“Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?” (Jo 21, 15)

Depois de toda tribulação que envolveu a paixão e morte do Senhor, os discípulos passam por um duro processo de purificação da sua fé, marcado pelo medo, pela frustração, decepção, perseguição, incompreensão, com Jesus e com eles mesmos. O que os levou à tentação de voltar a mesma vida de antes.

É muito provável, que diante do contexto de hostilidade e de perseguição, os discípulos chegaram a dar por terminada a missão deles junto a Jesus. Tanto que começaram aos poucos retomar a mesma vida de antes de haverem sido chamados pelo Senhor. Voltaram a pescar no lago de Tiberíades. Como se as promessas de Jesus, de vida e ressurreição não fossem realizar-se.

Mas o Senhor não os deixa abandonados a este estado de ânimo. Ele vai, aos poucos, revelando-se e revelando aos discípulos a sua glória divina, sua vitória sobre o pecado e a morte. Tanto que no São João nos fala que: “Esta foi a terceira vez que Jesus, ressuscitado dos mortos, apareceu aos discípulos” (Jo 21, 14).

Aos poucos Jesus vai recuperando nos discípulos a esperança outrora perdida, a confiança vai dando lugar à desilusão, a coragem vai suplantando o medo. Fazendo-os compreender que quem encontrou-se com o Senhor Ressuscitado não pode mais simplesmente voltar à mesma vida velha de antes. Esta é uma tentação sempre presente na vida dos discípulos. Ao longo do caminho cristão temos que constantemente recuperar a fé, a esperança, para vencer a tentação de voltar a trás, ao tempo da escravidão e da incredulidade que precedeu nosso encontro com o Senhor.

Neste processo de retomada Pedro ocupa um lugar de destaque no grupo dos Doze. É a Ele que Nosso Senhor examina primeiro quanto ao amor. É Ele que que o Senhor confia o pastoreio universal sobre sua Igreja. Missão esta que continua através do ministério petrino, na pessoa do Papa Francisco. No diálogo com Pedro Nosso Senhor revela que sem amor a Ele ninguém pode ser pastor, ninguém pode ser ovelha.

Na Igreja do Senhor o motivo que move os pastores que apascentam o rebanho, deve ser o amor a Cristo. Porque que o rebanho pertence ao Senhor. Na Igreja todos pertencemos a Cristo. Não é o amor ao dinheiro, ao poder, como é próprio daqueles que falsamente se intitulam pastores e apóstolos que move os pastores do Senhor, mas o amor a Cristo.

Sendo o amor a Jesus Cristo que move os pastores da Igreja, também há de ser o amor a Ele a mover, manter e sustentar as suas ovelhas na Igreja. Somente por amor podemos permanecer na Igreja. Somente por amor a Cristo podemos nos fazer servidores de Cristo na sua Igreja. Somente por amor a Cristo podemos enfrentar com alegria a indiferença e a perseguição do mundo que quer fazer calar o evangelho da salvação. Sem amor ninguém pode fazer-se discípulo e permanecer discípulo de Jesus. O amor marca nossa pertença a Cristo e à sua amada Igreja.

O nosso amor a Cristo requer que seja o maior de todos os amores. A Ele nos devemos amar mais do que tudo e do que todos. Como transparece no seu diálogo com Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?” (Jo 21, 15). Aqui fica evidente que quem ama a Cristo gasta sua vida ao serviço da sua Igreja, do seu rebanho, independente das dificuldades e incompreensões.

 

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: At 5,27b-32.40b-41 / Sl 29 (30) / Ap 5,11-14
Evangelho: João 21,1-19