O que significa amar?
Em sentido mais profundo sabemos o que significa amar porque Deus nos amou por primeiro. De modo que, na sua essência, o amor é Deus que ama o homem pecador. Como encontramos nas Sagradas Escrituras: “Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Neste sentido, amar é Deus que nos ama sem merecimento algum da nossa parte. Se hoje podemos amar é porque Deus nos comunicou o seu amor em Seu Filho – Nosso Senhor Jesus Cristo. Por nós mesmos não temos condições de amar por muito tempo nem de forma ordenada. Se conhecemos a Deus podemos amar, pois para Ele, conhecer é amar: “Aquele não ama não conheceu a Deus, porque Deus é Amor” (IJo 4, 8).
Tanto que um dos grandes problemas do homem não é amar. Porque sempre amamos algo ou alguma coisa. A questão é o que amamos e como amamos? Quando se introduz uma desordem nos amores, caímos na experiência do pecado, que Santo Agostinho define como uma inclinação para as criaturas e um afastamento do Criador. Assim, ele diz: “O pecado é o amor às criaturas até o desprezo de Deus”. Se não estamos enraizados no amor de Nosso Senhor, passamos a amar mais as criaturas do que a Deus. Certo que temos que amar as criaturas, mas segundo Cristo. Pois o amor desordenado é o pecado, o amor contrariado é o ódio, o amor incondicional é o verdadeiro amor. Aquele que se contenta mais em amor do que ser amado.
O amor no sentido originário é Deus mesmo em sua natureza: “E nós temos reconhecido o amor de Deus por nós, e nele acreditamos. Deus é Amor: aquele que permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele” (IJo 4, 16). Então, para nós, amar é uma consequência da inabitação do Espírito Santo em nós. Amamos porque Deus nos amou por primeiro, afirma São João: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele quem nos amou e enviou-nos o seu Filho com vítima de expiação pelos nossos pecados” (IJo 4, 10). Noutras palavras, o amor é Deus que ama o homem pecador.
Sem Nosso Senhor Jesus Cristo, sem sua encarnação, sem o seu mistério pascal, não conheceríamos o amor. Foi Nosso Senhor quem nos deu a conhecer o amor: “Nisto se manifestou o amor de Deus por nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo para que vivamos por ele” (IJo 4, 9). Este amor Ele nos comunicou para que pudéssemos viver. É nesta linha que São João Maria Vianney concluiu que: “a mais bela vocação do homem é servir e amar”. É o amor que sustenta a vida do homem, que o sustenta e o mantém na vocação à qual foi chamado: sacerdócio, matrimônio, vida religiosa, vida consagrada.
O que significa servir?
Servir, em certo sentido, é praticamente uma derivação de amar. Aliás, assim como o grande serviço de Cristo ao mundo foi ama-lo até as últimas consequências, a missão de cada cristão no mundo é amar. Sem amor ninguém pode ser servo. Num mundo marcado por ódio, violência, perseguição, discórdia, egoísmo, ambição, o amor é um autêntico serviço de salvação. Se não amamos não servimos, porque o amor é o serviço do cristão ao mundo.
Um amor que se revela no comprometimento sincero, perseverante com Deus, com o próximo e consigo mesmo. Assim nos adverte Jesus: “Entre vós não será assim: ao contrário, aquele que dentre vós quiser ser grande, seja o vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos” (Mc 10, 43). Fazer-se servo no amor, do amor e por amor, no matrimônio, no trabalho, no apostolado, no sacerdócio, na vida religiosa.
Como servir?
Na humildade, simplicidade, na gratuidade, alegria e exclusividade. Quando nos dispomos a qualquer vocação ou missão na Igreja e no mundo se não tivermos humildade, nos tornamos senhores, tiranos, não servos. O modo de servir do cristão exige a humildade. Aprendamos com Maria, a “humilde serva do Senhor”. A este respeito nos exorta São Pedro: “Revesti todos de humildade em vossas relações mútuas, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (IPd 5, 5).
Servir com simplicidade, sem valer-se disso para o enaltecimento de si mesmo. Se ocupo um lugar de destaque ou não, faze-lo com a mesma alegria. À exemplo de alguém que era coordenador, agora já não o é mais, no entanto, continua seu apostolado com o mesmo entusiasmo, porque o importante não é a função com a qual se ocupa, mas servir com o amor e por amor.
Somos ainda chamados a servir a Deus na gratuidade, movidos por amor, não por elogios ou por reconhecimento humano. Muitos se colocam à serviço na Igreja ou noutras instâncias, e dentro de pouco tempo encontram se decepcionados porque não receberam reconhecimento humano da parte de ninguém. Quando servimos por amor, independente de elogios ou reconhecimento humano, encontraremos razão para continuar servindo com humildade simplicidade, alegria e exclusividade.
O nosso amor e serviço a Deus exige uma exclusividade, pois não podemos servir a dois senhores: “Ninguém pode servir a dois senhores: com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16, 13). Quantos católicos ficam divididos quando convidados a algum serviço de apostolado na Igreja, porque não querem deixar a futebol, a rodada de cerveja, o comodismo, as horas inúteis na frente da televisão ou do celular. Outros preferem abandonar a Igreja em troca de ingressar na maçonaria ou noutras realidades que se opõem à fé cristã. Quando nos dispomos a servir com amor, certamente enfrentaremos incompreensões, desalento, medo, incapacidade, mas não podemos nos valer disso para olhar para trás. Assim, nos exorta o Senhor: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus” (Lc 9, 62).
Por fim, o grande ideal da vida cristã neste mundo é servir a Deus e aos outros no amor, na caridade por toda a vida, não apenas por um tempo. Porque o amor é o grande serviço do cristão no mundo, uma vez que está enraizado em Nosso Senhor Jesus Cristo, cuja missão é uma missão de amor.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF