“A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68)

Na conclusão do capítulo 6 do evangelho de São João, depois da riquíssima catequese sobre a Eucaristia, nos encontramos diante de duas realidades opostas: a incredulidade e a fé de muitos dos discípulos de Jesus. Agora já não são os judeus que murmuram contra o realismo da Eucaristia, mas “muitos entre os discípulos”.

Não é de hoje que entre os discípulos de Jesus há muitos que creem, que são testemunhas luminosas da fé e do evangelho. Mas é bem verdade que há muitos que vivem na incredulidade, Jesus mesmo denuncia esta realidade: “Mas entre vós há alguns que não creem” (Jo 6,64).

Esta incredulidade de muitos que carregam o nome de discípulos se manifesta em relação a Eucaristia, de muitos modos. Pela indiferença, que é comum entre aqueles que foram batizados, que se fizeram discípulos, se fizeram católicos, mas sequer se preocupam de ir a missa aos domingos. Fazem do domingo não um dia para servir ao Senhor, mas um dia para servir aos seus próprios caprichos.

Há outros que até vão a missa todos os domingos, mas cuja fé é muito pequena, não se preparam bem para a celebração. Não se preocupam em fazer uma boa confissão para bem participar da Divina liturgia, às vezes se aproximando da comunhão, mesmo estando em pecado mortal, sem a preocupação de antes se confessarem.

Esta falta de fé, na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia, se manifesta tanto na falta de disposição interior como no desleixo exterior. Quantas pessoas que vão à Santa Missa sem a devida referência no vestir, com bermudão, boné, roupas decotadas que expõem o corpo. Dando a entender que estão ali mais para serem vistos do que para se encontrarem com o Senhor na Eucaristia. O valor que damos à Eucaristia, a fé na presença real de Cristo se revela também na dignidade da nossa apresentação pessoal. Nosso Senhor Jesus Cristo é nosso Rei, ninguém se apresenta diante de um rei, ainda mais se tratando do Rei do Céu e da terra, trajado de qualquer jeito.

Esta crescente incredulidade de muitos discípulos de Jesus se manifesta, ainda, na contradição em pertencer a Cristo, no entanto, viver servindo a outros senhores. Se somos de Cristo precisamos afirmar como Josué: “…escolhei hoje a quem quereis servir… Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor” (Js 24,15). Se somos discípulos de Jesus e não procuramos servi-Lo, nossa vida se torna inútil, nossa fé digna de desprezo.

Supliquemos ao Senhor que arranque de nós a dureza de coração que nos impede de compreender e de viver segundo o seu evangelho. Não queiramos permanecer como alguns dos discípulos que dizem: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” (Jo 6,60). Quantos vivem nesta dureza de coração e já não aceitam o que Jesus nos ensina sobre o matrimônio: “…os dois serão uma só carne” (Ef 4,31), profanando seu lar com traições, com violência, com abandono. Os lares cristãos são chamados a ser lugares dos quais se irradia para o mundo o suave odor de Cristo através da solicitude da esposa para com seu esposo; através do amor do esposo para com sua mulher; e do amor destes para com seus filhos; e da obediência e respeito destes para com seus pais.

Diante de Nosso Senhor Jesus Cristo somente temos dois caminhos a percorrer: o da incredulidade ou o da fé. Temos que tomar uma decisão acerca de quem queremos servir. O estilo de vida pagão, mundano, nos faz servidores dos ídolos e nos faz percorrer o caminho da incredulidade. Enquanto que, o caminho da fé, nos faz servidores de Cristo, fora do qual não há salvação. Como professa Simão Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68).

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Js 24,1-2a.15-17.18b / Sl 33 (34) / Ef 5,21-32
Evangelho: João 6,60-69