O que tem vos ocupado? Com que temos nos ocupado? Como gastamos o nosso tempo? Estas são perguntas que veem de encontro a realidade de um mundo de pessoas ocupadas ao extremo. Será que no meio de nossas ocupações há tempo para Deus? Que tipo de desocupação é esta que nos permite ir para a vinha do Senhor: “Viu outros que estavam na praça desocupados e lhes disse: ‘ide também vós para a minha vinha’ (Mt 20, 3-4).
À julgar pelo ritmo de vida do tempo presente, vivemos no mundo da ocupação, no qual Deus parece ter que disputar com uma multiplicidade de coisas um lugar na vida do homem. Deixar Deus ocupar o âmbito da nossa vida não é questão de ser mais ou menos ocupados, depende da adesão do coração. Pois quem pertence a Deus a Ele pertence em todas as circunstâncias: no trabalho, na comunidade, na família, no lazer, no estudo, no descanso.
A vida não é como um armário cheio de gavetas, no qual, se sobrar espaço/tempo, uma será dedicada para Deus. Desde modo Deus constituiria apenas um apêndice a mais em nossa vida. De modo que sua presença na vida se reduz aos momentos de culto, enquanto todas as outras realidades ficam privadas de sua presença. Deus não pode estar reduzido a uma gaveta do momento de culto uma vez na semana. Ele é nossa ocupação interior também quando estamos no trabalho, no descanso, no lazer, no estudo. Deus é a base não o acidente da nossa vida.
A desocupação que o Senhor espera de nós para nos chamar a trabalhar na sua vinha é a de um coração disponível a tornar-se sua morada. Ir para a vinha do Senhor é deixa-lo abarcar a totalidade do nosso ser e de nossas ações. Creio que o mundo está tão mutilado e as relações humanas tão vazias, porque relegamos a presença de Deus apenas aos momentos de culto. Fora deste âmbito a vida é um vale tudo, porque não aceitamos a presença de Deus, é onde Deus está ausente aí está o inferno.
Assim, compreendemos porque mesmo sendo cristãos assíduos a Eucaristia todos os domingos, fazendo nossa oração diária, o ambiente de trabalho, família, descanso, lazer está reduzido a um inferno. Se depois de cada Eucaristia, de cada momento de oração partirmos para a realização das responsabilidades terrenas e deixarmos o Senhor para trás o mundo fica muito difícil. Precisamos deixar Deus permear as realidades terrenas para transformá-las a partir de dentro com sua bondade.
Por fim, Deus chama os que estão desocupados para se ocuparem com sua vinha. É preciso estar desocupado das preocupações do mundo para ocupar-se de Deus. Ocupando-se de Deus o homem cumpre melhor suas ocupações terrenas, pois estando ocupado por Deus em tudo, nada se permite fazer contra o próximo. Desde modo as realidades terrenas vão sendo transformadas, renovadas. Assim, perigoso é o homem cujo coração não está ocupado por Deus e com Deus. Deus é uma ocupação que liberta, que salva o homem do sem sentido de suas ações terrenas.
Pe. Hélio Cordeiro.