“Convertei-vos e crede no Evangelho?” (Mc 1, 15)
O amor de Deus requer de nós uma resposta na forma da conversão. Porque amor se responde com amor. E quem se deixa conduzir pelo amor de Deus, necessariamente, frutifica em boas obras, abandonando as obras mortas do pecado. Quando fechamos o coração à vontade de Deus, ao evangelho, à Cristo, ao próximo, entramos numa rebeldia que desfigura a nossa condição de filhos de Deus.
Esta rebeldia contra Deus e seus mandamentos é notória em nossos dias. Reina no tempo presente uma verdadeira revolta dos homens contra Deus. O que trás como consequência o profundo desprezo também pelo ser humano. Porque quando o homem se rebela contra Deus, muito cedo perde a consciência da sua dignidade, da sua vocação à vida, ao amor, do seu destino eterno. Assim, o primeiro anúncio: “Convertei-vos e crede no Evangelho?” (Mc 1,15) Goza de uma urgente atualidade
Nínive, “a grande cidade”, pode ser considerada símbolo do mundo contemporâneo, no qual há um crescente desprezo por Deus, por sua palavra, por sua Igreja, por Jesus Cristo. Como fiéis em Jesus Cristo, filhos da Igreja, una, santa, católica e apostólica, não comunguemos com esta rebeldia. Antes rebelemo-nos contra a mundanidade que se levanta contra Deus e contra o ser humano.
Mesmo que o contexto atual seja de uma grande revolta contra Deus e contra tudo que se refere a Ele. Deus não desiste nunca de salvar o seu povo. Assim como Ele chamou e enviou um profeta para chamar Nínive à conversão, Ele não desiste de nos dirigir a sua Palavra.
Ao progressivo levante do mal na forma da violência, do ódio a Deus e ao ser humano, do ateísmo, das falsas religiões, da corrupção, do aborto, da eutanásia, da pornografia, da ambição, da jogatina, da prostituição, das drogas, do erotismo, do consumismo; somos convocados a contrapor com um levante, de fé, de esperança, de caridade, de comunhão, de verdade, de fidelidade de oração, de testemunho, de adoração, de sobriedade.
Esta é a resposta que o Senhor espera dos seus fiéis. Esta é a resposta que verdadeiramente pode transformar o mundo. Vejamos o exemplo dos Ninivitas, que respondem à iniciativa de Deus com jejuns, com obras de conversão: “Os ninivitas acreditaram em Deus; aceitaram fazer jejum e vestiram sacos, desde o superior ao inferior” (Jn 3,5). Aqui percebemos que, onde a obstinação no mal dá lugar à conversão, a ameaça de castigo da parte de Deus dá lugar à salvação, à benevolência. “Vendo Deus as suas obras de conversão e que os ninivitas se afastavam do mau caminho, compadeceu-se e suspendeu o mal que tinha ameaçado fazer-lhes, e não o fez” (Jn 3,10).
Isto nos indica que a conversão do homem não fica sem resposta diante de Deus. Mas aonde permanece a obstinação no mal haverão que beber a taça do furor de Deus. Embora o agir de Deus seja sempre em vista de salvar o seu povo. Também hoje a humanidade precisa urgentemente afastar-se do caminho do mal que tem invadido a política, os tribunais, as escolas, as leis, a economia e, infelizmente, até mesmo certos ambientes eclesiais.
Foi em vista da salvação que Ele elegeu um povo – Israel -, que Ele suscitou patriarcas e profetas, que Ele enviou-nos o Seu Filho. Foi em vista da nossa salvação que Jesus elegeu os apóstolos, transformando-os de simples pescadores em apóstolos. Foi em vista da nossa salvação que o Senhor fundou a sua Igreja e quis que nela fosse continuada a sucessão apostólica, o depositum fidei, a palavra, os sacramentos, para que os homens de todos os tempos pudessem professar a mesma fé de sempre. É em vista da nossa salvação que, ainda hoje, o Senhor continua a suscitar vocações ao sacerdócio na sua Igreja, para que a sua graça, que regenera e salva o homem pecador, continue a ser dispensada a tantos quantos querem abandonar o caminho do mal, do pecado e da morte.
Portanto, temos diante de nós dois caminhos: a revolta contra Deus e a acomodação aos nossos pecados e às ambições mundanas ou a conversão, que nos coloca no caminho da salvação. Deus, no seu amor, continua a nos dirigir a sua Palavra, nos chamando à conversão, que esta sua iniciativa encontre em nós uma resposta corajosa de fé e de amor.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Jn 3,1-5.10 / Sl 24 (25) / 1Cor 7,29-31
Evangelho: Mc 1,14-20