“A paz esteja convosco” (Jo 20, 19)

O Tempo Pascal é como se fosse um grande dia de Domingo que se estende por cinquenta dias, cujo centro da sua espiritualidade é a vida nova, a vida sobrenatural que o Senhor nos trouxe com sua ressurreição e que nos foi comunicada no batismo. A vida que vence a morte, todos os tipos de morte e os poderes tenebrosos deste mundo.

Pela concepção natural recebemos a vida que vem de Deus através dos nossos pais, porém, uma vida que, desde o seu princípio, trás consigo o sinal da morte, devido ao pecado original. Daí a necessidade de receber a vida nova, a vida sobrenatural, a vida que não morre, no sacramento do batismo. Assim, na pia batismal, a Igreja, nossa mãe, nos gerou para Deus e nos fez partícipes dos frutos da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo: a vida sobrenatural, o perdão, a paz, a salvação.

Um dos primeiros frutos da ressurreição que o Senhor ressuscitado comunica aos seus discípulos é o dom da paz, que dissipa todo medo, mesmo diante das maiores adversidades da vida. Ao entrar no lugar onde os discípulos se encontram atemorizados, pelo risco da perseguição: “A paz esteja convosco!”. Por três vezes Jesus lhes afirma o dom da paz.

De fato, a paz está com os discípulos de Jesus, porque Ele é a nossa paz. Para o cristão a paz não é um estado de ânimo, não é ausência de dificuldades, de tribulação ou de perseguição. Para nós a Paz é consequência da presença do Ressuscitado entre nós. Ele é a paz que nos faz vencer todos os temores, porque Ele é a paz, que na cruz, com sua paixão e ressurreição, venceu todos os temores e poderes tenebrosos deste mundo.

Estes mesmos poderes tenebrosos continuam a levantar-se com ferocidade contra a comunidade dos discípulos de Jesus. Não é por acaso que em nossos dias vem se levantando contra a Igreja e contra o que creem toda e qualquer espécie de perseguição. Desde a tentativa de confiscar patrimônios incontestavelmente pertencentes à Igreja, necessários ao serviço da evangelização; até a patrulha virulenta afim de silenciar a doutrina da Igreja, cerceando seu direito de pregação.

Diante de todo este obscurantismo que vem se levantando contra a Igreja, a comunidade dos que creem no Ressuscitado, Ele novamente nos dirige a sua palavra de consolação, assim, como outrora dirigiu aos discípulos na Igreja nascente: “A paz esteja convosco!”. Quando nos perseguirem, nos acusando falsamente, por ódio ao evangelho, lembremos que o amor não tem pacto com o ódio, que a vida que vem de Deus não tem pacto com a morte. Lembremos que aqueles que se levantam contra Cristo e seus discípulos, podem até nos tirar a tranquilidade terrena, mas não podem nos tirar a Paz, porque Cristo é a nossa paz.

O Senhor Ressuscitado é a paz que vence a morte e toda espécie de tribulação. Precisamos desta Paz, é esta Paz que devemos anunciar ao mundo. Não deixemos nos enganar, fora de Cristo não podemos encontrar a vida, não podemos encontrar a paz, não podemos encontrar o perdão dos nossos pecados.

Hoje tem se levantado toda espécie de ideologias, de religiões com promessas vazias de salvação. Ideologias que distorcem a verdade, colocando o homem no lugar de Deus, os animais no lugar do homem. Vemos pessoas se levantarem como defensoras da natureza e dos animais, quando por outro lado não temem massacrar os outros com impiedade. Amor aos homens e o desprezo para com Deus é impiedade; amor aos animais e desprezo para com o ser humano é loucura, é desordem. Todos os amores desta vida devem ser ordenados à partir do amor originário – O amor a Deus sobre todas as coisas. Quem não ama a Deus em primeiro lugar, se faz incapaz de amar o homem e toda a criação do jeito certo.

Este é um sintoma que nos revela que, quando se tira Cristo do centro, se desorienta toda a escala de valores. Quando se tira Cristo do centro se perde a Paz, e passa-se a viver fazendo guerra contra os seus semelhantes. Mas do que nunca urge repetir e comunicar o dom do ressuscitado: “A paz esteja convosco!”. A paz está conosco, porque Cristo é a nossa Paz, nenhuma incompreensão, perseguição e nenhum poder obscuro deste mundo nos poderá tira-la. Podem nos tirar tudo, nossas igrejas, catedrais, nossa liberdade, a vida, nossa tranquilidade terrena, mas não podem nos tirar a Paz que vem da fé no Ressuscitado, Ele está entre nós, sofre conosco, caminha conosco.

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: At 5,12-16 / Sl 117 (118) / Ap 1,9-11a.12-13.17-19
Evangelho: João 20,19-31