XXIII Domingo do tempo comum

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“Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 27)

O evangelho de hoje nos faz um forte apelo ao seguimento de Jesus, nos convidando a ser discípulos do Senhor, com uma adesão que envolva a totalidade do nosso ser. Certo é que recebemos a graça da filiação divina no batismo, no qual recebemos também a graça da redenção. No entanto, nem sempre nos damos conta da alta dignidade que carregamos.

Dado o esfriamento na fé, o desânimo, às fraquezas e pecados pessoais, pode ocorrer que alguém vá passando da condição de discípulo de Jesus para a situação de alguém que apenas O acompanha. Cabe a cada um examinar a si mesmo para ver em que situação se encontra: a de alguém que acompanha Jesus ou se de fato leva uma vida de discípulo?

O evangelho de hoje nos fala de multidões que acompanhavam Jesus (v. 25). Mas no meio desta multidão poucos eram discípulos, porque nem todos ali estavam dispostos a renunciar a si mesmo, a tomar a cruz, a caminhar atrás de Jesus, a desapegar-se deste mundo. Condições imprescindíveis para quem quer fazer-se discípulo do Senhor.

Esta realidade descrita pelo evangelho permanece ainda em nossos dias. Também hoje são muitas as multidões que acompanham Jesus, que enchem as igrejas, que falam em seu nome, que se dizem cristãos católicos. Mas poucos são os discípulos, porque são poucos os que aceitam seu evangelho, que estão dispostos a deixar-se guiar pelos mandamentos divinos, a romper com o pecado e com as seduções mundanas.

Apenas acompanhar Jesus não é suficiente para nos colocar num caminho de salvação. O cristão católico não pode ser apenas alguém que acompanha Jesus, que acompanha as missas, a Igreja. Destes o mundo está cheio. Pessoas que acompanham Cristo, as missas, a Igreja, mas que seguem o mundo, que ao invés de obedecer o evangelho, querem impor o “seu jeito de ser”. Enquanto o discípulo é aquele que adere de corpo, alma e coração, a jeito de ser de Jesus.

Quem acompanha Nosso Senhor, mas segue o mundo é um escravo do mundo, não um discípulo de Jesus, não um seguidor do Evangelho. Somente acompanhar Jesus, as missas, a Igreja não é suficiente. É preciso segui-Lo, deixa-Lo moldar a nossa vida, obedecê-Lo, testemunhá-Lo pela busca de uma vida santa.

Para um discípulo de Jesus não basta acompanhar as missas, é preciso vive-la com boa disposição, com dignidade interior e exterior, procurando nos preparar bem para este grande encontro com o Senhor a cada domingo, ou mesmo diariamente. Procurando confessar-se antes, quando preciso for; procurando vestir-se com pudor e dignidade, participando com atenção. Se possível, com um livrinho com o rito da missa para poder acompanhar melhor os ritos.

Não podemos nos acostumar em apenas acompanhar a missa de qualquer jeito, sem se preparar, se vestindo de qualquer jeito (como ditam as modas), mascando chiclete, chegando atrasado, saindo antes da hora; falando ao celular, conversando durante a celebração, sem recolhimento interior. Estas posturas agridem o Senhor e os demais fiéis, além de revelar que não temos amor algum a Nosso Senhor. A Eucaristia é Cristo, sem as devidas renúncias e sacrifício não temos como viver este grande mistério. Tais posturas, elencadas acima, são próprias de quem apenas acompanha o Senhor, mas ainda não está disposto a segui-Lo a fazer-se discípulo.

Ninguém está obrigado a ser católico, a ser discípulo de Jesus. Mas todos somos convidados a sê-lo. É o Senhor quem nos convida: “Se alguém vem a mim, mas não se desapega… não carrega sua cruz… não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 25-33).

Somos muito dóceis em aceitar as condições que o mundo nos impõe, aderindo a tudo quanto é tipo de ideologias, modas pagãs, costumes depravados, vícios, pecados. Mas até que ponto estamos dispostos a aceitar as condições que o Senhor nos pede? De nos desapegar deste mundo com seus enganos, de carregar a cruz, o sofrimento sem se rebelar contra Deus, sem perder a fé; de caminhar atrás de Jesus, ao invés de gastar a nossa vida correndo atrás de pecado ou acomodados numa vida pagã.

Nosso Senhor Jesus Cristo é o Deus vivo, não é um doente para precisar de acompanhantes. Ele é Senhor, portanto, precisa de discípulos que se deixem guiar na vida por seu amor, por sua vontade, por seu evangelho, pelos seus mandamentos. Não basta, pois, acompanhar o Senhor, as missas, a Igreja, é preciso entrar no mistério de Cristo, deixando que Ele nos transforme em homens novos.

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Sb 9.13-18/Sl 89 (90)/Fm 9b- 10.12-17
Evangelho: Lc 14, 25-33