XXII Domingo do tempo comum

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“Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos” (Lc 14, 14)

Por nossa natural inclinação humana sempre buscamos reservar para nos mesmos o melhor. Queremos sempre ocupar o primeiro lugar, a melhor comida, o melhor quarto, o melhor salário, o reconhecimento dos outros, o lugar de destaque, a melhor posição social. Coisas que em si não são más, mas que podem ser a causa da nossa ruina. Sobretudo quando esta tentação de querer estar em primeiro lugar nos leva a recorrer a meios espúrios para se alcançar o que se quer.

Esta tendência em querer ocupar o primeiro é também danosa quando desvia a nossa atenção do que é essencial, o bem, os pobres, os necessitados, os fracos, os doentes, a centralidade de Nosso Senhor Jesus Cristo em nossa vida. Aqueles que foram convidados para a refeição na casa do chefe dos fariseus, deveria ter primado pela convivência fraterna, pela partilha. No entanto, estavam preocupados em ocupar um lugar de evidência, em massagear o próprio ego ocupando os primeiros lugares. Talvez sequer se deram conta da presença de Nosso Senhor que ali estava. Quantas pessoas hoje, bem sucedidas, chegam a ocupar cargos de importâncias, mas num dado momento se dão conta que sua vida não tem sentido. Porque muitos na ânsia do sucesso profissional simplesmente deixaram sua fé de lado, abandonaram a Igreja, a Eucaristia, os sacramentos, a oração.

Nosso Senhor, atento a tudo que passa a sua volta, logo percebeu a atitude dos soberbos, dos orgulhosos que em tudo querem ocupar o primeiro lugar, em tudo querem ser honrados. Vendo isto Jesus nos aponta um caminho bem diferente. Nos indicando que somos muito mais felizes quando os outros nos conduzem aos primeiros lugares.

Esta imagem do dono da casa que chama o convidado a ocupar o primeiro lugar nos remete a imagem da salvação. Quantos que passam esta vida correndo atrás de ocupar os primeiros lugares, inclusive usando de meios injustos para tal: violência, mentira, corrupção, suborno, desprezo para com a família; mas que diante de Deus são os mais desprezíveis dos homens. Outros que procuram ocupar os primeiros lugares por meios legítimos, mas o fazem ignorando a presença de Nosso Senhor em suas vidas.

De nada adianta ao homem ocupar os primeiros lugares nesta vida, se vier a perder o Reino dos céus, a salvação, “a recompensa na ressurreição dos justos”. Não são poucos os que se levantam com esta prepotência, como temos presenciado o ditador comunista da Nicarágua massacrando a Igreja, perseguindo e lançando na prisão bispos e padres. Porque não aceita ser denunciado quanto ao seu modo autoritário de manter o poder o primeiro lugar. À exemplo dele vemos levantar-se também aqui no Brasil políticos, candidatos a altos cargos, tecendo ameaças gratuitas contra a Igreja, contra os sacerdotes, caso venha a ser eleito presidente. Mas Deus é maior, é Aquele que reserva para os pobres e indefesos o primeiro lugar no seu Reino.

Como nos diz a Palavra de Deus: “Para o mal do orgulhoso não existe remédio, pois uma planta de pecado está enraizada nele, e ele não compreende” (Eclo 3, 30). Peçamos a Deus que nos livre deste mal, que tem sido a causa da ruína de muita gente e do sofrimento de tantas outras. Foi este mesmo desejo incontrolado de querer ser o maior, o que ocupa o primeiro lugar, que levou nossos primeiros pais, Adão e Eva à ruína, ao caírem na tentação de querer ser como Deus (cf Gn 3, 5).

Há muitos em nosso tempo que também querem ser como deuses, acima do bem e do mal, acima da verdade, estabelecendo leis e ideologias contrárias a Lei Divina, contrárias à natureza humana. Homens e mulheres orgulhosos e sedutores que arrastam atrás de si para a ruína muitos de nossos jovens e adultos, através de músicas, espetáculos escandalosos e ridículos; através de ideias corrompidas e de um modelo de vida perverso e pervertido.

Não deixemos nos iludir por aqueles que ocupam os primeiros lugares, seja na política, nas paradas de sucesso, no ibope, no número de “seguidores”. Pensemos nos ditos influencers digitais, muitos entre os quais, para ocuparem o primeiro lugar tem vendido suas almas ao demônio, propagando mentiras, ódio e um estilo de vida vazio e sem sentido. Entram em nossas casas e roubam das pessoas, sobretudo, crianças e jovens, os valores do evangelho, substituindo-o por um jeito de ser esquisito, desordenado, ridículo.

Por fim, ao invés de gastarmos a vida querendo ocupar os primeiros lugares, ou seguindo os que ocupam os primeiros lugares neste mundo, o Senhor nos convida a procurar a felicidade tendo um olhar voltado para os que ocupam os últimos lugares: “Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz!” (Lc 14, 13). O Sentido da vida não está em ocupar os primeiros lugares, mas em procurar a recompensa “na ressurreição dos justos” (Lc 14, 14). A procura desta recompensa passa por uma vida simples, humilde, atento em socorrer aqueles que ocupam os últimos lugares neste mundo e aberto a acolher Àquele que ocupa o primeiro lugar no céu é quer ocupara o primeiro lugar em nosso coração – Jesus Cristo, Nosso Senhor.

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Eclo 3, 19-21.30-31/Sl 67 (68)/Hb 12, 18-19.22-24a
Evangelho: Lc 14, 1.7-14