“Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles” (Lc 24,15)
Hoje a liturgia nos presenteia com a bela página dos discípulos de Emaús. Que vem nos recordar que mesmo quando somos incapazes de reconhecer o Senhor, Ele caminha conosco. O ressuscitado não abandona os seus à desilusão. Mas para reconhecermos que o Senhor ressuscitado caminha conosco é preciso fé, é preciso que Ele mesmo nos abra os olhos.
Por mais difícil que seja a realidade do homem no mundo, ele nunca está só. Nem mesmo em meio as guerras, perseguições, pobreza ou pandemia, não estamos só; Jesus Cristo caminha conosco. Podemos até não reconhece-Lo. Como os discípulos de Emaús não O reconheceram, mas o Senhor está conosco. Jesus caminha conosco.
Os discípulos de Emaús “conversavam e discutiam pelo caminho”. Estavam desiludidos, porque Aquele no qual tinham colocado toda a confiança havia sido crucificado. Por isso estavam fugindo para Emaús “com o rosto triste” (Lc 24,17) sem entender nada. O Senhor se aproxima e se põe a caminhar com eles, mas mesmo assim não O reconhecem.
Mas o Senhor não desiste deles, segue caminhando com eles e, à partir das Escrituras, vai lhes abrindo os olhos, vai lhes acalentando o coração, lhes reparte o pão. Gestos que abrem os olhos dos discípulos: “Nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus” (Lc 24,31). É assim, o Senhor entra em nossa vida quando menos esperamos.
Reconhecer Jesus é reencontrar a fé, a esperança outrora perdida, é ser arrancado de uma experiência de abandono, de desilusão, de fracasso, de medo. Há muitos momentos na vida que estas realidades dominam sobre nós. Quando perdemos um ente querido, numa experiência de enfermidade, de abandono, de solidão, o desemprego, uma humilhação sofrida, um fracasso profissional, uma dificuldade econômica, uma crise familiar ou vocacional.
São tantas situações que podem cegar, que podem nos roubar a capacidade de reconhecer que Jesus ressuscitado caminha conosco, fala conosco, nos parte o pão (a Eucaristia), nos dá uma comunidade, a Igreja. Mesmo quando não sentimos mais nada, não compreendemos nada, perdemos a direção, o Senhor caminha conosco. Não estamos sós. Nas situações mais duras, o Senhor está conosco. Peçamos a graça de reconhece-Lo. Ele está conosco quando menos imaginamos.
O Senhor ressuscitado pode ser encontrado, antes, Ele continua vindo ao nosso encontro. Podemos encontra-Lo de modo privilegiado em três realidades: na sua Palavra, nos sacramentos, sobretudo a Eucaristia, e na comunidade (na Igreja).
Quando O encontramos, Ele já nos havia encontrado faz muito tempo. Quando O reconhecemos a vida muda de direção. À exemplo dos discípulos de Emaús que fugiam de Jerusalém. Mas depois que reconheceram o Senhor mudam de direção, voltam para Jerusalém: “Naquela mesma hora, eles se levantaram e voltaram para Jerusalém, onde encontraram os onze reunidos com os outros” (Lc 24,33).
Temos que ter a coragem de deixar o Senhor ressuscitado mudar a nossa vida. Quem O encontrou não segue mais os seus caminhos, mas os caminhos do Senhor. O Senhor caminha conosco, temos que ter a coragem de também caminhar com Ele. Fugindo dos caminhos que não são os seus.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: At 2,14.22-23 / Sl 15 (16) / IPd 1,17-21
Evangelho: Lc 24, 13-35