A vida do homem é para o culto de Deus
A vida presente é um dom magnífico que recebemos de Deus, pelo qual devemos cuidar com responsabilidade. Mas ainda maior e mais extraordinário é o dom da vida eterna, do qual a vida presente é apenas uma sombra, uma imagem. Estes dois dons não estão separados um do outro, uma vez que a vida eterna começa no batismo e chegará ao seu cume na glória dos céus.
Dada a nossa condição de batizados, membros de Cristo e da Igreja, a nossa vida presente deve estar já agora marcada pelos reflexos, pelos sinais de quem tem esperança dos Céus, através do testemunho de uma vida santa, de uma caridade eficaz e do culto devido a Deus (Cf. CCE 1273). Disto decorre que a vida do homem é para o culto de Deus, não para o pecado.
Consequentemente, à medida em que cresce nosso desejo de Deus se intensifica a luta contra o pecado. Por outro lado, quanto maior o domínio do pecado sobre nós, tanto mais se enfraquece nosso desejo de Deus. O exercício do desejo de Deus passa por sacrificar as vontades rebeldes, passa pela ruptura com o estilo de vida proposto pela cultura dominante.
Isso mesmo! Viver para Cristo comporta morrer para o mundo. Nisto consiste o morrer, o renunciar a si mesmo, o tomar a cruz ao qual o Senhor nos convida. Não basta carregar o nome de cristão, de católico, é preciso morrer para o mundo e viver para Cristo.
Ser católico é um estilo de vida que comporta conformar-se com Cristo e com seu evangelho. Porém, conformar-se com Cristo significa estar em inconformidade, na contramão da mentalidade dominante, o que nos poderá colocar em colisão com os costumes depravados, com os vícios, com as corrupções próprias da cultura presente.
Conformar-se com Cristo comporta amar como Ele amou, passa por oferecermos a nossa vida como “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual” (Rm 12, 1). Eis a grande razão da nossa vida neste mundo. Não prestamos o culto devido a Deus somente quando estamos na Santa missa. Certo que a santa missa é o ponto alto deste culto, contudo ele se estende para todos os outros âmbitos da nossa vida.
Exercer com honestidade a própria profissão, assumir com amor e responsabilidade os deveres na família, na sociedade, formar-se bem para o exercício da profissão, trabalhar pelo estabelecimento de uma sociedade mais justa e fraterna, partilhar os poucos bens que temos para socorrer quem está em grave dificuldade, é também prestar um culto agradável a Deus. Renovar nossa maneira de pensar, de julgar e de viver é prestar um culto agradável a Deus.
Não podemos pensar como o mundo quer que pensemos. Estamos num tempo no qual se impõe cada vez mais a ideologia do pensamento único de cunho progressista, que se levanta com violência contra quem quer que seja, que ouse pensar diferente. Não permitamos que esta tirania nos roube a fidelidade a Cristo, ao evangelho, à fé da Igreja.
O Cristão não pensa, não julga e não age segundo a sua vontade, nem segundo a vontade tirânica dos poderes e das ideologias dominantes. Mas em tudo procura pensar, julgar e agir segundo Deus, segundo Cristo, segundo o Evangelho. Enquanto os poderes tirânicos dizem que o aborto é um direito, diremos sempre é um pecado que brada ao céu. Enquanto a tirania diz que nascemos indefinidos e podemos escolher ser o que quiser; nós cremos que nos criou únicos ou como homem ou como mulher, que somos conforme Deus quer.
Enquanto a cultura ateia do nosso tempo diz que Deus não importa na vida do homem, nós reafirmamos, pela fé e pela vida, o primado de Deus sobre nós e sobre este mundo. Enquanto as leis iniquas tutelam a união entre pessoas do mesmo sexo; nós cremos que o matrimônio “é uma comunhão de vida entre o só homem e uma só mulher”. Enquanto a mentalidade consumista considera os pobres, os doentes, os fracos, os pequenos, como a escória do mundo, nós afirmamos que eles são tesouros de Deus. Isto é morrer para o mundo e viver para Deus, é perder a vida para encontra-la em Deus.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Jr 20, 7-9/ Sl 62 (63)/ Rm 12, 1-2
Evangelho: Mt 16, 21 – 22