“Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé” (Lc 21, 13)
Paira sobre o mundo, no momento presente, como em todas as épocas, uma nuvem escura de confusão, de ideologias, de messianismos políticos baratos e enganadores, de guerra, de instabilidade econômica e política, de carestia, do surgimento de falsos profetas e religiões falsas. Diante deste cenário muitos ficam desanimados, com medo, ou terminam por colocar sua esperança de onde não pode vir socorro algum: a violência, o fundamentalismo, os líderes políticos que se apresentam como ‘salvadores’. Nestas realidades não podemos encontrar salvação, elas são tão passageiras como o vento.
Antes de nos amedrontar e deixar nos paralisar pelo medo, somos chamados, como discípulos de Jesus, a viver este tempo como oportunidade para testemunhar a nossa fé. Vejam que o evangelho de hoje descreve um cenário catastrófico, marcado por guerras, revoluções, perseguições aos que creem na promessa divina, conflitos entre famílias. Mas não para incutir o medo e o desespero, antes para chamar os crentes à esperança: “Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé” (Lc 21, 13).
Quanto mais densas e escuras as nuvens do mal e da confusão, mais necessária se faz a luz da fé. É permanecendo fiéis a Nosso Senhor Jesus Cristo que seremos salvos. Se aderimos a Ele com todo nosso coração e nossa alma, mesmo que nos difamem, nos persigam, nos matem, não perderemos nada. Assim, nos garante o evangelho: “Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça” (Lc 21, 18).
Diante do cenário belicoso que nos encontramos, aguçado pelas questões político-partidárias, mais do que nunca a fé é nosso critério. Oportunamente nos adverte o evangelho: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21, 19). Permanecendo firmes em quem? Em nosso Senhor Jesus Cristo, no seu evangelho, nos seus mandamentos, na fé católica cristã que nos une.
Não deixemo-nos, pois, arrastar pela loucura do tempo presente que tem instalado um clima de desilusão, de desconfiança e de conflito entre membros de uma mesma família, de uma mesma comunidade, de um mesmo clero, entre pastores e fiéis. Pela fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, pertencemos a algo muito maior, ao novo povo de Deus, a Igreja, Corpo de Cristo. Não permitamos que algo muito menor e transitório – o partidarismo político – nos arraste para a loucura e para a divisão entre nós. É hora de voltarmos ao essencial: o evangelho, a fé, os mandamentos divinos, a comunhão fraterna, os sacramentos, a partilha dos bens materiais e espirituais.
Repito, nossa esperança e nossa salvação é o Senhor, a Ele compete a justiça, a Ele compete o julgamento, a Ele compete a vitória sobre toda espécie de mal. Esta é nossa esperança como nos indica o salmo: “O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça julgará” (Sl 97, 9). Por mais justos que sejamos, nossa justiça é insuficiente para estabelecer o bem no mundo. A justiça suficiente é somente aquela que se manifestou na cruz, dizendo: “Pai, perdoa-lhes: não sabem o que fazem” (Lc 23, 33).
Voltemo-nos então para a justiça que nos salva, o tempo é de crise, mas esta é a ocasião para testemunharmos a nossa fé, de permanecermos firmes, nos valores inegociáveis do evangelho. Guerras, convulsões políticas, crises, perseguições vão e vem “neste vale de lágrimas”. Mas somente o Senhor permanecerá para sempre, e “eis que virá o dia, abrasador como fornalha, em que todos os soberbos e ímpios serão como palha; e esse dia vindouro haverá de queimá-los...” (Ml 3, 19 – 20ª). Portanto, a justiça que salva o mundo do mal, do ódio, da violência, da corrupção, vem de Deus, está muito acima das instabilidades e incertezas deste mundo.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Ml 3, 19-20a/Sl 97 (98)/ II Ts 3, 7-12
Evangelho: Lc 21, 5-19