“Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado” (Jo 3, 22)
Ao aproximar-se a Sua paixão, a sua hora, Jesus vai revelando sempre com maior nitidez a sua divindade e a sua humanidade. No que se refere à sua divindade sobressai a manifestação da sua glória, a sua glorificação: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado” (Jo 12, 23).
Mas o que é a glória de Deus? Esta não se confunde com a glória dos homens. Enquanto a glória dos homens consiste na manifestação de fama, poder, superioridade, na busca desenfreada para ganhar a própria vida; a glória de Deus é sua santidade, sua bondade, sua ternura. Em Jesus Cristo se revela um aspecto novo da glória de Deus – a Cruz.
Na cruz o Pai glorifica o Filho e o Filho glorifica o Pai: “Eu o glorificarei e o glorificarei de novo!” (Jo 12, 28). No seu sacrifício Jesus manifesta sua glória ao mundo. Glória que consiste numa entrega fecunda, uma morte que gera a vida. À exemplo do grão de trigo que lançado na terra produz frutos em abundância.
Como discípulos de Jesus podemos participar já agora da sua glória no que diz respeito à entrega da própria vida. Sacrificar a própria vida por amor, passar esta vida servindo ao Senhor é, em certa medida participar da glória de Deus.
Com sua manifestação gloriosa na cruz, Jesus nos ensina que vida fecunda é aquela que se faz doação, que se faz serviço a Deus e aos irmãos. Enquanto que uma vida que não se sacrifica por amor, que não serve aos outros, torna-se uma vida inútil.
A ausência desta disposição para o sacrifício tem levado muitas pessoas ao fracasso. Seja no matrimônio, no sacerdócio, na vida religiosa, na vida laical e consagrada, na vida profissional. Porque na ânsia de querer ganhar a própria vida, muitos, movidos por ambições e desejos mundanos, não querem sacrificar o seu tempo, seus bens, sua inteligência em favor dos outros. Por falta da capacidade do sacrifício não querem levar uma vida de fidelidade aos compromissos assumidos e terminam por ofuscar a glória de Deus no mundo. É o que acontece quanto procuramos nossa própria glória e nos acomodamos numa vida cômoda, organizada segundo nossos caprichos.
O desapego da própria vida passa por ser capaz de amar as pessoas com realismo; por assumir a própria vocação com fidelidade e responsabilidade. Os pais que se sacrificam para a geração e a educação dos filhos. Os esposos que se sacrificam, se perdoam, se respeitam, se ajudam e se reconciliam movidos por um amor sincero. Os sacerdotes e religiosos que se gastam para gerar Cristo nos corações humanos. Os profissionais, das mais distintas áreas, que realizam seu trabalho com empenho e responsabilidade, porque acreditam que as coisas feitas por amor podem tornar este mundo dos homens um pouco melhor.
Assim, o cristão passa por este mundo sem chamais procurar glórias e reconhecimento humano. Seu interesse é ser no mundo um pequeno reflexo da glória de Deus. Os homens de hoje não podem ver Jesus, como era o desejo de alguns gregos que subiram a Jerusalém para adorar: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus” (Jo 12, 21). No entanto, podem ver o testemunho dos que Creem Nele. Testemunho este do qual o mundo precisa.
Um testemunho de vida voltado para Deus, para a comunhão e para o serviço aos irmãos. Que não se deixa iludir pelas pompas do mundo, que opta por viver na verdade, na justiça e caridade, fiel aos compromissos cristãos. Nesta vida procuramos manifestar ao mundo a glória do Senhor, e somos discípulos; ou procuramos nossa glória pessoal e não passamos de pagãos. Porque é típico do paganismo procurar as glórias humanas, enquanto é típico do cristão procurar a glória de Deus. O que somente é possível com a renúncia à própria vida, para viver a vida de Deus.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Jr 31,31-34 / Sl 50 (51) / Hb 5,7-9
Evangelho: Jo 12,20-33