“Vós sois sal da terra… Vós sois luz do mundo”
Um dos primeiros nomes dados ao sacramento do Batismo na antiguidade cristã foi o de “iluminação”. A este respeito encontramos na Palavra de Deus a seguinte exortação: “Lembrai-vos, contudo, dos vossos primórdios: apenas havíeis sido iluminados, suportastes um combate doloroso” (Hb 10, 32). Ou seja, apenas havíeis sido batizados, se tornado luz.
Assim, fazer-se cristão católico é fazer-se luz do mundo com Cristo que é a Luz. Daí a importância da recepção da luz no rito do batismo, símbolo do Cristo Luz, símbolo da fé, símbolo daquilo que devemos ser: “Luz do mundo”.
Ora, como bem sabemos a luz é para ser vista, é para iluminar, é para dissipar as trevas. Disto decorre a indicação de Jesus para seus discípulos: “Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte” (Mt 5, 14). De modo semelhante não pode passar despercebido do mundo aquele que se fez cristão, que vive como cristão, que se tornou luz do mundo pelo batismo.
A luz se evidencia justo por ser essencialmente distinta das trevas, por não compactuar com ela. Assim também o cristão católico que está no mundo, mas não pensa, não vive e não age como o mundo. Antes sua vida brilha na medida que não se deixa escravizar pela opinião dominante, pelos achismos, pelos modismos, que são tantos em nosso tempo.
Esta, infelizmente é a situação de muitos católicos e mesmo de muitos pastores (padres e bispos), que terminam por abraçar e propagar um evangelho aguado e falsificado que em nada se difere do delírio mundano, para o qual tudo é “normal”: o desprezo pela penitência, pela vida, sodomia, fornicação, relações adúlteras e prostituídas, consumismo. Isto é a inversão do evangelho, uma traição a Cristo Nosso Senhor.
Quando ocorre de um cristão assumir um estilo de vida pagão, mundano, como tristemente acontece largamente, ele se torna como sal insosso, sem sabor, sua vida não serve para a edificação dos irmãos nem para a glorificação de Deus. Ou para usar a linguagem de Nosso Senhor: “Ele não serve para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens” (Mt 5, 13).
O católico que se tornou sal insosso é aquele cuja vida é para servir ao mundo, suas modas, suas vontades, seus caprichos. Quando sua vida neste mundo deveria ser para o serviço de Deus, para dar gosto, ou seja, para se gastar pelo bem, pela verdade, pela justiça, pela fé, pela caridade.
Ser sal da terra é ter a coragem de viver como Cristo quer que vivamos, amar como Ele quer amemos, servir como Ele quer que sirvamos. Católico que não reza, que não prática as obras de misericórdia, que não se compadece de quem sofre, dos pobres, que não tem amor pela eucaristia, que não se confessa, que não partilha os seus bens, é como sal insosso, perdeu a serventia. Católico que é sal da terra vive como católico, não como pagão.
Ser luz do mundo é a vocação própria dos discípulos de Jesus, é a exigência do testemunho, de passar por este mundo como passou Nosso Senhor, “fazendo o bem a todos”. Mas somente seremos luz se tivermos a coragem de viver, pensar e agir de modo diferente daquilo que vive, pensa e faz aqueles que não conhecem a Cristo Nosso Senhor e seu evangelho ou que O rejeitam.
A luz é capaz de iluminar justo porque ela é o oposto das trevas, porque não se deixa enlear pelas trevas. Também não podemos nos deixar envolver pela mentalidade mundana, senão deixaremos de ser luz. Assim é luz para o mundo aqueles que vivem o seu matrimônio com amor, fidelidade, respeito, diante das trevas de um mundo prostituído.
É luz para o mundo os jovens cristãos que vivem a castidade, que cultivam a pureza de coração, diante das trevas de um mundo erotizado. É luz para o mundo as pessoas que vivem na sobriedade, diante das trevas representada por toda espécie de vícios. É luz para o mundo quem está disposto a perdoar e a pedir perdão diante de um mundo dominado pelo ódio. É luz para o mundo os cristãos católicos que vivem o dia de domingo como dia do Senhor, cujo centro é Santa missa, dia de descanso, de sadia convivência familiar, de lazer equilibrado e sadio, de socorrer as necessidades do próximo. O que se opõe as trevas da escravidão das euforias incontidas promovidas abundantemente nas baladas da noite, que reduzem o ser humano a um mero consumidor de ilusões.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Is 58, 7-10/Sl 111 (112)/ICor 2, 1-5
Evangelho: Mt 5, 13-16