Para os antigos, o sábado era o dia do descanso, mas também de louvor a Deus. Toda doutrina do Antigo Testamento valorizava esse dia como revigoramento da vida, física e espiritual. Mas o rigorismo vigente levou a práticas muito ritualistas e legalistas, dificultando um trajeto de liberdade como era previsto. Ele então passou a ser descaracterizado como fonte de vida em Deus.
Mas recordava o fim da escravidão do povo de Israel no Egito. Era momento de celebrar a libertação, de agradecer pela ocupação da terra prometida na realização da Aliança que Javé havia feito com Abraão. Após longa caminhada histórica, vivendo novos tempos, o povo ia ao Templo no sábado para manifestar sua gratidão e sua alegria por ter vencido uma etapa de vida e de sofrimento.
De qualquer forma, o sábado era a marca da criação ao dizer que Javé, após seis dias de trabalho, teve um momento de descanso, de restauração de forças. No Novo Testamento, o sábado ficou como fim de semana e a ressurreição de Jesus aconteceu no dia seguinte, fora do tempo, para dar uma dimensão de eternidade. Com isso o Dia do Senhor veio ocupar a primeira feira do calendário.
Para superar o legalismo sabático judaico, Jesus fez questão de curar pessoas em dia de sábado. Ele quis então desmontar uma estrutura caduca e vazia praticada nesse dia, que era causa de opressão e exclusão. Os cultos sabáticas não passavam de ritos excludentes e separados da vida concreta daquele tempo. Foi criado para recuperar força e libertar, mas acontecia o contrário.
Nos dias atuais celebramos o domingo, dia de descanso e de revigoramento da vida espiritual, mas com os mesmos perigos de esvaziamento de seu ritual como no sábado da criação. Prestamos pouca atenção na profundidade que ele tem como Dia do Senhor e expressão da ressurreição de Jesus. É o perigo das liturgias sem conteúdo e com criatividades carentes de espírito cristão.
Tanto no dia de sábado como no de domingo sempre houve possibilidade das pessoas se aproximarem do Criador. A estrutura humana necessita logicamente de repouso para se libertar dos limites que dificultam a plenitude da vida. Temos perdido muito nos valores que se referem ao santificar o Dia do Senhor, inclusive na convivência familiar, nos desencontros e pouca oportunidade celebrativa.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba