“…no seu nome, serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados…” (Jo 24, 47)
O Senhor, depois de realizar toda obra que o Pai determinou, sobe aos Céus, mas não nos abandona na orfandade, pois nos enviou o Paráclito, o Defensor, o Espírito Santo, o Espírito de amor. Não estamos sós, o homem não é um solitário no mundo. Deus continua a agir em nosso meio através do seu Espírito Santo, aquele que renova todas coisas, para torná-las agradáveis a Deus. Assim, misteriosamente o Senhor está na glória dos Céus, mas também caminha conosco pelos caminhos da história.
A certeza da sua presença nos arranca da paralisia, não podemos ficar parados olhando para o Céu (cf. At 1, 10), nem amargurados com as coisas da terra. O dom do seu Espírito nos constituiu suas testemunhas: “Mas recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas…até os confins da terra” (At 1, 8). Ser testemunha significa tornar Jesus Cristo presente no mundo com a vida e com o anúncio. É preciso ser testemunha aqui para conquistarmos a coroa do Céu.
O testemunho da vida é para que vejam, e vendo possam crer. O anúncio da palavra é para que escutem, para que escutando se convertam. Seria incompleto o testemunho que se restringisse apenas ao testemunho silencioso da vida, dando a entender que o anúncio é apenas o resultado do empenho e da fidelidade do homem, enquanto que o vigor da palavra é sustentado pela fidelidade de Deus. Também incompleto seria o testemunho apenas da palavra, privado do testemunho da vida, o que daria a aparência que o Evangelho é apenas para os outros não para aqueles que o anunciam. O que exporia os discípulos ao risco, sempre presente do farisaísmo. Pois, uma das características dos fariseus era considerar a Lei um bem, porém, somente para os outros, como se esta não lhes tocasse, não lhes chamasse também à conversão.
O conteúdo do anúncio é destinado também para aqueles que já foram feitos testemunhas, ou seja, para todos nós. Também quem anuncia é chamado à conversão e precisa fazer a experiência da reconciliação: do perdoar e ser perdoado. Segundo o mandato de Cristo, o anúncio contempla duas realidades: “Serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados” (Lc 24, 47).
Anunciar a conversão e o perdão dos pecados, é anunciar a misericórdia de Deus, da qual todos nós temos necessidade. Porque todos somos pecadores e precisamos de conversão. Sem esta abertura da nossa parte para a conversão, para deixar-se reconciliar com Deus e com o próximo, a credibilidade do anúncio fica prejudicada. E nossa condição de testemunhas fica ofuscada.