“Ele andou por toda a parte, fazendo o bem…” (At 10,38)
Ao celebrar a Festa do Batismo do Senhor a Igreja nos convida a reconhecer o mistério da presença salvadora de Nosso Senhor Jesus Cristo entre nós. Ele, diferentemente de nós, não se fez batizar porque precisasse de conversão, pois não tinha pecado algum; Ele não se fez batizar para se tornar filho de Deus, pois é Filho desde toda a eternidade. Assim, o batismo de Jesus tem um significado bem distinto daquele que um dia Ele confiou à sua Igreja, através do qual nos tornamos filhos de Deus (Mt 28,16-20).
Mas então porque Ele se fez batizar? Como bem sabemos o batismo de João Batista era um batismo de conversão, não de filiação divina e da efusão do Espírito Santo como o que Jesus confiou à sua Igreja. Jesus se faz batizar por João Batista, mesmo sem ter pecado, para nos indicar o caminho da conversão, da penitência, do arrependimento, o do testemunho público da fé.
Depois o batismo de Jesus tem o caráter de uma unção no Espírito Santo, que marca o início da sua vida pública. Ou seja, no seu batismo o Pai nos dá a conhecer que o Seu Filho muito amado habita entre nós: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer” (Lc 3,22). É Deus mesmo quem dá a conhecer que o seu Filho amado habita entre nós. Agora podemos ter acesso a Deus, à sua graça, à sua salvação.
Esta presença de Jesus entre nós nunca mais nos será tirada. Hoje Ele se faz presente em nosso meio na sua Igreja, nos seus sacramentos, sobretudo na Eucaristia, no próximo. A terra não está deserta, Nosso Senhor Jesus Cristo habita entre nós fazendo o bem. Fora Dele não podemos encontrar bem algum.
No seu batismo, enquanto rezava, o Espírito Santo desceu sobre Jesus, ungindo-O para a missão de ensinar, curar do poder dos demônios, de salvar, de estabelecer o bem. “Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele” (At 10,38). Não temos porque temer acolher Cristo, onde Ele habita aí está o bem e o mal é destronado.
Quando Cristo passa pela nossa vida Ele realiza somente o bem e nos liberta de todo pecado, do mal, do poder do demônio, da escravidão dos vícios, das trevas da falta de fé, da orfandade, própria dos que não creem em Deus. Sem Cristo nossa existência se perde atolada no mal, na perversidade, no ódio, no pecado. No entanto, onde Ele habita o bem é superabundante.
O Senhor passa em nossas vidas de tantos modos. Passou por nossa vida no dia em que fomos batizados, quando rezamos, quando convivemos como os outros com respeito e caridade, quando nos confessamos, quando participamos da divina liturgia (de modo mais intenso na Eucaristia), quando fazemos o bem. Não desperdicemos tantas oportunidades de bem e de salvação, Nosso Senhor continua a curar e a salvar, continua a habitar entre nós.
Ao ser batizado Jesus “o céu se abriu”, porque antes havia sido fechado pelo pecado dos nossos primeiros pais. É assim, o pecado fecha o céu, a graça de Cristo o escancara, Jesus abriu definitivamente o céu. De modo muito concreto o céu foi aberto para nós no dia em que fomos batizados. Triste que tantos batizados fecham para si mesmos o céu com uma vida de pecado, distante de Deus e da sua graça. Ainda é tempo de reencontrar o caminho do céu, de reavivar a graça do batismo, a graça da filiação divina, a aliança de conversão e salvação que firmamos com Cristo.
Que esta celebração de hoje ajude tantos batizados a reencontrar a alegria de ser de Cristo, de ser igreja, de ser filhos de Deus. Como batizados, filhos de Deus, enraizados em Jesus Cristo, membros da Igreja, não percamos a consciência que somos peregrinos neste mundo. Que aqui devemos passar fazendo o bem, como nos ensinou Nosso Senhor. Para quando a nossa peregrinação terrestre terminar, a porta do céu esteja aberta para nos acolher.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Is 42,1-4.6-7 / Sl 28 (29) / At 10,34-38
Evangelho: Lucas 3,15-16.21-22