“Alegrai-vos sempre no Senhor; alegrai-vos…” (Fl 4,4)
Não é necessário muito esforço para perceber que o tema central da liturgia deste terceiro domingo do advento é a alegria. São pelos menos treze referências ao assunto: “Alegrai-vos sempre no Senhor; alegrai-vos…” (Fl 4,4). Assim, a liturgia deste domingo nos aponta e nos prepara para renovar a acolhida do único que é fonte da autêntica alegria – Jesus Cristo Nosso Senhor, que compõe o título da peça musical de Iohann Sebastian Bach com o título “Jesus alegria dos homens”.
Logo, a alegria não é uma realidade que pode ser criada pelos homens. A alegria é consequência da fé em Jesus Cristo, Ele é nossa alegria. Não temos capacidade para produzir alegria. Esta é dom de Deus, resulta da presença de Cristo em nossa vida. Desta alegria fundamental dependem todas as alegrias legítimas da vida quotidiana: a alegria da vida familiar, do matrimônio, do sacerdócio, da oração, das pequenas conquistas, da vida fraterna, do ser reconhecido, etc.
Não resta dúvida que a cultura contemporânea confunde as euforias (falsa alegria) repentinas com a alegria, aquela que é artificial. Normalmente não passa de uma euforia momentânea, geralmente acompanhada por excessos: no comer, no beber, no barulho, na agitação, no sexo, no consumo, na ostentação. Esta, quase sempre, é seguida de estados de abatimento, de depressão, de cansaço. Não nos deixemos enganar, nada criado pelo homem é fonte de alegria perene, no máximo geram uma euforia, uma agitação, que logo em seguida exigirá uma dose ainda maior de realidades externas para se manter.
Não é por acaso que nos encontramos num mundo de pessoas tão tristes. Quanto maior os excessos maior a tristeza, porque nada, fora de Cristo, é suficiente para preencher o desejo de felicidade e de alegria que reside em nosso coração. O excesso gera a compunção, esta, por sua vez, escraviza a pessoa, na escravidão reina a tristeza.
Enquanto a alegria autêntica é sólida, constante e independe das condições circunstanciais da vida; a falsa alegria é de fora para dentro, depende das circunstâncias externas. Daí que tantas pessoas gastam sua vida, seu tempo, seu dinheiro, suas forças correndo atrás das novidades e euforias mundanas.
A alegria autêntica, pelo contrário, é de dentro para fora. Ela resulta da certeza da presença interior de Cristo em nós. O que podemos compreender à partir da saudação do anjo Gabriel à Maria: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1,27).
A alegria cristã é fruto da presença de Cristo em nós. Ela se torna ainda mais intensa se nós também nos empenhamos para permanecer no Senhor. Trata-se de uma alegria que se manifesta na bondade de Deus para conosco. Manifesta-se pela oração de súplica, de louvor, de ação de graças, de intercessão; do serviço pela causa do Evangelho, da partilha dos bens, da fraternidade e da justiça nos negócios.
A alegria cristã é saber que Cristo pode ser conhecido, encontrado, servido e amado. É saber que Ele virá uma segunda vez para nos cumular dos bens prometidos, para fazer prevalecer sua justiça sobre as mazelas deste mundo. É saber que não estamos abandonados à nossa própria sorte, porque o Senhor veio, vem e virá, Ele é nossa salvação.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Sf 3,14-18a / Is 12,2-6 / Fl 4,4-7
Evangelho: Lucas 3,10-18