Testemunha é aquele que viu (conhece/ama), escuta e segue o Senhor
Deus se revela ao mundo valendo-se de situações e pessoas muito concretas que possam testemunhar a sua glória no mundo. Na primeira leitura o Senhor chama Abrão, convidando-o a Deixar sua terra sua parentela para assumir com a sua vida a promessa divina que haveria de ser uma benção para toda a humanidade. No evangelho Jesus chama consigo a um lugar à parte Pedro, Tiago e João, afim de manifestar-lhes a sua glória.
Assim, é possível compreender que Deus quer precisar de testemunhas, de homens e mulheres de boa vontade que deem no mundo testemunho da sua benção, das suas promessas, da sua glória, do seu amor, da sua misericórdia. Aqueles que contemplam as maravilhas de Deus em sua vida não podem simplesmente guardarem isto para si, tornam-se portadores do amor de Deus para os outros.
Na literatura veterotestamentária a montanha é um lugar privilegiado para a teofania, manifestação de Deus. Por isso é ali que o Senhor é transfigurado diante dos seus discípulos, revelando-lhes a sua glória divina e sua condição filial: “Este é o meu filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!” (Mt 17, 5). Antecipando assim, a sua futura ressurreição.
Diante da manifestação da glória divina os discípulos ficam assustados. Certamente não conseguiram entender tudo que se passou ali. Porém, a imagem do Senhor transfigurado ficou impressa na sua memória, como antecipação autêntica da sua ressurreição, vitória de Jesus sobre o pecado e a morte. Da qual os discípulos deverão tornar-se testemunhas diante do mundo.
Testemunha é aquele que viu (conhece/ama), escuta e segue o Senhor. Não é o homem quem escolhe ser testemunha do Senhor, antes é Ele quem escolhe as suas testemunhas que, uma vez escolhidas, Lhe respondem com generosidade. Como escolheu Moisés, Abrão, Davi, os profetas, Maria, os apóstolos, os santos, e tantos homens e mulheres de boa vontade que, tocados, transformados, transfigurados no amor de Deus, anunciam com sua vida a presença de Dele no mundo.
Pois agora o Senhor não se manifesta apenas na montanha, no deserto, templo ou algum outro lugar geográfico. A montanha sagrada na qual Deus se dá a conhecer é na vida de cada um dos discípulos de Jesus. Porém, sem conhecer, ouvir e seguir o Senhor não é possível testemunhá-Lo. Bem como sem o testemunho de uma vida santa. À qual somos chamados a intensificar nesta quaresma.
Neste sentido nossas comunidades cristãs precisam ser transfiguradas no amor de Deus. Para que seus membros não se acostumem apenas em receber de Deus as suas graças, seus dons. Mas que se tornem também portadores dos mesmos para o mundo.
Por fim, para tornar-se testemunha do Senhor é preciso desprendimento. À exemplo de Abrão que deixou sua terra, sua parentela, para assumir a promessa de Deus na sua vida. Talvez o Senhor esteja pedindo muito menos de nós e não estamos dispostos a dar. Quantos católicos que nunca investiram um centavo ou um dia sequer de sua vida em favor do evangelho, da caridade, da comunidade paroquial!? Talvez Deus esteja pedindo que Lhe doemos um pouco mais dos nossos recursos, do nosso tempo, sobretudo no domingo, reservando como centro a Eucaristia, seguida da convivência familiar e comunitária, a formação cristã, do devido descanso, do cuidado para com os pobres e os doentes. Precisamos recuperar o rosto do domingo como dia privilegiado da manifestação de Deus em nossa vida, na paróquia, na família, no mundo. Isto já seria grande testemunho e uma grande manifestação do seu amor para o mundo.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Gn 12, 1-4 / Sl 32 (33) / IITm 1, 8-10
Evangelho: Mt 17, 1-19