“Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?” (Mc 10,17)

Entre todos os desejos do ser humano nenhum se iguala ao desejo de eternidade. Não é por acaso que parte expressiva do empenho científico passa pela busca de encontrar medicamentos, procedimentos que sejam capazes de prolongar o máximo possível a vida humana sobre a terra. Há inclusive seitas que congelam os corpos dos seus membros na expectativa de que um dia a ciência possa encontrar o meio para revivificar tais corpos.

Estas e tantas outras práticas resultam do desejo de eternidade que o homem carrega no seu coração. Este é um indicativo de que fomos feitos para a vida eterna. Não é por acaso que um desconhecido se aproxima de Jesus e lhe apresenta a seguinte inquietação: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?” (Mc 10,18). Jesus não lhe respondeu de imediato, lhe devolve uma outra pergunta: “Tu conheces os mandamentos?” (Mc 10,19). O desconhecido dá provas de que não somente conhece os mandamentos, mas os observa desde a sua juventude.

Mas Jesus lhe pede algo mais: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me” (Mc 10,21). Diante disto encheu-se de tristeza e foi-se embora abatido. Pois não compreendeu que o seguimento de Jesus Cristo não se resume numa vida moralmente reta, ele exige a renúncia de si, o socorro dos pobres, a expectativa do céu, da vida eterna.

Este desconhecido do evangelho não compreendeu, como muitos contemporâneos, que o desejo da vida eterna, a sua conquista, implica pôr-se em ruptura, tornar-se livre diante dos bens caducos deste mundo e pelo seguimento de Jesus Cristo. Os mandamentos divinos são importantes, mas somente tem um sentido, quando nos transforma em discípulos de Jesus Cristo. Quando nos tornamos discípulos de Jesus os mandamentos divinos deixam de ser um peso.

Quantos homens e mulheres moralmente virtuosos em nosso tempo, às vezes até muito mais virtuosos do que muitos que carregam o nome de cristãos, mas cuja esperança se limita aos horizontes terrenos, não se abrem para acolher Jesus Cristo pela fé. A moral por si mesma não pode nos dar a vida eterna. Esta é um dom gratuito de Jesus Cristo para aqueles que O acolhem na fé. Assim sendo, é imperfeita a experiência dos virtuosos que não se abrem a Cristo pela fé, como também é deficiente dos que se decidem pelo Senhor, mas não procuram crescer em virtude.

Fora Dele não temos acesso à vida eterna. É Nele que encontramos a vida eterna, Ele é a vida eterna. Logo, não é num laboratório, não é no ascetismo ou na observância de uma lei que iremos saciar o desejo de vida eterna que carregamos em nosso interior. Mas aderindo a Nosso Senhor Jesus Cristo pela fé e testemunhando-O pela caridade conseguiremos aquilo que desejamos – a nossa salvação. A vida eterna não é objeto de uma conquista científica. A ela conquistam os simples e humildes de coração que aderem a Jesus Cristo pela fé.

Para o homem é impossível alcançar por si mesmo a vida eterna e a salvação, mas em Cristo isso se faz realidade: “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível” (Mc 10,27). Dentro daquilo que é moralmente lícito, é honroso que o homem procure, através da ciência, encontrar caminhos para minimizar as enfermidades, dores e mazelas humanas, sem, no entanto, deixar-se levar pela soberba de querer alcançar aquilo que somente Deus pode nos dar em Seu Filho Jesus Cristo.

Por ora, estamos na vida presente, e no mundo presente, na vida que passa. Mas pela fé desejamos já agora a vida futura, que habita em nós pela graça. Estamos no mundo presente, mas, em Jesus Cristo, esperamos o mundo futuro. Por conta dos nossos pecados estamos ainda sujeitos a uma vida que passa, mas por Cristo, com Cristo e em Cristo aguardamos esperançosos a vida eterna. Enquanto aguardamos a realização definitiva de tais promessas, somos chamados a ordenar as coisas deste mundo segundo Deus. Usando dos bens, dos talentos para socorrer os pobres, os pequenos, para consolar os aflitos, para levar à luz da fé os que se encontram na incredulidade.

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Sb 7,7-11 / Sl 89 (90) / Hb 4,12-13
Evangelho: Marcos 10,17-30