O amor é a porta estreita que nos abre caminho para a salvação
Amados irmãos e irmãs, o tempo antes da encarnação de Jesus Cristo era o tempo da espera. O tempo depois da sua encarnação até a sua vinda gloriosa com Juiz é o tempo do anúncio, da misericórdia, da conversão e da graça, o tempo da porta aberta. Que é o tempo que nos prepara para a experiência do juízo. Após o qual a porta se fecha.
Portanto, o nosso tempo é o da espera do juízo, mas também é o tempo da urgência do anúncio, da conversão, da graça e da misericórdia. Ou comp afirmou o Papa Bento XVI em sua homilia de abertura da V Conferência em Aparecida, que o tempo entre a ‘ida’ e a ‘volta’ de Jesus é o tempo “da Igreja, tempo do Espírito Santo: Ele é o Mestre que forma os discípulos…” Vemos esta urgência na vida de Jesus Cristo que, com grande diligência, “atravessava cidades e povoados, ensinado e prosseguindo o caminho para Jerusalém” (Lc 13, 22). Esta urgência do anuncio precisa continuar na vida e na missa da Igreja.
Mas o que Jesus ensinava? Ensinou a cuidar dos pobres, enfermos, viúvas, órfãos, prisioneiros, dos pequenos (cf. Mt 25, 31-46); ensinou a amar e rezar pelos inimigos (cf. Mt 5, 33-48); resumindo, nos ensinou a amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo (cf. Mc 12, 28-34).
De modo que o amor está no centro do ensinamento de Jesus, como também é o amor que precisa estar no centro da vida dos seus discípulos. É o amor que nos abre a porta da salvação. É no amor que encontramos a resposta para a provocadora resposta que alguém dirige a Jesus quando Ele subia para Jerusalém: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” (Lc 13, 23).Amar é percorrer o caminho estreito que nos conduz à salvação, porque o amor não morre nunca. Assim, amar é uma forma de se eternizar.
Noutras palavras somos salvos pelo amor, porque o amor é Deus (cf. IJo 4, 8). Logo, a nossa preocupação quanto à salvação não deve ser matemática, quantitativa, mas o como? Tanto que Jesus não responde ao seu interlocutor dizendo se são muitos ou se são poucos os que se salvam. Apenas esclarece que o caminho que leva à salvação é um caminho exigente, porque o caminho do amor é exigente.
Hoje as pessoas costumam se esforçar para serem felizes, para serem amadas, para serem aceitas, para terem sucesso. Enquanto Jesus nos ensina que o esforço essencial da nossa vida é para amar, porque é amando que somos salvos.
Dentro da compreensão cristã, a essência do amor está no fato que Deus nos amou por primeiro. Como canta o salmista, “comprovado é seu amor para conosco” (Sl 116). A comprovação deste amor chega ao seu ponto alto na cruz. Embora se manifeste também em tantos pequenos milagres de cada dia: no alimento que nos é dado, no teto que nos protege do frio e do sol, na água que bebemos, na saúde que gozamos, no descanso, nas pessoas que nos cuidam e nos amam.
O amor de Deus por nós é um amor provado e comprovado, sempre fiel. Assim, optar por Deus é a escolha mais sensata da nossa vida. É o seu amor que nos convence da necessidade da conversão, que nos abre à vida da graça e à sua misericórdia. É o seu amor que mantém em nós a esperança do juízo.
Amor e salvação andam lado a lado. Somente o amor pode nos salvar. De modo que esforçar-se para salvar-se é esforçar-se para amar. Podemos até tentar outras vias de salvação, mas sem amor não temos acesso a Deus. Por isso, o Senhor nos adverte: “Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão” (Lc 13, 24).
Onde há amor cessa-se os interesses, as pretensões, o medo, a obrigação. Podemos até ser pessoas que louvam a Deus, que escutam o anúncio da Boa Nova, que participam da Eucaristia todo domingo. Como alguns argumentarão com o Senhor: “’Nós comemos e bebemos diante de ti e tu ensinaste em nossas praças!’ Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça!’” (Lc 13, 27). Mas se falta o amor, falta o essencial. Aliás a Eucaristia é a atualização sacramental da mais alta manifestação de amor – Deus que entrega seu Filho para nossa salvação.
Por fim, que o amor seja a única razão pela qual vivemos a nossa fé, para estendemos a mão a quem precisa. Pela qual procuramos uma constância na vida sacramental. Porque somente o amor engrandece a Deus e salva o homem.