Os frutos da ressurreição
A ressurreição do Senhor é um fato passado cujos frutos continuam atuais, ao mesmo tempo que ilumina a nossa ressurreição futura – no último dia. De modo que a ressurreição do Senhor se realiza no tempo, mas o ultrapassa, na medida que concede ao Senhor a condição de estar além das leis de espaço, tempo e lugar. Assim como podemos ver Ele entrar onde os discípulos estavam com as portas fechadas.
Por extrapolar as leis do tempo, espaço e lugar a ressurreição do Senhor estende os seus frutos aos homens e mulheres de todos os tempos: presente, passado e futuro. Um dos primeiros frutos da ressurreição do Senhor para os seus está a paz: “a paz esteja convosco!”. Esta paz que o Senhor nos dá não se trata de uma paz de espírito, de apaziguamento interior ou exterior.
A paz que o Senhor concede aos seus discípulos é Ele mesmo. O Senhor ressuscitado é a nossa paz. Quando nosso coração repousa Nele temos paz, mesmo que passemos por situações de angústia interior e pelas tribulações exteriores. A paz do cristão é, pois, a sua pertença a Jesus Cristo. Se pertencemos a Ele, nem a morte, nem a vida, nem a dor, nem as perdas, nem a alegria, nem a tristeza nos poderá fazer perder o sentido da vida, porque Ele é a nossa vida.
O Senhor ressuscitado é nossa vida, uma vida nova no Espírito. “Soprou sobre eles o Espírito Santo”. É o Espírito do Senhor que mantém a vida de Deus em nós, para que possamos nos dirigir a Ele como Pai. O Espírito Santo nos dá uma vida nova, para já não mais vivermos segundo o espírito do mundo, que se opõe a Deus e ao seu amor. Onde habita o Espírito de Deus não pode mais haver aliança com o mundo, com o pecado, com a vida velha e fútil de quem não conhece o Senhor.
Junto ao dom do Espírito Santo o Senhor concede aos seus apóstolos o perdão dos pecados, dons sem os quais não é possível a construção do tão sonhado homem novo. Não será nenhuma teoria política, filosófica, sociológica ou religiosa que poderá recriar o homem. O único capaz de transformar o homem a partir do seu interior é o Senhor ressuscitado. Ao conceder ao homem pecador o dom do Espírito Santo para uma vida nova, ao ter derramado o seu sangue para a remissão dos nossos pecados.
Estes frutos da ressurreição tem um alcance não apenas pessoal, atinge também o âmbito social e comunitário, como notoriamente aparece no testemunho da primeira comunidade que partilha entre seus membros não apenas os seus dons espirituais, partilham também seus bens materiais: “Repartia-se então a cada um deles conforme a sua necessidade”.
Talvez hoje não seja possível em tudo uma partilha ao modo da comunidade cristã primitiva. No entanto a partilha entre os que creem no Senhor ressuscitado será sempre um imperativo irrenunciável para a comunidade cristã – a Igreja. Esta partilha pode assumir a forma do comprometimento com o dízimo, porque o dízimo é partilha; o envolvimento e contribuição com as mais diversas obras de caridade sustentadas e promovidas pela Igreja. Também o empenho sincero pela implementação de uma honesta justiça social. Porque um cristianismo que não forma os seus fiéis para a partilha tanto dos dons espirituais quanto dos dons materiais seria um cristianismo mutilado, que sufoca os dons da ressurreição. Enquanto que a missão da comunidade cristã no mundo é manter a luz do Ressuscitado sempre viva.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: At 4,32-35 / Sl 117 (118) / 1Jo 5,1-6
Evangelho: Jo 20,19-31