“…Eu esperava deles frutos de justiça – e eis a injustiça; esperava obras de bondade – e eis a iniquidade” (Is 5, 7)

Amados irmãos e irmãs, somos a vinha do Senhor plantada neste mundo, para produzir frutos de justiça e de bondade, somos sua herança e Ele é a herança nossa. Se somos a vinha do Senhor, temos sempre que nos perguntar: o que Ele espera de nós? Ele nos cerca de carinho, de proteção, de cuidado, nos auxilia com a sua graça para produzirmos os frutos de caridade que Ele espera de antemão.

Somos o novo povo de Deus, o novo Israel, a Igreja do Senhor, somos sua vinha, Ele nos escolheu para que lhe pertençamos. De modo que Deus espera de nós que sejamos um reflexo luminoso do seu amor e da sua misericórdia no mundo. Ele espera que nos ocupemos: “com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor” (Fl 4,8). Em suma, Deus espera de nós frutos de justiça e de bondade.

Assim, como temos expectativas sobre nós, sobre os outros e sobre Deus, o Senhor tem expectativas sobre nós. Pois aquele que planta uma vinha tem a expectativa de, no tempo devido, vir a colher os seus frutos: “Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos” (Mt 21,34). Que tipo de frutos temos produzido? Sejamos vigilantes! O Senhor da vinha virá nos visitar, que frutos temos para lhe oferecer? Justiça, bondade, honra, verdade, respeito, pureza, amabilidade, partilha, reconciliação, virtude? Ou os frutos chochos dos vícios, dos pecados, da falta de fé, da ambição, da luxúria, do esbanjamento, da ostentação, da injustiça, da inveja, da usura, da mentira, do engano, dos excessos?

O que esperamos dos outros? É comum esperarmos demais dos outros e de Deus. Quando esperamos demais das pessoas geramos expectativas que são como um fardo pesado sobre elas e um poço de decepção para nós. Neste sentido precisamos ser um pouco mais livres, esperar mais de Deus e de nós mesmos e menos dos outros. Senão acabamos por cobrar muito dos outros e muito pouco de nós mesmos. Não podemos passar a vida gastando energia tentando fazer os outros melhores. Porque os outros não temos tanto poder de mudar, a nós mesmos sim, podemos mudar e deixar ser mudado pela graça de Deus. É muito salutar estar mais atentos ao que Deus e outros esperam de nós, do que aquilo que esperamos dos outros.

De Deus sim, podemos esperar muito, porque Ele nunca abandona a sua vinha. Ele está sempre pronto para nos dar aquilo de que precisamos, não o que lhe pedimos. Nos sustenta durante a peregrinação neste mundo turbulento, enquanto nos prepara o seu reino celeste. Mas a fé exige que respondamos aos cuidados do Senhor, produzindo os frutos que Ele espera de nós, para que o seu reino não nos venha a ser tirado. “Por isso, eu vos digo: o Reino de Deus vós será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos” (Mt 21,43).

O Senhor nos dá o seu reino, apenas nos pede que possamos dar ao mundo um pouco de bondade, de misericórdia, de justiça, de piedade, de amor, de partilha. Estamos no mundo, porém os valores que norteiam nossa vida, nossas escolhas, nossas ações, nossas palavras, são os valores do reino.

Não deixemos que o reino nos seja tirado, porque negamos os seus valores aos outros, porque viramos as costas para aqueles que necessitam da nossa ajuda. Pois a fé que salva é aquela que opera pela caridade: “Com efeito, em Jesus Cristo, o que vale é a fé agindo pelo amor…” (Gl 5, 6). Uma fé que brada aos céus com glórias e louvores, mas é incapaz de ouvir os gemidos dos pequenos é uma fé inútil. Bem como é a fé que se debruça sobre o sofrimento dos pequenos, mas é incapaz de escutar os apelos de Deus. Uma fé impelida pela caridade tem coração aberto para acolher os apelos de Deus e ouvidos atentos para escutar o gemido dos que sofrem.

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Iz 5,1-7 / Sl 79 (80) / Fl 4,6-9
Evangelho: Mt 21,33-43