Jesus subiu ao monte, para orar a sós. A noite chegou, e Jesus continuava ali, sozinho” (Mt 14, 23)

Não deixa de nos impressionar quando o Evangelho nos diz que Jesus orava, e orava por muito tempo: “Jesus subiu ao monte, para orar a sós. A noite chegou, e Jesus continuava ali, sozinho” (Mt 14, 23). Será que Jesus tinha necessidade de orar? Sendo Ele o Filho de Deus, em plena comunhão com o Pai e o Espírito Santo, tinha necessidade de rezar?

Ora, Nosso Senhor Jesus Cristo é “Verdadeiro Deus e verdadeiro homem”, assim professa a fé da Igreja, a nossa fé, a fé dos cristãos. Como Deus certamente Ele não tinha necessidade da oração. Como Deus Ele é o destinatário das nossas orações e súplicas. A exemplo de Pedro que, tomado pelo medo recorre a Ele: “Senhor, salva-me!” (Mt 14, 30).

Contudo, como homem, como Nosso mediador diante do Pai o Senhor coloca-se em oração. Não resta dúvidas que é a oração sacerdotal de Jesus que sustenta a Igreja na travessia da história. Nisto reside a nossa esperança. Por mais obscuro que seja o momento atual, por mais que se intensifique a perseguição à fé e aos que creem; por mais que se multiplique as heresias, a apostasia; por mais forte que seja os ventos contrários, a Igreja não sucumbirá. Porque ela é sustentada, pela oração do Senhor.

O Senhor ora ainda para nos dar um exemplo de oração, para nos recordar que devemos viver num constante estado de louvor, ação de graças a Deus do qual provém todas as coisas; e num espírito de intercessão e impetração por nós, por toda a Igreja e por todo o mundo, que necessita constantemente do socorro de Deus, sem o qual não podemos viver.

A nossa oração é participação e continuação na e da oração do Senhor. Ademais a oração é um dos mais profundos gestos de humildade, é sinal do reconhecimento da soberania de Deus sobre nossas vidas, sobre a Igreja e sobre o mundo. Somente os homens humildes tem tempo para a oração.

Os soberbos e prepotentes, pelo contrário, estes acham que vão mudar o mundo e sustentar a história somente som suas forças, com seu trabalho sua inteligência, suas virtudes, sua bondade. Por isso excluem Deus do seu horizonte. E por mais que trabalhem parecem cada vez mais distante do seu ideal de uma vida melhor.

A oração é ainda expressão da nossa fé, da nossa confiança em Deus, é o exercício da esperança, como nos lembra o Papa Bento XVI: “Primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança é a oração. Quando já ninguém mais me escuta, Deus ainda me ouve. Quando já não posso falar com ninguém, nem invocar mais ninguém, a Deus sempre posso falar”(Spe Salvi, n. 32). Se tem, pois, uma realidade que pode mudar a nossa vida, mudar o mundo, mudar o rumo da nossa história, é a oração.

Enquanto houver no mundo homens e mulheres que oram, que deixam suas vidas, suas palavras, suas ações, serem moldadas pela oração, ainda há esperança. Os maiores benfeitores da humanidade não são os ativistas disto ou daquilo, são as almas que rezam. Sobretudo, a oração que performa a vida por inteiro, tornando a face do mundo melhor, mais humana, mais solidária, mais partilhada, mais compreensiva, marcada pela abertura à reconciliação, ao perdão, a conversão ao temor de Deus.

A oração é, pois, caminho seguro para a salvação e para a transformação do mundo. Mas para tal é preciso deixar que o que professamos na oração transforme a nossa vida para que a vida do mundo seja transformada. De modo que, oração e conversão andam juntas. O que se intui na oração precisa ser proclamado no mundo na forma do testemunho da vida.

 

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: IRs 19, 9ª.11-13ª/Sl 84 (85)/ Rm 9, 1-5
Evangelho: Mt 14, 22 –33