A Lei deve estar escrita no coração
Prosseguindo a leitura do Evangelho segundo São Mateus hoje o Senhor vem nos convidar a entrar na dinâmica da nova Lei, fundada na fé e no amor. No centro desta nova Lei, desta nova justiça se encontra não a observância de uma lei, mas a graça de um coração reconciliado com Deus e com os irmãos.
Os fariseus, fundados na sua compreensão de justiça, se contentavam em assegurar a observância exterior da Lei e a pratica de determinados ritos religiosos. No entanto, descuidavam da conversão interior, da transformação do coração, da reconciliação com o próximo. Jesus Nosso Senhor, pelo contrário nos convida a ir além, a ultrapassar a justiça dos fariseus. Tanto que nos exorta: “Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5, 20).
A limitação da justiça dos fariseus é que ela se contentava com a exterioridade, enquanto o coração permanecia endurecido pelo ódio, pelo rancor, pela violência, pela indiferença. É neste contexto que o Senhor vem nos lembrar que um coração reconciliado com Deus e com o próximo vale muito mais do que todos os sacrifícios e oferendas.
É neste sentido que Jesus nos diz: “quando tu estiveres levando a tua oferta para o altar, e aí te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta aí diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão” (Mt 5, 25-26). É certo, que precisamos socorrer a Igreja com nossas ofertas, com o dízimo, mas estes devem ser a expressão exterior de um coração que ama, que perdoa, que crê.
O Senhor deseja ardentemente como oferta da nossa parte a graça da reconciliação, de um coração reto, que não se encoleriza contra o irmão, que seja fiel ao matrimônio, que nutra verdadeiro amor e estima pelo próximo, que não se deixa contaminar pelo delírio do erotismo e das paixões desordenadas. Assim, Nosso Senhor nos leva a compreender que a Lei deve estar escrita no coração, para depois se manifestar na vida dos que creem.
A Lei e a justiça levadas a sua plenitude por nosso Senhor exige dos que creem a valorização da vida do próximo, da sua boa fama, da sua integridade. Exige a reconciliação com Deus e com o próximo, a disposição de uma vida reconciliada. Exige a valorização da comunhão da vida matrimonial e o devido respeito por sua santidade. Exige a purificação das intenções que carregamos no coração. Exige a fidelidade a Deus: “Seja o vosso ‘sim’: ‘Sim, e o vossO ‘não’: ‘Não’. Tudo o que for além disso vem do Maligno” (Mt 5, 37).
O que significa que somente podemos seguir por um único caminho: o da virtude ou o do pecado, o da vida ou da morte, o da benção ou da maldição, o da salvação ou o da condenação, o do bem ou o do mal, o da fé ou a da incredulidade, o do amor ou o do ódio, o da mentira ou da verdade. Temos que nos decidir! Pois como nos diz o Senhor: “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6, 24), como não podemos seguir por dois caminhos diferentes ao mesmo tempo.
Todos nós temos um só coração, uma só vontade, uma vida somente, portanto, podemos servir apenas a um só Senhor; podemos aderir a uma só Lei, a uma só justiça, que esta seja a Lei do evangelho, do amor e da fé. Somente nós somos divididos, sujeitos a dizer sim num momento e depois dizer não. Deus, pelo contrário é somente sim, e o seu sim por cada um de nós é para sempre.
Que o sim de Deus, que nos foi dado em Jesus Cristo, encontre da nossa parte como resposta também um sim corajoso. Um sim que possa transformar a nossa vida segundo o querer de Deus; um sim ao amor, um sim ao perdão, um sim à eucaristia, um sim ao irmão, um sim à própria vocação, um sim à graça de Deus, um sim à salvação. E que do lado deste sim possamos também dizer um não firme ao mal, ao pecado, ao demônio e suas obras, à violência, ao medo, à covardia, às intrigas.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Eclo 15, 16-21/Sl 118 (119)/ICor 2, 6-10
Evangelho:Mt 5, 17 – 37