Sexta-feira da VI Semana da Páscoa
Evangelho – Lucas 1,39-56

De quem é o Encontro? Jesus se encontra com sua mãe

Na Festa da Visitação de Nossa Senhora onde se ouve no Evangelho: “Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade da Judeia” (Lc 1, 39) podemos também nós “dirigirmos apressadamente” os nossos olhos para Maria que sai de casa para encontrar com seus parentes. A vida desta Mulher foi sempre de encontro como se pode observar na 4° estação da Via Sacra: “Jesus se encontra com sua mãe”. Rezamos: “Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos / Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo”.

Na via Sacra de Jesus Cristo, “Mãe e filho se encontram e se abraçam em meio à dor”. Na minha Via Sacra com Jesus não é tão diferente. Eu me encontro com minha mãe. Neste encontro aparece o “encontro” e o “abraço”. No entanto, parece-me que entre ambas as palavras faltam alguma coisa.

Quando Jesus, carregando sua cruz, encontra com sua mãe, sente uma fortaleza interior muito forte. Percebe-se acolhido por ela; sente que não está sozinho. Ele poderia até mesmo recordar das palavras de sua mãe: “seu pai e eu estávamos angustiados a tua procura”. É o mesmo que lhe falasse: “guardamos por você um enorme carinho, não faça isso mais”. Aquele foi um encontro onde mãe e filho se reconhece em uma dimensão divina. Jesus estava cuidando das coisas de Deus. Por outro lado, sua mãe percebe que aquela ação não era meramente humana. Ela se cala.

Através do silêncio de Maria, vejo-me na gratuidade, olhar também para aquele abraço, o qual confirmou o “encontro”. Mãe e filho se abraçam. Ainda aqui reina o silêncio.

Quem quebra este silêncio é o próprio filho, ainda que em seu último instante de vida, ao dizer: “mulher eis aí teu filho”. Quebra um silêncio abrindo-se outro. Sua mãe continua calada.

Já encontrei minha mãe várias vezes e de diversos modos. Encontrei-a… feliz, com rosto sombrio, angustiada, sofrendo dores, preocupada com meu bem estar no seminário. Enfim, sempre a encontrei manifestando seus gestos. Às vezes, feliz; outras vezes não. Todavia, sua boca nada balbuciava. Cultivava o silêncio em seu coração.

Um dia, ao chegar de férias do seminário em minha casa, eu a encontrei sorridente, cantando. Depois de trocarmos algumas palavras ela não conteve sua alegria e me perguntou: “Meu filho, você quer ser padre. É isso mesmo que você quer pra sua vida?”.

Naquele momento eu fiz minha a experiência de Jesus quando foi interrogado por Pilatos sobre a verdade, a experiência de Maria ao ouvir seu filho lha dizer: “mulher eis aí teu filho”. Ou seja, eu me calei. Calei não porque eu estava com dúvidas da minha vocação. Ao contrário, quando Jesus calou-se frente a interrogação de Pilatos, Ele afirmava a si mesmo como a Verdade. E Maria que nada respondeu aceita ser a mãe de todos os filhos do Seu filho.

Nesta quarta estação de minha vida vocacional, onde “Mãe e filho se encontram e se abraçam em meio à dor” observo que entre o “encontro” e o “abraço” falta alguma coisa. Sim. Falta a palavra.

Não a palavra de Jesus para Pilatos, e, tão pouco, a resposta de Maria a Jesus. Falta a minha palavra para responder a minha mãe se realmente quero ser padre? Também não.

A palavra que estava faltando ser dita entre os vários encontros e abraços já realizados entre eu e minha mãe era muito simples. Estava faltando eu dizer a ela: “Mãe, eu te amo”. Sei que o dizer isso é muito simples, mas pra mim foi dolorido. Mas tenho plena certeza que o significado desta palavra transforma vida, faz o “encontro” ser verdadeiro, o “abraço” torna-se fraterno. E mais, todo o Silêncio quando se depara com o amor, ele fala. Fala que ama no Silêncio!

Nesta minha Via Sacra com Jesus e Maria, onde encontrei com minha mãe, percebi que, em meio à dor, Mãe e filho “tudo partilham até a cruz, até o fim. Sem Palavras, a dor leva-me a compartilhar este momento sofrido”, mas cheio de significado, pois quando “Jesus se encontra com sua mãe” não foi fácil, porém ali, apressadamente o encontro de duas almas que se amam se abraçam em meio à dor. Cada pessoa, por fim, precisa sentir este encontro da Divindade com sua humanidade mesmo em meio às dores, os sofrimentos do dia a dia.

Pe. Joacir S. d’Abadia
Pároco da Paróquia São José e Adm. da Paróquia Santa Luzia
Formosa-GO


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