O jejum, a esmola e a oração são remédio contra o pecado
Nesta vida estamos constantemente sujeitos a enfermidade do corpo, bem como estamos sempre sujeitos a enfermidade da alma – o pecado. É contra esta enfermidade que precisamos lutar com maior intensidade nesta quaresma e em todo tempo e lugar. Se hoje somos assolados por um vírus que adoece o corpo, causando grande sofrimento, diante do qual é preciso se precaver, é bom lembrar que não somos somente corpo e que há outra espécie de vírus que também deve nos causar medo – o pecado. Pois trata-se de uma enfermidade que mata a alma nos privando da graça de Deus e da salvação.
O homem em situação de pecado está doente espiritualmente. Neste sentido, quanta gente enferma perambula por aí sem ao menos saber que está doente e como tal precisa dos remédios espirituais que podem lhe devolver a saúde do corpo e da alma: o jejum, a esmola e a oração. O jejum é remédio contra a frouxidão da vontade que tantas vezes nos deixa reféns de toda espécie de excessos: no falar, no comer, no beber, na sexualidade, no ver, no sentir, no divertir-se, na curiosidade mal sã.
Uma vontade frouxa é própria de quem não é livre, de quem se fez escravo dos seus sentidos, aos quais procura satisfazer irracionalmente com toda espécie de exageros, que adoecem o corpo e a alma. Quantas pessoas doentes, no corpo e na alma, porque comem e bebem em excesso. Quanta gente doente escrava do jogo, do barulho, da internet, do sexo, do consumismo, da droga. Jejuai! Jejuai! Curai todas estas enfermidades com o jejum. Jejuai para que o excesso de lugar a sobriedade e ao equilíbrio.
A esmola é outro remédio salutar contra a enfermidade da usura, da ambição, da ostentação, do apego desmedido às coisas e ao dinheiro. Que nossa esmola seja tão generosa que não se contente em distribuir apenas o que nos sobra ou o que não mais precisamos. Nossa esmola precisa chegar ao nível da partilha do que nos é necessário.
Outro remédio salutar contra a doença espiritual do pecado é a oração. Ela cura-nos da enfermidade do desespero, do vazio, da indiferença, da autossuficiência, do ateísmo, do fechamento egoísta sobre si mesmo. A oração nos abre o caminho para a comunhão com Deus e com o próximo. A oração é um privilegiado modo de exercitar a esperança, nos lembra o Papa Bento XVI na Spe Salvi.
O horizonte de quem não ora é curto, limitado, não ultrapassa sequer os limites terrenos com suas dores e problemas, não ultrapassa o limite do próprio homem. Enquanto o horizonte de quem reza chega até os céus, ultrapassa o tempo, carrega uma profunda esperança de eternidade. Orai! Orai! Não estamos sós neste mundo, há um Deus que nos escuta, nos fala, nos interpela, nos forma, nos corrige e nos guia. Cuidemos do nosso corpo, mas não descuidemos da nossa’lma. Somos templos do Senhor. Como tal Ele nos conhece por dentro e quer nos purificar de toda imundície que fere o corpo e destrói a alma com o remédio do jejum, da esmola e da caridade. O zelo do Senhor se consome por cada um dos que lhe pertencem, pois Ele nos quer para a vida, não para a morte; para o amor, não para o ódio; para a comunhão, não para a divisão; para a graça, não para o pecado; para a liberdade, não para a escravidão; para o céu, não para o que é mundano.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Êx 20,1-17 / Sl 18 (19) / 1Cor 1,22-25
Evangelho: Jo 2,13-25