O gênero de vida que levamos revela quem somos

O evangelho deste domingo nos oferece algumas imagens que nos ajudam a compreender quão sincero e profundo deve ser o nosso comprometimento com Cristo e o seu evangelho. Em primeiro lugar aparece a imagem do cego, ao que o Senhor questiona aos discípulos: “Pode um cego guiar outro cego?” (Lc 6,39).

Cego é aquela que se encontra privado da luz da fé, a cegueira é a condição dos que não creem em Cristo, porque Ele mesmo se revela como luz: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). Há em nosso tempo muita cegueira, porque é grande a falta de fé, são numerosos os cegos guiados por outros cegos. Que conduzidos pela soberba humana ocupam o lugar de Nosso Senhor Jesus Cristo, arrastando a muitos para a cegueira da indiferença, do ódio, do desprezo para com a fé, para coma Igreja. Como vimos recentemente uma turba de cegos intolerantes, dominados pelas ideologias dominantes invadirem a celebração da santa missa em Curitiba.

A segunda imagem que aparece é a do cisco, quando Nosso Senhor nos adverte: “Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho?” (Lc 6,41). Realmente somos mais dados a ver o mal praticado pelos outros do que reconhecer o mal que praticamos. Tirar o cisco do próprio olho e ter a capacidade de reconhecer nossos próprios erros e pecados. É ter a coragem de ocupar-se consigo mesmo, de corrigir primeiro a nossa vida, antes de ter a pretensão de corrigir a vida alheia.

Claro que temos o dever da caridade da correção fraterna, que é necessária: “Se teu irmão pecar, vai corrigi-lo a sós” (Mt 18,15). Porém, ao corrigir o irmão é preciso faze-lo sempre com caridade, sem expor sua vida a ninguém. Ademais, ao corrigir o próximo lembremos sempre que também somos necessitados de correção e de conversão. Sem correção muito dificilmente nos abriremos à graça da conversão.

A terceira imagem destacada pelo evangelho é a da árvore: “Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons” (Lc 6,43). Seria uma aberração uma árvore que produzisse frutos distintos daqueles que foram de antemão dispostos por sua natureza. De árvore boa se espera frutos bons, de árvore má se espera frutos ruins. Dos católicos se espera vida cristã, não vida pagã.

Se alguém disser que é católico, mas não tem vida sacramental constante, não se confessa com frequência, não participa da missa aos domingos, não reza, não ajuda quem precisa, não ama o próximo, não assume suas responsabilidades familiares e profissionais, seria uma aberração. Pois não é possível ser católico, ou permanecer católico sem assumir um estilo de vida cristão. Se alguém se diz católico, mas vive como pagão, é cristão somente de nome não de fato.

O gênero de vida que levamos revela quem somos e a quem pertencemos. Se pertencemos a Cristo e a sua Igreja, nossa vida precisa ser moldada pelo evangelho. O estilo de vida que testemunhamos revela quem habita o nosso coração. Por isso, a vida de um católico precisa exalar o odor suave de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Sejamos católicos de fato não somente de nome, como é comum em nosso tempo. Católicos que não amam a Cristo, nem sua Igreja, não servem para a obra do Senhor. Seria uma farsa um médico que não frequentasse o hospital; o estudante que não frequentasse a universidade; o comerciante que não gostasse das relações comerciais. Muito mais aberrante é alguém que se diz católico e não tem vida cristã, não ama a Igreja, não se coloca à serviço da obra de Cristo, para à qual está destinada recompensa sem igual. Se somos católicos temos que nos empenhar incansavelmente na obra do Senhor. Como nos exorta São Paulo: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e inabaláveis, empenhando-vos cada vez mais na obra do Senhor, certos de que vossas fadigas não são em vão, no Senhor” (ICor 15,58).

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Eclo 27,5-8 / Sl 91 (92) / 1Cor 15,54-58
Evangelho: Lucas 6,39-45