Antes de falar diretamente acerca da educação na visão cristã católica vale fazer uma breve distinção entre educar e ensinar. Educar tem sempre um alcance muito mais amplo do que ensinar, uma vez que visa a pessoa por inteiro, inclusive na sua dimensão espiritual, no campo dos valores. A educação visa formar a pessoa para a vida, enquanto que ensinar tem uma função mais técnico-pragmática. Consiste em transmitir às pessoas certos conhecimentos e habilidades para executar tarefas bem específicas.
O ensino pode tornar as pessoas muito competentes naquilo que faz sem, no entanto, preocupar-se com sua vocação última, com o sentido da sua vida, da sua existência. O ensino visa formar o profissional, a educação tem a ambição de formar a pessoa. Não é por acaso que o mundo está cheio de pessoas altamente competentes no exercício da sua profissão, mas que não conseguem gerir suas vidas, nas coisas mais pequenas e elementares.
Certo que a educação não se contrapõe ao ensino, porém, o ultrapassa expressivamente. Já que compete à educação comunicar à pessoa também a sua razão de viver, de esperar, o sentido da sua vida, a aspiração do bem, da verdade, do amor, da beleza, da liberdade. Assim sendo, a educação diz respeito ao ser mesmo do homem, educar, segundo as palavras do Cardeal Ratzinger, significa: “abrir a razão para a totalidade da realidade acima e além do meramente empírico”[1].
Este conceito ratzingeriano de educação ultrapassa incomensuravelmente a visão pragmatista do ensino e das propostas educativas contemporâneas que, no máximo, quando conseguem, querem formar um profissional, não o homem, a pessoa. Porque partem de uma visão que reduz o conhecimento apenas àquilo que está acessível aos sentidos. Quando, na realidade, as questões mais profundas que envolvem a vida humana não são acessíveis aos sentidos. Se educar é abrir a razão para a totalidade, significa que ela conduz o homem à uma abertura para Deus, para o transcendente, para a verdade, para o amor.
Dado o alcance do que significa educar a Igreja nunca hesitou em afirmar que a responsabilidade e o direito de educar as novas gerações compete em primeiro lugar aos pais, não ao estado. Princípio este que, em nosso tempo, vem sendo gravemente desrespeitado, afim de satisfazer a pequenos grupos que aparelharam o estado para impor culturalmente suas ideologias, através da instrumentalização das instituições de ensino públicas. Isto tem desvirtuado a função dos processos educativos, que parecem mais estar preocupados em formar militantes político-partidários do que cidadãos bem formados.
Na sua grave missão de educar a família é coadjuvada pela Igreja e precisa ser subsidiada pelo estado, afim de que possa conduzir seus filhos a uma maturidade sólida, fundada na retidão de intenção, na firmeza de vontade e na bondade do coração. Mas jamais os pais podem ser substituídos ou impedidos deste direito. É neste âmbito que cabe aos educadores católicos, sobretudo aqueles que atuam na educação, contribuir para que as famílias possam educar à luz da fé os seus filhos e também para que nossas instituições de ensino não se reduzam à centros de formação de técnicos competentes, mas que sejam capazes de formar para os valores mais perenes.
Quando as instituições desistem de educar e se preocupam apenas em formar técnicos, delas saem apenas pessoas com grande capacidade para fazer a economia e o mercado girarem. Mas para as quais, é muito custoso administrar a própria vida, quanto mais fazer-se servidora da humanidade.
Não resta dúvidas que o progresso social, o estabelecimento de uma sociedade mais justa, mais humana, depende da qualidade da educação oferecida às novas gerações. Urge, pois, a soma de forças e iniciativas entre as famílias, a Igreja e a sociedade, na promoção de uma educação integral, que leve em conta o bem fundamental da pessoa humana e o bem comum. Uma educação que não esteja apenas à serviço de formar profissionais competentes para abastecer a economia e o mercado, como tem se predominado. Muito menos serve uma forma de ensino cujo fim é a doutrinação político-partidária, outro grave desvio, que tem dado origem a uma geração desiludida e vazia.
[1] J. RATZINGER, R.A. ASSUNÇÃO (Org.), A grande Esperança: Textos escolhidos sobre escatologia, Paulus: São Paulo, 20191, p. 61.