Desde o dia em que li, numa obra dedicada à espiritualidade sacerdotal, que nenhum bom retiro deveria ser concluído sem uma boa reflexão sobre a morte, tomei a decisão de concluir cada retiro com uma breve meditação sobre a morte, sem deixar de dar o devido enfoque à vida cristã, entendida como uma preparação para a morte[1]. O mesmo autor ainda conclui que entre as demandas mais exigentes da vida está a preparação para a morte.
Que preparação temos que ter para passar pela morte!? “A nossa morte não se improvisa. Nenhum dos nossos atos demanda mais longa, nem mais cuidada, preparação”[2]. Para se tornar um padre ou uma religiosa, são necessários ao menos dez anos de preparação. Para se tornar um médico ao menos seis anos. Para nos tornarmos adultos são necessários ao menos dezoito anos. Para a morte começamos a nos preparar no dia no qual começamos a viver. Em suma, a preparação para a morte dura o quanto durar a nossa vida.
Vive-se bem quem assume a vida como preparação para a morte. Quem vive assim não se contenta com as aparências, procura ancorar o coração no que é essencial – Deus. Usa com liberdade e moderação os bens que passam, mas abraça de alma e coração somente os bens que não passam. Ama a Deus sobre todas as coisas; em tudo o que faz não procura a sua glória, mas a glória de Cristo, Nosso Senhor. Ama os seus irmãos com desinteresse.
Vivida na fé, a morte, na nova aliança, não tem mais o caráter de um castigo devido ao pecado (cf. Rm 5, 12), mas constitui uma participação no mistério pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Cl 1, 14). Para o cristão, morrer é entregar a vida nas mãos de Deus, como testemunhou Nosso Senhor em sua paixão: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46). Ou como santo Estevão em seu martírio: “Senhor Jesus, recebe meu espírito” (At 7, 59).
Quem vive em Cristo, por Cristo e para Cristo, ao passar pela morte, sua vida não desemboca no nada, mas entra na vida eterna. É fiado nesta convicção que muitos santos disseram, à exemplo de Santa Terezinha: “Não morro, entro na vida”. Ou ainda como São Paulo: “… pois morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3, 2).
Sendo assim, a morte não pode estar fora das considerações mais importantes da vida e um cristão. É importante quem no transcorrer da nossa vida tenhamos o tempo devido para meditar sobre a morte, seja na oração, nos momentos de reflexão e silêncio. Neste sentido a oração das completas é uma autêntica preparação para a morte. Sobretudo na sua conclusão: “O Senhor todo-poderoso nos conceda uma noite tranquila e, no fim da vida, uma morte santa”.
[1] C. GRIMAUD; J. ROLIM (Trad.), A vida Espiritual do Padre Diocesano, União Gráfica: Lisboa, 1948, p. 69; 56.
[2] Idem.