O que nós esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça” (IPd 3, 11)

No mundo sempre houve e sempre haverá os mensageiros de Deus empenhados em exortar os homens a se prepararem para o encontro com o Senhor. Outrora eram os patriarcas, depois os profetas, entre os quais João Batista é maior e o último, porque prepara a vinda imediata do Senhor, chamando os homens do seu tempo à conversão. Por último veio a realização da promessa: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).

Depois da sua paixão, morte e ressurreição, o Senhor deixou no mundo os seus arautos – os apóstolos – cujo ministério apostólico é continuado pelos pastores da Igreja – os bispos – coadjuvados por seus estreitos cooperadores – os padres. Cuja missão é manter acessa nos corações a chama da fé, da esperança e da caridade. É dispensar a graça ao homem pecador para que possa reencontrar o caminho de Deus. É anunciar a Palavra para denunciar o pecado e fazer conhecer a misericórdia de Deus.

Os pastores da Igreja tem a missão de anunciar o Cristo que veio, o Cristo que vem e o Cristo que virá. São os arautos do Senhor cuja pregação é também para tornar conhecimento, amado e servido Jesus Cristo, o esperado das nações. O único ponto de encontro entre a terra e o céu, entre Deus e o homem. De modo que, o horizonte de quem acolhe Jesus Cristo vai muito além deste mundo, chega ao céu. Sem Cristo a humanidade se fecha no reduzido espaço do mundo, do tempo e da finitude. Enquanto que quem acolhe o Senhor entra na dinâmica do eterno.

Como nos exorta a oração da coleta de hoje: “Que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do Cristo”. Que nenhuma ocupação mundana nos impeça de preparar o caminho do Senhor. Prepara o caminho do Senhor quem se faz morada de Jesus Cristo. Porque Ele é o único caminho para Deus.

O homem ocidental, dominando pela indiferença, encantado com o mundo, com a matéria, tem perdido radicalmente o encanto com o céu, com Deus. Vindo a eliminar qualquer vestígio da presença de Deus das suas vidas, dedicando-se o mínimo ou nada à glorificação de Deus.

São tantas e fúteis as ocupações do homem ocidental, que nem mesmo o domingo, dia do Senhor, tem sido cultivado para a oração, para a Eucaristia, para a formação cristã, para o apostolado, para a caridade, para o descanso e para a convivência familiar e comunitária. Seja pela preguiça ou pela indiferença, o homem ocidental tem ocupado sua vida, seu tempo, o domingo, com excessivas distensões: é o futebol, o churrasco, a fórmula I, o shopping, a netiflix, a cervejada com os amigos, a chácara, a fazenda, o trabalho. De tal modo que tais ocupações terrenas se tornam como que uma espécie de rito religioso mundano. Lançando no total esquecimento as realidades sagradas que nos ajudam a tocar o céu: a Eucaristia de domingo, a oração, a palavra de Deus, a convivência familiar, o descanso…

O tempo do advento e o natal são ocasiões oportunas para redescobrir que não fomos criados por Deus apenas para as ocupações terrenas, podemos e devemos ocupar-nos também com as coisas do céu. O Senhor veio visitar este mundo dos homens, para que nós, os homens, pudéssemos nos abrir e nos ocupar com um mundo de Deus. Ou melhor para que pudéssemos ordenar nossa vida neste mundo segundo o mundo de Deus.

Neste sentido somos todos convidados a preparar o caminho do Senhor, cujo percurso passa também pelas vielas tortuosas e acidentadas deste mundo. O Senhor veio, vem e virá a este mundo, para que nós tenhamos a possibilidade de ir ao céu, quando a imagem deste mundo passar. Como nos exorta São Pedro: “O que nós esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça” (IPd 3,11). Esperam este novo céus e esta nova terra aqueles que se empenham na busca de uma vida santa.

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Is 40,1-5.9-11 / Sl 84 (85) / 2Pd 3,8-14
Evangelho: Mc 1,1-8