor e indiferença entre as pessoas e destas para com Deus se contrapõe a caridade; à tristeza e desilusão, se contrapõe a alegria; à perturbação, angústia, tribulações, se contrapõe a paz, nascida da presença do Espírito Santo dentro de Nós. À crescente impaciência se contrapõe a paciência, própria dos que sabem esperar em Deus; à mesquinhez e à maldade, contrapõem-se a longanimidade, a bondade e a benignidade. Ao espírito de violência e hostilidade se contrapõem a mansidão; ao espírito de rebeldia e infidelidade se contrapõe a fidelidade. Ao erotismo, à promiscuidade, luxuria e falta de pudor no vestir, no falar e no viver, nos espetáculos, nas músicas, contrapõem-se a modéstia, a continência e a castidade.
Isto significa estar cheios do Espírito Santo. Supliquemos, pois, ao Senhor, com fervor, que não nos deixe faltar o dom do Seu Espírito e que nós, da nossa parte, sejamos dóceis a sua ação, para que a face desta terra seja renovada; para que nossas vidas, nossas famílias, nossas paróquias, nossas comunidades, nossa sociedade sejam transformadas. Afim de serem agradáveis a Deus.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: At 2, 1 – 11 /Sl 103 (104)/ Icor 12, 3b-7.12-13
Evangelho: Jo 20, 19 – 23