“Fazei o que ele vos disser” (Jo 2,5)
Nós precisamos da alegria para viver, são muitas as ocasiões nas quais podemos experimenta-la: o nascimento de um filho, dia do seu batizado, o primeiro emprego, uma formatura, a Divina liturgia, a visita de uma pessoa querida, a aquisição de um bem, uma festa de casamento, como relatado no evangelho de São João. Mas, por mais satisfatórias que sejam estes momentos de alegria, ela não dura por muito tempo.
Pois trata-se de uma alegria valorosa, legítima, consequência da abundância de algum bem que logo se esvai. Recaindo sobre as pessoas a tristeza, resultado da carência de algum bem. À exemplo da falta de vinho nas bodas de Caná da Galiléia.
O vinho é o símbolo da festa, da alegria, do gozo. Tanto que há quem diga que, quando acaba o vinha termina-se a festa. Onde não tem festa a vida se entristece, perde o seu gosto, seu entusiasmo. Daí que a falta de vinho nas bodas de Caná é símbolo da falta da alegria verdadeira na vida do homem. Uma alegria que não pode ser criada, mas somente acolhida, porque é um dom de Deus. Ao que podemos concluir: onde morre a fé em Jesus Cristo morre com ela a alegria. Não é por acaso que a tristeza e depressão assola o mundo atual, dado o seu profundo desprezo pela fé cristã.
Deus não nos trouxe a este mundo para levar adiante uma vida triste, angustiosa, fútil, banal, deprimida, murmurante, chorosa, vazia, amedrontada. Ele nos quer felizes já aqui, porque esta vida é para ser um prelúdio do céu. Mas o que fazer já que carecemos de tantas coisas que julgamos necessárias para ter alegria? Falta amor, trabalho, oportunidade, esperança, família, respeito, partilha, compreensão, fé, falta oração… a lista das nossas carências são inumeráveis.
Porém, nenhuma carência é tão grave e tão nociva, tão prejudicial à alegria quanto a ausência da fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. Em Caná Jesus é o noivo que vem para desposar as nossas almas para Deus, dando-nos a alegria que permanece para sempre. Sua mãe intercede em nosso favor e nos convida a obediência, Ele transforma a água em vinho, mudando a tristeza em alegria.
Para os homens de fé não é o vinho ou nenhuma outra coisa a fonte da alegria, Cristo é sua alegria, Cristo é nossa alegria. Ele sim, tem poder de transformar uma existência triste numa existência feliz, alegre, carregada de esperança.
Certamente, o fato de termos fé não irá eliminar as tantas carências humanas, afetivas e materiais que temos, mas dá um sentido completamente novo à festa da vida. A abundância das carências, assim como a abundância de água, “mais ou menos cem litros” (Jo 2,6), é o que Cristo precisa para transformar em vinho. Aonde abunda as nossas carências, superabunda a providência divina.
Você não precisa reescrever sua vida antes de apresenta-la diante do Senhor, Ele é quem vai reescrever a sua história, à partir do momento que tiverdes a coragem de entregar a sua vida aguada, vazia, fútil e sem sentido nas mãos do Senhor. Como a água apresentada ao Senhor foi transformada em vinho, sua vida entregue em suas mãos, inevitavelmente, também será transformada numa vida para Deus.
O Senhor somente não transforma a vida daqueles que põem obstáculos à sua ação salvadora; daqueles que querem ter o controle sobre suas vidas e não tem humildade para obedecer a Cristo Salvador. Como convida aos serventes, nossa santa mãe, a Virgem Maria: “Fazei o que eles vos disser” (Jo 2,5).
Os serventes das bodas de Caná não fizeram nenhum milagre, simplesmente obedeceram a Jesus: “Jesus disse aos que estavam servindo: ‘Enchei as talhas de água’. Encheram-nas até a boca” (Jo 2,7). Assim é, o grande milagre da transformação e da conversão, começa quando tomamos a ousada decisão de obedecer a Jesus, seu evangelho, seus mandamentos, sua Igreja.
É na obediência a Cristo que iremos salvar a nossas vidas. É na obediência a Cristo que encontramos a autêntica alegria. Não é por acaso que seja a Virgem Maria a nos fazer este convite: “Fazei o que ele vos disser”, pois, na anunciação do anjo ela já nos deu o exemplo: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Se na desobediência a Cristo e seu evangelho está a nossa ruína, na obediência a Ele está nossa salvação, nossa alegria. É na obediência a Nosso Senhor Jesus Cristo que reencontramos a alegria de viver.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Is 62,1-5 / Sl 95 (96) / 1Cor 12,4-11
Evangelho: João 2,1-11