“Estai sempre alegres! Rezai sem cessar” (ITs 5,16)
A tristeza do homem contemporâneo é fruto da ausência de Deus em suas almas, porque uma alma sem a habitação de Deus é uma alma deserta e estéril. Um mundo sem Deus é um mundo triste, no qual o homem se atola na mais brutal solidão existencial. Porque criatura nenhuma é capaz de conceder-nos uma alegria que permaneça para sempre. Assim, para estar sempre alegres, como nos exorta São Paulo na segunda leitura, precisamos da presença de Deus. Uma vez que Deus é a alegria eterna das suas criaturas.
Jesus Cristo, o ungido do Pai, é a alegria dos humildes, dos pobres, dos simples, dos santos, dos justos. E “A glória de Deus é o homem vivo” como afirmava Santo Irineu. E o homem vivo é aquele que procura viver na graça de Deus. Por isso a Virgem Maria pode exclamar, a humilde entre os humildes: “A minh’alma se alegra no meu Deus”. Porque de fato o Senhor é a alegria da sua alma.
“Estai sempre alegres!” (Its 5,16). Isto só é possível se procuramos estar sempre com o Senhor, seguindo sua santa vontade. Quando caímos na tentação de querer nós mesmos produzir a alegria de que precisamos nos perdemos no pecado, no vício, na tristeza, na frustração. Nos enchemos de coisas, de compromissos, de atividades, de divertimentos, mas não nos enchemos de autêntica alegria. Pois não é o preenchimento do tempo com coisas, com entretenimento, que enche o coração de alegria. Somente Deus pode encher o coração humano de alegria doradoura.
O homem procura a todo custo produzir, por suas próprias mãos, uma alegria artificial, falsa, fútil, criando os mais sofisticados e atraentes tipos de vícios, de coisas, de drogas. Realidades que geram uma alegria que passa tão rápido deixando um vazio de alma sempre maior. Pois o homem não tem capacidade de criar a alegria. Esta é dom que somente podemos receber de Deus. Como podemos constatar na anunciação do anjo a Maria: “Alegra-te, cheia de graça. O Senhor está contigo” (Lc 1,28). Uma alegria que resulta da presença de Deus. Logo, uma alegria que não está condicionada aos percalços e incertezas da vida.
“Rezai sem cessar” (Its 5,16). A alegria que vem do Senhor é mantida na vida dos fiéis com a perseverança na oração. Os seres humanos mais felizes que a história já conheceu, são aqueles cujo entretenimento preferido é a oração. Assim nos dá testemunho a vida dos santos. Homens, mulheres e crianças de vidas santas, sóbrias, sem excessos, tementes a Deus, inimigos do pecado, da maldade. No entanto, alegres, felizes. Isto também nos testemunham os homens e mulheres entregues à vida contemplativa, em tudo ocupados com a oração e desocupados de praticamente tudo das coisas deste e dos interesses deste mundo.
Embora não possamos todos nos dedicar exclusivamente à vida contemplativa, somos exortados a rezar sem cessar em todas as circunstâncias, nas dificuldades, na alegria, na tristeza, no sofrimento, na consolação, na necessidade, na bonança, na paz, na tribulação, no sucesso, no fracasso.
Por fim, não há realidade humana alguma, com exceção do pecado, que não possa ser precedida, acompanhada e seguida da oração. O Senhor que ungiu o Seu amado Filho com o Espírito, o enviou até nós “para curar as feridas da alma, pregar a redenção para os cativos e a liberdade para os que estão presos; para proclamar o tempo da graça do Senhor” (Is 61,1). Esta é a razão da nossa alegria este é o motivo da nossa oração. O Verbo de Deus se encarnou para a nossa salvação, para estar conosco, para que nós um dia possamos estar eterna e definitivamente em comunhão com Deus nos reino dos céus.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Is 61,1-2a.10-11 / Lc 1 / 1Ts 5,16-24
Evangelho: Jo 1,6-8.19-28