“Pois Deus amou tanto o mundo…” (Jo 3, 16)
Neste mundo de peregrinos vivemos e existimos de maneira muito precária, sujeitos à enfermidades, a pecados, à morte, à perseguições, à guerras, à violência. O que pode nos levar a pensar que não somos amados, ou que fomos esquecidos e abandonados neste mundo à nossa própria sorte. Mas isto não é verdade! Deus nos ama e nos trata com misericórdia.
Embora sejamos feridos por tantos males, sejamos frágeis, somos objeto do amor de Deus. O mundo no qual habitamos é objeto do amor de Deus. Assim afirma São João: “Deus amou tanto o mundo…”. Entendamos aqui como mundo toda a realidade criada. Deus nos ama, Deus ama o mundo que criou, para a manifestação da sua glória. Também devemos amar este mundo, contribuindo para sua transformação praticando as boas obras.
Neste mundo não experimentamos apenas a dor, o sofrimento, a morte. Aqui também experimentamos o amor de Deus, a sua providência, o seu socorro, a sua misericórdia. A grande prova deste amor é Jesus Cristo, o Filho unigênito: “Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).
O Filho unigênito veio habitar este mundo para a nossa salvação. Ele não veio para nos condenar, mas para salvar-nos. A condenação é a pena daqueles que não creem em suas promessas, que não aderem ao Senhor pela fé, daqueles que “preferiram as trevas à luz” (Jo 3, 19).
Ninguém está obrigado a ter fé. Porém, sem fé em Jesus Cristo não há salvação. Sem a fé Nele não há verdadeira experiência de amor, não há reconciliação. Podemos ser incapazes de amar, Deus, no entanto, nos amará sempre, podemos até não crer em Deus, mas Deus acredita no ser humano.
Estamos sempre diante de duas possibilidades: a fé ou a incredulidade; a luz ou as trevas; a salvação ou a condenação; a luz ou as trevas; passar esta vida procurando realizar obras boas ou ações más; a verdade ou a mentira. Aqui é o lugar e o tempo das escolhas, que saibamos escolher viver de modo agradável a Deus. Pois esta vida temporal passa. O que nos aguarda? Salvação ou condenação? Depende das escolhas que fazemos nesta vida. Da parte de Deus a salvação nos foi dada.
A escolha de Deus para nós é que caminhemos na luz, no bem, na verdade, para que tenhamos a vida eterna. A vida eterna é Deus, de modo que quem vive na fé e pela fé, já a experimenta desde então. Enquanto somos peregrinos neste mundo carregado de ilusões, de solicitações, de fantasias, podemos até não sentir o peso da ausência de Deus em nossas vidas. Como muitos parecem não sentir. Porém, passada esta vida, privados das tentações ilusórias, a ausência de Deus, do seu amor, da sua comunhão, traduz-se num inferno.
A vida sem Deus, já aqui é um inferno, é uma condenação, pois “quem não crê, já está condenado…” (Jo 3, 18). Mas trata-se de um inferno disfarçado ou entorpecido pelos excessos, pelos bens, pelo poder, pela fama, pelas honras humanas. Quando isto tudo nos for tirado então nos daremos conta que a privação da comunhão com Deus trata-se de um inferno real.
Por fim, se Deus ama o mundo e quer salvá-lo, amemos a Deus, vivamos em Deus e para Ele. Se Deus não despreza o mundo não desprezemos a Deus e os seus mandamentos. Se o Senhor se aproxima de nós, aproximemo-nos de Deus. Se Deus é nossa vida, que nossa vida seja inteiramente para Deus.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: 2Cor 36,14-16.19-23 / Sl 136 (137) / Ef 2,4-10
Evangelho: Jo 3,14-21