Deus não desistiu de nós
Deus não desistiu de nós, prova disto é que temos o Emanuel, “Deus está conosco” (Mt 1,18). A promessa, outrora feita aos nossos antepassados de que “uma virgem conceberia o Emanuel” (Is 7, 14), foi cumprida. Talvez, como naquela noite de natal, muitos não percebem, ou se percebem, não acolhem o Filho de Deus, vindo ao mundo nascido da Virgem Maria, porque estão ocupados demais com as futilidades desta vida passageira.
O mesmo Filho de Deus que estava junto ao Pai desde toda a eternidade veio ao nosso encontro. Apesar das nossas infidelidades, apesar dos nossos pecados, o céu se curvou sobre a terra e em Cristo feito homem Deus nos oferece de novo uma aliança de vida e salvação. Sinal que a infidelidade do homem não é capaz de romper com a fidelidade de Deus, sinal que Deus não desistiu de nós. Disso nos dá testemunho a Oração Eucarística IV: “E quando pela desobediência perderam a vossa amizade, não os abandonastes ao poder da morte, mas a todos socorrestes com bondade, para que, ao procurar-vos, vos pudessem encontrar”.
Texto muito rico, que nos indica a desobediência como um colocar-se fora da amizade com Deus. Ou seja, a desobediência é um desistir de Deus para confiar em si mesmo, nas nossas próprias forças. Mas nem diante da nossa desobediência Deus não desiste de nós, como nos diz oração eucarística: “não os abandonastes ao poder da morte”.
Muito pelo contrário, o Senhor veio e vem continuamente ao nosso socorro com a sua bondade, com a sua graça, Ele não se escondeu, permitiu ser encontrado por nós. Mais do que Isso, Jesus, Nosso Salvador, tendo origem divina, Ele mesmo sendo Deus, veio ao nosso encontro para nos devolver a vida e a liberdade.
Jesus é o cumprimento de todas as promessas de Deus, Filho do Pai eterno, mas também Filho da Virgem Maria, no que diz respeito a sua origem humana. “Descendente de Davi segundo a carne” (Rm 1, 3). De modo que, no seio da Virgem Maria, Arca da Nova Aliança, realizou-se este grande encontro entre o divino e o humano, rompendo a história da infidelidade do homem com a força da fidelidade de Deus.
Aquele Menino que nasceu numa gruta em Belém, de quem os seus parentes, vizinhos e conhecidos se escandalizavam dizendo: “Não é ele o filho do carpinteiro? Não se chama a mãe dele Maria e os seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E as suas irmãs não vivem todas entre nós? Donde então lhe vem todas essas coisas? E se escandalizavam dele” (Mt 13, 55-57). Estes são como muitos homens do nosso tempo, para os quais Jesus não passa de um grande homem, um profeta. Pois, por não terem fé, desconhecem a sua origem divina.
Estes desconhecem que o Mesmo Filho da Virgem Maria foi concebido “pela ação do Espírito Santo”, foi “autenticado como Filho de Deus com poder pelo Espírito de Santidade que o ressuscitou dos mortos”, como nos diz São Paulo. Ele é a fidelidade de Deus, é nossa salvação, tem uma origem humana, porque é Filho da Virgem Maria; tem origem divina, porque é Filho de Deus. Por isso encontramos Nele a salvação, porque Ele é Deus conosco, Emanuel. Nele temos acesso a Deus.
Nosso Senhor é o grande sim de Deus dirigido a nós, nos chamando novamente à obediência, à amizade, à aliança da salvação. Sinal de que Deus jamais desistiu nem desistirá de nós. Por sinal, o Natal é festa, não porque é tempo de muita comida, bebida, farra, ou consumismo, Papai Noel ou árvore de natal. Isto tudo é desvio pagão. O Natal é festa porque, Nosso Senhor Jesus Cristo, “Verdadeiro Deus e Verdadeiro homem”, se encarnou, ou seja, se fez um de nós sem deixar de ser Deus, eis a razão da nossa alegria nestes dias que se aproxima.
Portanto, o Natal é festa do encontro com Deus, festa da salvação, festa da sua presença, da sua fidelidade. Deus não desistiu de nós. Também não desistamos do Senhor. Pois no vaivém deste mundo, a sua fidelidade para conosco é, de fato, a única coisa que permanece.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Is 7, 10-14/Sl 23 (24)/Rm 1, 1-7
Evangelho: Mt 1, 18-24