XX Domingo do tempo comum

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“Vim lançar fogo e divisão sobre a terra”

No evangelho de hoje nos encontramos diante de algumas afirmações desconcertantes de Nosso Senhor: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra…” e “Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão” (Lc 12, 49-51). Muitos podem achar que estas afirmações de Jesus sejam absurdas e contrárias ao espírito conciliador do cristianismo. Mas definitivamente não!

Não nos esqueçamos que o príncipe deste mundo é o Demônio e que os que passam a vida o servindo se fazem inimigos de Cristo e do seu evangelho. De modo que estas afirmações, firmes e claras de Nosso Senhor, são uma exortação para nos fazer compreender que a mentira não pode andar junta com a verdade; o amor não pode reconciliar-se com o ódio; que o vício e a virtude são inimigos; que o bem é superior ao mal.

Sendo assim, o advento de Nosso Senhor na história, com sua encarnação, necessariamente é foi um lançar fogo sobre a terra, o fogo do amor para dissipar a frieza do ódio que mata e dilacera os corações humanos. O fogo da verdade que desmascara o cinismo da mentira. O fogo da virtude que rompe com as trevas e a escuridão dos vícios.

Como precisamos que este fogo que vem do Senhor continue acesso para clarear este mundo lameado pela falta de visão, porque se encontra envolto em grande escuridão. Este fogo do Senhor precisa permanecer acesso no coração de todos e cada um dos fiéis para irradiar no mundo, com seu testemunho a verdade salvadora do evangelho expressa pela fé católica. Deixemos, pois, que este fogo do Senhor faça arder o nosso coração, afim de que possamos amar tudo em Deus e amar a Deus acima de tudo; para que possamos desejar ser fiéis a Deus e suas promessas acima de todo e qualquer desejo terreno.

Uma vez arrebatados, purificados pelo fogo abrasador de Nosso Senhor Jesus Cristo temos condições de nos colocar em divisão em relação a todos àqueles e àquilo que se opõe a Ele. Aderir a Nosso Senhor de corpo, alma e coração, requer, necessariamente que nos coloquemos em divisão com o pecado e com as estruturas, mentalidade, culturas que o promovem.

Como discípulos do Senhor temos sim que estar divididos em relação aqueles que promovem o assassinato de crianças ainda no ventre materno ou qualquer outra espécie de violência contra o ser humano, que Nosso Senhor veio redimir. Como católicos, temos de estar divididos sim em relação aqueles que promovem ideologia de gênero, que atacam o matrimônio e a família, que disseminam as drogas, as desordens morais que ferem e matam a nossa juventude.

Como discípulos de Jesus temos que estar divididos sim em relação àqueles que promovem uma política injusta, ditatorial, ateia que exclui Deus e seus mandamentos das leis que regem os povos, que sufocam a liberdade religiosa, que oprimem os pobres e pequenos. Como cristãos católicos temos que estar divididos sim em relação às religiões falsas que transformam os homens em escravos do demônio ou que usam as necessidades dos pobres, enfermos e aflitos, com ofertas falsas de cura e de prosperidade, afim de explorá-los economicamente e arrancar a verdadeira fé dos seus corações.

Não resta dúvidas que, diante das calamidades do mundo, do cinismo do mal, temos que clamar o fogo do Senhor, para que venha renovar a face deste mundo. Que venha inflamar o nosso coração com o fogo do Seu amor e da sua verdade, para que assim tenhamos forças para pormo-nos em divisão em relação às estruturas odiosas e anticristãs, que escravizam o ser humano, valendo-se da mentira, desviando-os da esperança que temos em Cristo, no qual podemos sair vencedores sobre qualquer espécie de mal e de pecado.

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Jr 38, 4-6.8-10/Sl 39 (40)∕Hb 12, 1-4
Evangelho: Lc 12, 49-53