“Ou ignorais que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo” (I Cor 6, 17)
A comunhão trinitária, Pai, Filho e Espírito Santo é a morada de Deus. Deus é, portanto, sua própria morada. Mas, na sua bondade Deus quis fazer morada em cada pessoa humana, afim de que nós pudéssemos, na eternidade habitar em Deus. Nesta vida, pela graça, Deus habita em nós, para que na vida eterna sejamos nós a habitar em Deus.
Isto é um grande mistério, a morada de Jesus é corpo e a alma daqueles que o acolhem com fé, que caminham na esperança e o testemunham pela caridade. Daí a importância da santidade em nossa vida corporal, como nos relembra São Paulo, porque o nosso corpo é santuário do Senhor: “Ou ignorais que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que mora em vós e que vos é dado por Deus?” (ICor 6,10).
Se esta é a condição do nosso corpo, ser santuário do Espírito Santo, com que dignidade devemos cuidar deste templo. Nosso corpo não é, pois, uma realidade desprezível, além de ser morada do Espírito Santo, está destinado à ressurreição no último dia. Como professamos em comunhão com a fé da Igreja: “Creio na ressurreição da carne”.
Se esta é a condição do nosso corpo, se faz necessário fugir de duas posturas extremas em relação ao mesmo, muito comuns em todos os tempos: o idolatrar o corpo ou desprezá-lo. Ambas as posturas diante do corpo são pagãs. Quantos idolatram o corpo em extremo, dedicando horas mais horas afim de molda-lo, para depois ostenta-lo como ferramenta erótica, tornando-o causa de pecado para si mesmo e para os outros.
Ou ainda quantos vulgarizam o corpo infestando-o com tatuagens, piercings e tantas outras quinquilharias em excesso. É preciso ainda fazer referência à famigerada ideologia de gênero que procura transformar o corpo numa realidade indefinida, tentado desconstruir a diferenciação entre o masculino e o feminino, negando o fato dado pela biologia. O que se reflete inclusive na moda, que tem imposto aos homens um modo feminino de se vestir, e às mulheres uma maneira masculina.
Para o cristão o adorno do corpo são as virtudes: a modéstia e a simplicidade no vestir, o autodomínio, a castidade, a sobriedade, a graça de Deus. Quando se enche o corpo com tantas coisas desnecessárias é porque não se reconhece a sua própria beleza. Interessante como há esta consciência em relação ao meio ambiente, mas praticamente se perdeu a mesma em relação ao ser humano. Quando se trata das belezas naturais, quanto menos intervenção humana melhor. Quando se refere ao ser humano parece que quanto mais penduricalhos ou imagens tatuadas melhor. É uma contradição. Tal postura é como afirmar que o homem na sua constituição natural não seria dotado de beleza; trata-se de um esvaziar o ato criador de Deus.
Se por um lado não devemos idolatrar o corpo, também não podemos despreza-lo, como fazem os pagãos, a doutrina espírita, o consumismo, os regimes totalitários que nutrem profundo desprezo pelo ser humano, o platonismo e tantas outras seitas de corrente exotérica. Quantos massacram o corpo envenenando-o com drogas de todas as espécies, na prostituição, na fornicação, ou expondo-se a riscos desnecessários na prática de esportes violentos que não condizem com a dignidade do corpo humano.
Nosso corpo é para o Senhor, é para a glorificação de Deus, nosso corpo pertence a Deus: “ignorais também que vós não pertenceis a vós mesmos?” (ICor 6,19). Pertencemos ao Senhor, é para Ele que somos chamados a viver. Não permitamos que a cultura dominante que despreza o corpo humano, seja pela idolatria, seja pelo desprezo, seja pela violência, venha a profanar ou prevalecer sobre este belo santuário do Senhor.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: 1Sm 3,3b-10.19 / Sl 39 (40) / 1Cor 6,13c-15a.17
Evangelho: Jo 1,35-42