“Vivei em paz, e o Deus de amor e paz estará convosco” (II Cor 13,11)
Deus Uno e Trino é um “mistério inefável”, que só podemos tocar pela fé, graças a Revelação que no-lo deu a conhecer. Pela via racional o homem pode chegar ao conhecimento da existência de Deus, mas não tem, por si mesmo, a capacidade de chegar a conhecer a Deus na sua vida íntima. Sabemos, pois, que o Deus vivo e verdeiro é Uno e Trino, porque o Filho nós revelou o Pai e nos concedeu o dom do Espírito Santo. Por isso cremos na Trindade.
Crer na Trindade é crer na comunhão, na vida, no amor, na salvação. Porque o Deus Uno e Trino é um mistério de comunhão, de vida e de amor. Não é por acaso que quando Moisés recebeu as tábuas da Lei ela estava dividida em duas tábuas de pedra. Uma única Lei duas tábuas. Assim como há um único Deus, Uno e Trino, há também um único amor em duas vias inseparáveis: o amor a Deus e o amor ao próximo.
Deus é, na sua essência, bondade, amor, misericórdia, compaixão. “Javé, Javé Deus compassivo e misericordioso, lento para a cólera, rico em bondade e em fidelidade” (Ex. 34,6). Se esta é a natureza de Deus, qualquer espécie de violência é uma negação de Deus, uma negação da sua natureza, uma negação do ser humano. Foi fundamentado neste princípio que o Papa Bento XVI afirmou, no famoso “Discurso de Regensburg”, citando o imperador bizantino Manuel II, o Paleologo, “que a violência é contrária a natureza de Deus”.
Qualquer espécie de fé que se proponha a impor-se pela violência é uma fé falsa, caricaturada, direcionada a um ídolo. Uma vez que a fé no Deus vivo e verdadeiro, Uno e Trino, se expande por atração, pelo autêntico testemunho dos crentes e pelo anúncio corajoso do evangelho. Não por meio de perseguição e violência. A violência, mesmo ‘em nome de Deus’ seria uma traição ao Senhor, a mais absurda das violências. Neste sentido precisamos manisfestar um veemente repúdio aos sistemas teocráticos que impõem determinados credos com violência e perseguem os de tradições religiosas diversas. Como determinados países, comunistas ou islâmicos, os quais negam aos cristãos o direito de professar a própria fé ou até mesmo o direito a cidadania. Ou ainda os ataques que a Igreja vem sofrendo, em diversas partes do mundo, pelo laicismo ateu ocidental ou por membros de seitas ‘cristãs’ fundamentalistas. Como os dois casos recentes na Paróquia São Sebastião em Uruaçu e na Paróquia Sagrado Coração de Jesus em Goianésia, atacada por malucos instrumentalizados por seitas fundamentalistas.
“Vivei em paz, e o Deus de amor e paz estará convosco” (IICor 13,11). Onde há paz e homens que promovem a paz o Deus de amor se faz presente. Deus habita na paz, a sua natureza não comporta violência. Deus nos ama e quer que vivamos em paz. Deus nos ama dando-se a si mesmo a nós em seu Filho Jesus Cristo – Ele é nossa paz.
Reproduzimos este amor quando fazemos também da nossa vida uma doação ao próximo, cuidando com carinho e respeito da família, sendo justos nos negócios, estendendo a mão aos necessitados, estando próximo dos doentes, pobres, solitários, prisioneiros e idosos; se empenhando pelo bem comum, evitando depredar a criação e transformando o mundo pelo bem, pelo empenho social, apostólico e pastoral. Assim estaremos manifestando o rosto de Deus ao mundo.
Estas são consequências muito práticas da adesão de fé ao Deus Uno e Trino. Crer Nele é nossa salvação, não crer Nele é condenação. Porque o homem sem Deus, entregue a si mesmo, não pode salvar-se do pecado, do seu ímpeto de violência, de pecado, de ambição, de soberba, de maldade. Somente o Deus vivo e verdadeiro, Uno e Trino, na sua bondade, pode nos salvar.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Ex. 34,4-6.8-9/ Dn 03 / II Cor 13,11-13
Evangelho: Jo 3,16-18