Jesus, guiado pelo Espírito, tentado pelo Demônio, sai vencedor
“Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão (depois de ter sido batizado), e no deserto, ele era guiado pelo Espírito. Ali foi tentado pelo diabo durante quarenta dias” (Lc 4,1-2). Depois de ter sido batizado Jesus enfrentou as insídias do mal na forma da tentação. Mas Nosso Senhor não estava só, vivia em plena comunhão com o Pai, estava cheio do Espírito Santo e por Ele era guiado. Neste acontecimento Jesus começa o seu árduo combate contra mal, cuja vitória final Ele obterá na cruz.
De modo semelhante o tempo quaresmal é um deserto, um tempo privilegiado para um combate contra o mal, em nossa própria vida e no mundo. Um combate que somente pode ser vencido se estivermos cheios do Espírito Santo e se nos deixamos guiar por Ele. Assim nos ensina Jesus Nosso Senhor. Munidos das armas do Jejum, da oração e da esmola podemos vencer o mal.
A primeira tentação que Nosso Senhor enfrenta vem na forma de uma solução falsa para matar a sua fome. Tendo em vista que Ele “Não comeu nada naqueles dias e depois disso, sentiu fome” (Lc 4,2). Assim, age o Demônio, sempre pronto a apresentar uma solução fácil para as mais diversas dificuldades.
O demônio é mestre em apresentar soluções falsas para os problemas do homem. Por isso ao ver que Jesus estava com fome não tardou em se apresentar para resolver o ‘problema’. Mas o custo para tal ‘solução’ era a de por em dúvida a sua condição filial diante do Pai, “Se és Filho de Deus…”. Jesus o combate com a Palavra de Deus retamente entendida, apontado que além do pão material há muitos outros valores que alimentam a vida do homem: “Não só de pão vive o homem”, também necessitamos do pão da fidelidade a Deus, da obediência, da humildade, da confiança, do pão da palavra e da eucaristia.
Assim é a tentação – uma solução falsa – cujas consequências são desastrosas para quem a aceita e não a combate pelo jejum, pela esmola e pela oração. Basta enfrentarmos alguma dificuldade financeira, emocional, de saúde, de trabalho, de relacionamento para sermos tentados e resolve-las com falsas soluções. Ah! Se estou doente porque que não posso procurar um curandeiro? Uma seção de descarrego? Estou com dificuldades econômicas, porque não roubar ou enganar alguém para sair desta situação? O meu matrimônio está uma crise só, talvez outra pessoa possa me fazer feliz? Não nos enganemos, não há solução fácil para problemas difíceis que, na realidade, exigem paciência, fidelidade, confiança em Deus, diligência diante da vida, abnegação.
Na segunda tentação, o demônio tenta Jesus com a ambição: “Eu te darei todo este poder e toda a sua glória” (Lc 4,5). O que se trata de uma grande mentira, porque da parte do demônio nada é gratuito, para ele tudo tem um preço. Quantos homens católicos são seduzidos a entrar na maçonaria ou outras instituições incompatíveis com a fé católica por um convite parecido com este. Levados pela promessa de prosperidade, sucesso profissional, reconhecido social, trocam a luz de Nosso Senhor, pela escuridão gélida das lojas.
Só Deus age na gratuidade. Para o demônio tudo tem um preço. Como na sequência ele o apresenta a Jesus: “se te prostrares diante de mim em adoração, tudo isso será teu” (Lc 4,7). O preço da ambição é a negação de Deus. Em última instância, o demônio somente pensa em si, para conseguir o que quer – ocupar o lugar de Deus – ousou tentar o próprio Filho de Deus. O que demonstra o tamanho do seu orgulho. Como fracassou, agora procurar arrastar para a sua mesma ruína, a muitos que se deixam guiar pela ambição.
Na terceira tentação, o demônio foi ainda mais ousado, procurando semear a desconfiança entre o Filho amado – Jesus – e o Pai que sempre ama. Diante disso Jesus nos revela que aonde há uma relação fundada no amor não há espaço para a dúvida. Nos mostrando que o amor verdadeiro não precisa de provas, ele é a prova.
Por fim, Jesus vence todas as tentações, uma por uma, com oração e jejum, afugentou o demônio. Unidos ao Senhor, com oração, jejum e esmola, também podemos afugentá-lo. Não nos deixemos enganar pelas soluções falsas, pela ‘bondade’ enganadora do inimigo. Somente Deus nos ama gratuitamente, somente Nele encontramos a força necessária para vencer os percalços da vida e seguir a caminho da glória dos céus.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Dt 26,4-10 / Sl 90 (91) / Rm 10,8-13
Evangelho: Lucas 4,1-13