Jesus é o Pastor que se faz pasto
A liturgia deste domingo coloca em evidência a imagem do pastor e seu agir diante das ovelhas. Inicia-se com a repreensão aos falsos pastores, que deixaram as ovelhas dispersarem, até chegar a Jesus Cristo, o Pastor dos pastores que vê e tem compaixão das multidões abatidas e cansadas.
Em Jesus Cristo, Pastor dos pastores, compreendemos que o pastor não existe em função de si, mas em razão do rebanho que lhe foi confiado. Compreendemos que não são as ovelhas que devem sacrificar-se pelo pastor, mas o pastor é que dá vida pelas ovelhas.
Jesus Cristo, Pastor dos pastores, vai mais longe ainda, Ele não apenas conduz, encaminha, reúne, ensina, dá segurança e alimenta o rebanho, Ele é o Pastor que se faz pasto, ao nos alimentar com o seu corpo e com o seu sangue na Eucaristia. Cristo é o Pastor que dá vida ao rebanho com a sua própria vida.
É este pastor que vai à frente do seu povo, que conduz a sua Igreja. Fora Dele ninguém é pastor, longe Dele ninguém é ovelha. É Nele que devem se espelhar aquele que exerce qualquer função de pastoreio: O papa diante da Igreja Universal; o bispo diante da sua diocese; o padre diante da sua paróquia; o pai e a mãe diante das suas famílias.
Com Jesus aprendemos que sem capacidade para ver e para sentir compaixão não é possível ser pastor. Ver aqui não se trata apenas enxergar no sentido físico, mas ser capaz de perceber que alguém está sofrendo, sem que ela mesmo manifeste isso. E vendo seu sofrimento deixar-se mover por compaixão. Ou seja, com-patire, assumir o seu sofrimento como se fosse seu.
A compaixão, própria do pastor, é esta capacidade de não ficar indiferente diante do sofrimento alheio, da sua pobreza, das suas necessidades materiais e espirituais, dos seus dramas. É bonito ver como Jesus começa por ver, por mover-se de compaixão e termina ensinando “muitas coisas” à multidão.
A compaixão do pastor o move a conduzir seu rebanho pelos caminhos mais seguros, pela preocupação em alimentar o rebanho que está com fome; em arranca-lo da ignorância com o ensino da boa nova. Este modo do agir pastoral de Jesus precisa ser o modo do agir pastoral da Igreja. Uma pastoral que se preocupa quando um irmão está com fome, sem o que vestir, sem moradia, sem trabalho, abandonado ou doente. Mas que também se preocupa em ensinar aqueles que ignoram os tesouros do evangelho e da fé.
O que nos recordou recentemente o Cardeal Robert Sarah em Valencia, na ocasião em que recebia o título de doutor honoris causa, que a Igreja não pode ser somente a Igreja da caridade, como muitos querem. A Igreja é e será sempre a Igreja da fé no ressuscitado. A Igreja não pode ser também somente a Igreja da fé, porque esta sem a caridade estaria mutilada. A Igreja do Bom Pastor é a Igreja da fé que atua pela caridade, do ver, da compaixão e do ensino.
A Igreja é a continuadora da missão pastoral de Jesus Cristo, como tal não pode renunciar ao ensino, à transmissão da fé, nem pode ralentar-se na caridade, na compaixão, na capacidade de ver lá onde o sofrimento é mais atroz, lá onde se encontram os mais esquecidos. Esta nossa vida é passageira, mas a nossa comunhão com o “Pastor e guia de nossas almas” (IPd 2,25), com o Pastor que se faz pasto na Eucaristia, deve fazer desta vida um pequeno reflexo do céu.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Jr 23,1-6 / Sl 22 (23) / Ef 2,13-18
Evangelho: Marcos 6,30-34