Os filhos crescem.
O tempo é impiedoso. Passa rápido.
Roubará de nós as fraldas, as papinhas, os chazinhos, o termômetro, os banhos longamente cantarolados, as mãozinhas dependentes das nossas, as noites mal dormidas, os sorrisos sem motivos, o olhar apaixonado na amamentação, os tropeços nos brinquedos espalhados, as tentativas das primeiras palavras, os corpos que se fundem dividindo o pequeno espaço na cama, o peito que abriga aquele soninho rápido que é capaz de parar os minutos como mágica. O tempo roubará a “mulher maravilha”, a heroína poderosa que nos tornamos quando somos mães, capazes de solucionar todos os problemas com um beijo, de estar em dois lugares ao mesmo tempo, de voar quando escuta um grito, de ser elástica e fazer um tanto de coisas enquanto troca uma fralda, de não sentir dores físicas nem adoecer, afinal mãe não adoece. E se adoece, a “mulher maravilha” não! É incrível!
O tempo nos roubará os tombos, os choros, os consolos que só o nosso colo pode oferecer, os beijinhos nos pés, o voltar a ser criança, as canções de ninar, os batons borrados pelo rosto todo, as carinhas “ lerdas” de quem fez algo errado, os cortes de franjas mais inusitados, os rostos cortados pelas “barbas feitas” e as pernas sangrando porque foram “depiladas”, as histórias, os lápis na mão, as emocionantes apresentações escolares, as mãozinhas postas na hora de dormir, os “eu te amo” a toda hora.
O tempo ousa nos “roubar” tudo, mas jamais terá o poder de nos “roubar” as lembranças que nos acompanharão até o último suspiro, a certeza de que tudo valeu a pena e de que morreremos mulheres lutando para continuarmos “maravilhas”, porque a maternidade faz amadurecer em nós o sentido definitivo da nossa vocação: a doação total de nós mesmas.
Cada filho, gerado de forma única e irrepetível, chega para nos relembrar que o tempo não tem a última palavra e poderá ser renovado e vencido em cada nova experiência que há de vir. E podemos lançar sobre ele um novo olhar, não mais de um ladrão que nos “rouba” momentos tão preciosos, mas de um professor zeloso que nos “devolve” as lições que necessitam ser estudadas com mais atenção. Quando o tempo se torna um aliado, somos capazes de viver cada detalhe dessa experiência indescritível de ser mãe com toda a intensidade de nossa alma porque sabemos que ele nos cobrará a tarefa de casa se não for assim, mas que também poderá nos devolvê-la com um grande elogio: Parabéns!
Os filhos crescem.
O tempo passa rápido. Mas ele não precisa ser impiedoso. Nós é que precisamos vê-lo de um jeito certo, afinal, se ele não existisse, também ficaríamos órfãos de outros belos e importantes momentos: o aparecimento das primeiras espinhas, os conflitos da adolescência, o andar desengonçado, as mudanças no corpo, a preferência pelos amigos, o silêncio perturbador, a inadequação social, o retiro de jovens, a carteira de identidade, a carteira de motorista, o vestibular, o primeiro amor, o término, o sofrimento, a formatura, o primeiro emprego, a vocação sendo descoberta, o desdobramento dos filhos nos netos.
Os filhos crescem. E é uma experiência marcante!
Temos o tempo contra e ao nosso favor, ora impiedoso, ora piedoso. Nesta linda história somos mestras e aprendizes, cuidamos e somos cuidadas. Mas a grande lição que professor Tempo deixa em nós é esta: quando vivemos cada experiência da maternidade intensamente, descobrindo-a como um dom de Deus, nunca temeremos o futuro, porque a “mulher maravilha” que um dia Deus idealizou e confiou um filho Seu sempre será sustentada e amparada por Ele!
Por Kelly Karine Batista Bellei