“Um leproso chegou perto de Jesus…” (Mc 1,40)

O texto do evangelho para o dia de hoje começa com uma notícia surpreendente: “Um leproso chegou perto de Jesus…” (Mc 1,40). Ora, bem sabemos que o Levítico estabelece que o leproso devia ser apartado do convívio social (cf. Lv 13,45-46). Por sua enfermidade estava condenado a viver no isolamento, o que prevaleceu até tempos muito recentes, devido seu potencial de contágio, o preconceito e o pouco avanço quanto ao tratamento da mesma. Por isso que um leproso que se aproxima do Senhor é um fato extraordinário.

Se um leproso, que segundo o Levítico devia ficar isolado e distante de todos, pode aproximar-se do Senhor e ter sua vida transformada, por que não podemos também nós, que carregamos tantas lepras, nos aproximar Dele, receber sua compaixão, ser tocado por Ele? Jesus está ao nosso alcance, Ele quer nos tocar, quer nos transformar com sua compaixão. Não importa a lepra que esteja lhe corroendo, aproxima-te do Senhor! Ele é maior do que as lepras que lhe corroem o corpo e a alma.

Não podemos ficar apegados às nossas lepras. Sim, isto mesmo! Não podemos ficar apegados às nossas lepras! Porque o ser humano tem capacidade de acostumar-se até mesmo com o que é ruim, mau, destrutivo. E há muitos que não querem ser curados de suas lepras mortais, preferem seguir obstinadamente nos seus pecados, na falta de fé, na indiferença, na violência, no crime, na fornicação, no adultério, no roubo, na rebeldia. Há muitos que preferem continuar caminhando sozinhos, para não ter que mudar de vida, porque não querem converter-se, porque não querem transformar sua maneira torta de pensar. Preferem andar nas trevas do que ser transformados pela luz.

Há uma legião de leprosos, acometidos de lepras que destroem o corpo e a alma, mas que preferem fugir de Deus, que preferem abandonar a Igreja, os sacramentos, a Eucaristia, a oração, a família, a comunidade, o evangelho, a fé. Quando deveria abandonar os seus pecados. Sem a proximidade com o Senhor nossa vida não se transforma, não nos convertemos, nossa alma continua a sangrar, ferida pelos vícios e pecados.

Hoje o Senhor nos convida a deixa-Lo tocar nossas chagas. Não importa quão dolorosas ou profundas elas sejam. A compaixão do Senhor é capaz de curar todas as feridas. Mesmo aquelas que carregamos no mais restrito segredo. Mesmo aquelas, que muitas vezes são escondidas até mesmo do confessor. Não tenha medo! Deposite suas lepras aos pés do Senhor.

E uma vez transformados por sua compaixão, curados das lepras mortais que carregávamos, façamo-nos também próximos dos que, devido suas lepras, estão sós, abandonados, desprezados, abandonados, humilhados, perseguidos, prisioneiros, com fome, desempregados, sem esperança, sem fé, não evangelizados, esquecidos.

Assim, como tudo aquilo que fere o ser humano suscita a compaixão da parte de Jesus, as dores e as feridas humanas, sejam quais forem, devem suscitar a compaixão, a caridade por parte daqueles que são seus discípulos.

Fico pensando que certamente houve quem quisesse impedir o leproso de aproximar-se de Jesus Cristo. Como há muitos fiéis superficiais que acabam por impedir que muitos outros leprosos se aproximem do Senhor. Seja pelo contratestemunho, são batizados, mas vivem como se fossem pagãos. Ou porque julgam já serem santos e por isso olham e tratam com desprezo os outros.

Quem teve sua vida transformada pelo Senhor, quem foi tocado e transformado por sua compaixão, necessariamente transforma-se num instrumento para que os outros possam viver a mesma experiência. Não podemos esconder do mundo as maravilhas que o Senhor realizou e continua a realizar todos os dias em nossa vida. Como o leproso do evangelho, uma vez purificado, transformado pela compaixão, “Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato” (Mc 1,45). Mesmo tendo Jesus ordenado com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém!” (Mc 1,44). Aqui temos um exemplo de desobediência santa.

Não podemos esconder do mundo as maravilhas do Senhor. Deixemos nosso orgulho de lado, aproximemo-nos Daquele que tem o poder de nos purificar, de nos arrancar do isolamento, da solidão, da desesperança, do pecado, da incredulidade; Daquele que tem o poder de nos devolver a vida – Jesus Cristo. Eu quero: fica curado!” (Mc 1,41). É consolador saber que, embora carreguemos tantas feridas, a alguém que quer e tem o poder de nos curar – Jesus Cristo!

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Lv 13,1-2.44-46 / Sl 31 (32) / 1Cor 10,31-11,1
Evangelho: Mc 1,40-45