“… permaneçamos firmes na fé que professamos” (Hb 4,14)

Como é atual a seguinte exortação da Carta aos Hebreus: “permaneçamos firmes na fé que professamos” (Hb 4,14), a fé que um dia recebemos da Igreja, una, Santa, católica e apostólica. Estamos vivendo um tempo de grave engano e confusão no que diz respeito à fé, que tem arrastado muitos católicos para a apostasia, para a indiferença ou para vivência inoperante da fé.

Todos os dias batem às portas das nossas famílias diversos aventureiros procurando arrancar a fé das pessoas, afim de atraí-las para falsas doutrinas, que prometem prosperidade e sucesso nesta vida e a glória na vida futura. Muitos católicos mal formados, sem compromisso com a Igreja, com o Evangelho e com o seu batismo, são atraídos por tais propagandas enganosas. Precisamos, pois permanecer firmes na fé que professamos. Cientes que a fé que não se professa na oração, na caridade, na vida sacramental, na pertença à Igreja, está condenada a apagar-se.

Permaneçamos firmes na fé que professamos para que não sejamos arrastados pela ventania da apostasia, do cisma, da heresia ou do mundanismo, que tem entrado em muitos lares, outrora católicos, causando confusão, divisão entre os familiares, indiferentismo religioso e discussões inúteis. O Senhor não precisa de discípulos apenas de nome, mas de fato, cristãos que estejam dispostos a viver o que o mestre viveu, não obstante as limitações que carregam.

A ventania da heresia, do cisma, da apostasia, da indiferença, ameaça a fé fraca de muitos católicos que não se preocupam em conhecer a doutrina da Igreja, que não buscam conhecer o tesouro que recebeu no seu batismo: que em Nosso Senhor Jesus Cristo temos graça e salvação. Que Ele, somente Ele, pode salvar as nossas vidas.

Não troquemos nossa fé por nada, ela é a luz que nos conduz em meio à escuridão da história presente. É pela fé que opera pela caridade, e que recebemos da Igreja, que seremos salvos. Pela fé podemos conhecer Aquele que nos conhece – Nosso Senhor Jesus Cristo. Não somos um desconhecido para o Senhor, Ele morreu pela nossa salvação. Não permitamos que Ele seja um desconhecido para nós. O Senhor nos conhece tanto que se fez um de nós: “…pois ele mesmo foi provado em tudo. Como nós, com exceção do pecado” (Hb 4,15).

No Cristo, Vivo e Ressuscitado, que foi crucificado para nossa salvação, encontramos misericórdia e graça. Tesouros inestimáveis sem os quais não podemos ser libertos da condição de pecado e da morte. Sem a misericórdia e a graça, estaríamos destruídos por nossas quedas, pecados, traições e misérias. Estaríamos à mercê das ciladas do demônio.

A misericórdia e a graça de Deus derramadas na vida do pecador são proporcionais à sua miséria. Não é por acaso que São Paulo nos diz: “Onde, porém, se multiplicou o pecado, a graça transbordou” (Rm 5,20). Isto é extraordinário, a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo transborda na vida do pecador que humildemente se arrepende dos seus pecados. A graça de Cristo transborda na vida daquele que denuncia os seus pecados com sincero arrependimento na confissão. Quantas vidas, diariamente, são radicalmente transformadas e libertas diante desta misteriosa experiência sacramental da reconciliação.

Ademais, permanecer na fé que professamos, requer a disposição interior para percorrer o mesmo caminho de Jesus, estar disposto a beber o cálice que Ele bebeu e a receber o batismo que Ele recebeu. O cálice da obediência até o derramamento do seu sangue. O batismo da fidelidade, da entrega, do sacrifício de si, por obediência ao Pai e por amor ao homem pecador.

Permanece na fé que professamos aqueles que compreendem que diante de Nosso Senhor Jesus Cristo é grande não quem tem mais poder, mas o mais humilde, o mais obediente, o que mais serve aos seus irmãos, o mais desapegado de si e dos seus bens. O poder do crente não vem das estruturas deste mundo, mas da total obediência ao seu Senhor, no carregar os seus mesmos sentimentos. Permaneçamos, pois, firmes na fé que professamos, permaneçamos na Igreja e com a Igreja, pois “as portas do inferno não prevalecerão contra Ela” (Mt 16,18).

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Is 53,10-11 / Sl 32 (33) / Hb 4,14-16
Evangelho: Marcos 10,35-45